Greve dos caminhoneiros não atinge grandes transportadoras, mas pode prejudicá-las

Alberto Alerigi e Carolina Marcondes

Em São Paulo

As grandes transportadoras do país estão fora da greve de caminhoneiros, que desde domingo tem realizado bloqueios em importantes rodovias, como a Presidente Dutra, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo. Mas se a paralisação se estender, essas empresas devem enfrentar dificuldades crescentes para fazer as entregas, segundo empresas e entidades do setor ouvidas pela Reuters.


"A nossa frota não está parando, os nossos motoristas não estão aderindo (à greve), mas pontualmente temos alguma frota que fica parada em algum bloqueio", afirmou o diretor de operações da JSL, Adriano Thiele. "Mas se alongar por mais uma semana trará, sim, alguns impactos".

Assim como a JSL, as empresas Brado Logística, subsidiária da ALL e TNT Express afirmaram à Reuters que as suas frotas de caminhões não foram afetadas pela paralisação.

O diretor da Fadel Transportes e membro do conselho de ética da Associação Brasileira de Logística (Abralog), Ramon Alcaraz, disse que todos os segmentos mais afetados são os de produtos perecíveis e de alto giro, como bebidas e autopeças.

"A greve tem seu sentido, a Abralog compartilha com alguns pontos, como a necessidade do aumento da segurança e da formalização do segmento (...) mas, apesar disso, não se pode ser antidemocrático com uma greve em todos os segmentos."

Especificamente à Fadel Transportes, Alcaraz disse que a empresa tem como cliente a Ambev, com uma frota de 700 caminhões. Deste total, 50 caminhões que fazem abastecimento de centros de distribuiçãos de bebidas estão parados "porque não dá para passar pelas estradas". "Se isso durar mais alguns dias, o resto da frota vai parar também."

Apesar do posicionamento contrário à greve pelas grandes empresas, a paralisação já está afetando o transporte de bens industriais e produtos agrícolas, criando manifestações de setores afetados após quase uma semana do início da greve.

Entre eles está a União Brasileira de Avicultura (Ubabef) informou nesta terça-feira que o abastecimento de ração para criação de frangos.

Em nota, o Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes) informou que as atividades de distribuição estão normais, "com dificuldades pontuais no atendimento a clientes localizados em regiões que dependem do trânsito em vias bloqueadas.

"Vândalos"

Para o presidente da Associação Nacional de Transporte de Cargas e Logística, Flávio Benatti, a paralisação de caminhoneiros é um "movimento de vândalos", visto que a lei que gerou as manifestações foi amplamente discutida com empresas, Ministério Público e os próprios caminhoneiros.

"É muito difícil avaliar o impacto. O hortifrutigranjeiro perde praticamente tudo, mas os produtos não-perecíveis acabam chegando. Mas muitas empresas estão segurando seus caminhões porque não querem expor os caminhões e as pessoas", afirmou.

"Quantificar o quanto isso está dando de prejuízo é difícil, porque é um setor muito segmentado", explicou Benatti.

O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), Francisco Pelucio, lembrou que empresas e sindicatos patronais estão proibidas de fazer manifestações.

"Mas se a greve continuar amanhã ou depois vai ficar mais complicado. Faltaria medicamentos, frutas, legumes e verduras", disse o presidente, lembrando ainda que muitas indústrias, como montadoras, são abastecidas diariamente por esses caminhões.

"Mas acredito que amanhã (quarta-feira) isso estará resolvido, ao menos parcialmente."

O protesto de caminhoneiros, iniciado na quarta-feira, é contra uma nova regra do governo, que exige um intervalo de descanso mínimo de 11 horas a cada 24 horas.

Segundo o setor, há poucas áreas de descanso nas principais rodovias, o que inviabiliza o cumprimento da regra. Além disso, a medida também reduzirá o rendimento dos caminhoneiros. 

Paralisações desse tipo foram realizadas também em outras  estradas de São Paulo e no Sul do país. Os caminhoneiros querem o adiamento por ano da lei que determina, entre outras coisas, o intervalo de descanso. 

 

 

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