Adiamento de resultado eleitoral agrava tensão no Egito

Por Tom Perry e Yasmine Saleh

CAIRO, 21 Jun (Reuters) - Suspeitas de fraude levaram nesta quinta-feira a um atraso no anúncio do resultado da eleição presidencial, e a Irmandade Muçulmana, que se diz vencedora do pleito, convocou manifestações contra a junta militar no poder.

Pelo terceiro dia consecutivo, centenas de manifestantes se reuniram na praça Tahrir, no Cairo, epicentro da revolução que derrubou Hosni Mubarak há 16 meses. Eles exigem que os militares transfiram o poder a um presidente civil em 1o de julho, conforme prometido.

Mas há poucos sinais de que isso irá acontecer, depois de o conselho militar dissolver o Parlamento liderado por políticos islâmicos e estabelecer limites rigororos aos poderes do futuro presidente. Dirigentes islâmicos prometeram manter vigílias em praças de todo o país até que suas exigências sejam acatadas.

Após quatro dias de apuração, a comissão eleitoral disse que não anunciará os resultados do segundo turno presidencial na quinta-feira, pois está analisando centenas de queixas feitas pelos dois lados. Como o fim de semana islâmico começa na sexta-feira, a divulgação pode ter de esperar até o domingo.

A Irmandade Muçulmana, grupo político mais bem organizado do país, diz que seu candidato, Mohamed Morsy, venceu a eleição. Mas o rival dele, Ahmed Shafik, que foi o último premiê da era Mubarak, não reconheceu a derrota.

Alguns viram o adiamento da divulgação do resultado como uma forma de pressionar a Irmandade a aceitar o decreto militar que restringe os poderes presidenciais. A comissão eleitoral nega interesses políticos na demora.

A imprensa egípcia refletiu na quinta-feira o temor de distúrbios por parte dos partidários do candidato que venha a ser derrotado. "O Egito à beira da explosão", foi a manchete do Al Watan. "Alerta de segurança antes do resultado presidencial", informou o Al-Masry Al-Youm.

Nos cafés e nas redes sociais, havia rumores sobre a mobilização de tropas nas grandes cidades, algo que fontes militares negaram.

Contribuindo para a tensão, o próprio Mubarak voltou à cena, sendo transferido de uma prisão para um hospital militar. Condenado à prisão perpétua, o ex-presidente, de 84 anos, está entrando e saindo do coma, mas "se estabilizando", segundo fontes de segurança.

Na terça-feira, a agência estatal de notícias chegou a dá-lo como clinicamente morto. Muitos egípcios suspeitam que a junta militar esteja exagerando a gravidade do estado dele para poder tirá-lo da prisão.

(Reportagem adicional de Marwa Awad, Shaimaa Fayed, Edmund Blair, Patrick Werr, Ahmed Tolba e Dina Zayed)

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