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Gafe de Brown deve ofuscar debate final das eleições britânicas

Maurício Savarese<br>Do UOL Notícias

Em São Paulo

29/04/2010 07h00

O debate decisivo das eleições britânicas, a sete dias da votação, seria sobre economia. Mas a discussão desta quinta-feira (29) se inclina para discutir a controversa personalidade do primeiro-ministro e candidato do Partido Trabalhista, Gordon Brown. Em uma declaração que pode custar-lhe muitos votos, ele foi flagrado ao chamar de “intolerante” uma antiga militante de esquerda.

Depois de conversar com uma mulher de 65 anos de idade em Rochdale (noroeste da Inglaterra), Brown entrou em seu carro sem perceber que ainda usava um microfone. A conversa particular com um de seus assessores vazou e chegou às TVs de todo o país. "Foi um desastre. Não devia ter conversado com essa mulher. De quem foi a ideia?", perguntou Brown. "Era uma espécie de intolerante".

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  • Assista ao vídeo, em inglês, divulgado pelo jornal "Daily Telegraph", que mostra gafe de Brown

A declaração passou a quarta-feira sendo bombardeada por jornalistas, políticos e analistas. Brown foi à casa da senhora para pedir desculpas, conversou com ela por 45 minutos, mas o tom pouco categórico de suas escusas só causou mais desconforto: “Lamento se disse algo desse tipo”, afirmou. O áudio não deixa dúvidas.

Não há pesquisas divulgadas após a gafe, mas antes disso as sondagens apontavam os conservadores com mais votos no geral, mas com menos assentos que os trabalhistas no Parlamento por conta do complexo sistema eleitoral britânico. No cômputo total, o partido de Brown ficaria atrás até dos liberais-democratas – que poderiam ajudá-los a formar um novo governo. Quem vencerá, no entanto, é uma incógnita.

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Os dois debates anteriores serviram para impulsionar a candidatura de Clegg. O primeiro, sobre política interna, mostrou Brown e Cameron trocando ataques e tentando atrair o apoio dos liberais-democratas, historicamente mais próximos da centro esquerda. Após o avanço do azarão nas pesquisas, a dupla passou a atacá-lo no debate seguinte, sobre política externa. O trabalhista e o conservador melhoraram seus desempenhos, mas o ex-nanico resistiu às críticas e às ironias.

O último debate televisado das eleições britânicas será sobre economia. Nesse campo, o oposicionista Cameron promete bater insistentemente na postura dos trabalhistas na ampliação do déficit orçamentário do país – estimado em US$ 270 bilhões. Por sua vez, o premiê Brown tentará tirar o foco da gafe que cometeu para insistir na tese de que os conservadores não teriam estatizado bancos para evitar o contágio da crise em todo o sistema financeiro britânico. Tampouco os liberal-democratas fariam isso.

Coalizão
Dada a pequena diferença entre os candidatos, o debate pode decidir também se o Reino Unido terá seu primeiro governo de coalizão desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Clegg já rejeitou a possibilidade, mas poderia, segundo analistas políticos britânicos, apoiar tacitamente um governo trabalhista de minoria em troca de uma mudança na divisão dos distritos eleitorais que ajude seu partido.

Quadro eleitoral britânico em 2005

  • ArteUOL

O Reino Unido teve governo de minoria pela última vez há 32 anos. Em 1978, o Partido Trabalhista, que acabara de perder sua maioria, teve de pedir apoio ao Partido Liberal – um dos fundadores do atual ajuntamento liberal-democrata. O acordo saiu, mas não foi oficializado em torno de uma coalizão.

Os três candidatos, em debates anteriores e em declarações públicas, se esforçaram para dizer que apenas a maioria para seu próprio partido será capaz de dar um rumo definido ao país. Mas o medo de desagradar os mercados financeiros em um momento de crise pode levar o país a uma gestão mais pragmática e politicamente viável – um tema que deverá ser repetido na discussão que começa às 16h30 (horário de Brasília).

Após o debate final, os candidatos devem seguir fazendo campanha até momentos antes da votação de 6 de maio. Estão em disputa 650 distritos eleitorais, que indicarão um membro do parlamento cada. O mais votado é eleito – mesmo sem 50% do total – e tem direito de indicar o líder de seu partido como primeiro-ministro.


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