Guerra do Iraque desaparece para candidatos nas eleições britânicas
Política externa raramente tem o poder de decidir eleições, mas será nesta quinta-feira (22) o tema do segundo debate entre os candidatos a primeiro-ministro britânico. Se em 2007 o trabalhista Tony Blair teve de enfrentar os críticos da invasão do Iraque para se reeleger, desta vez os postulantes ao cargo desdenham solenemente da importância do tema na votação de 6 de maio.
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Os líderes David Cameron (conservador), Gordon Brown (trabalhista) e Nick Clegg (liberal-democrata) participarão do debate na TV Sky News às 16h (horário de Brasília). Na semana anterior, os três se reuniram para discutir política interna e Clegg foi visto como o grande vencedor. No dia 29 de abril, a trinca se encontra para o embate sobre a questão-chave da votação: economia.
A questão iraquiana chegou a aparecer na disputa, mas contida na necessidade de o país reduzir seu déficit fiscal, que neste ano deve atingir cerca de US$ 270 bilhões. Melhores estratégias de combate, armamentos menos caros e mais eficientes ou preocupação com as condições oferecidas aos soldados: nada disso questiona as motivações da guerra que acabou com a alta popularidade de Blair.
“Nenhum deles se interessa pelo assunto. Devem ter feito um esforço para juntar argumentos para o debate na televisão. A questão do Iraque ou a posição britânica em relação a Israel e palestinos é irrelevante nas urnas”, disse James Denselow, especialista do King’s College, ao UOL Notícias. “Hoje os trabalhistas dizem que não se pode ficar preso em acontecimentos do passado, a oposição aceita e o jogo segue.”
Ao lançar sua plataforma eleitoral, os trabalhistas, que governam desde 1997, afirmaram que “não existe nenhuma parte do mundo mais importante para a segurança global do que o Oriente Médio”. Mas o Iraque, invadido pelos Estados Unidos em 2003 com ajuda britânica, só é citado no capítulo de gastos. Os conservadores, que deram apoio à guerra, nem citam o assunto. Até mesmo os liberais-democratas, que se opuseram, não são específicos sobre o que fazer na região.
Custo
“A decisão de apoiar a invasão norte-americana foi uma das mais importantes da nossa política externa na última década. Custou mais de 10 bilhões de euros e o sangue de mais de 500 soldados, que morreram ou se feriram. Mas as eleições desprezaram isso. É como se o Reino Unido não tivesse responsabilidade por tudo que aconteceu lá”, analisa Denselow.
Progressistas e conservadores na União Europeia nos últimos anos
De acordo com as Nações Unidas, em janeiro deste ano havia mais de 1,3 milhão de refugiados iraquianos na região, divididos entre Síria e Jordânia. Nos Estados Unidos, na última campanha eleitoral o presidente Barack Obama defendeu “a política da responsabilidade” com os iraquianos – algo que passa longe da votação britânica.
O debate sobre política externa ajudará os eleitores a calibrarem as expectativas sobre seus candidatos. No primeiro debate, o liberal-democrata Clegg ganhou apoio e chegou perto dos 30% das intenções de voto. Brown ficou nesse mesmo patamar e Cameron mantinha leve vantagem. A discussão decisiva deve ser a última, sete dias antes das eleições gerais que indicarão 650 membros do Parlamento.