CPI do Cachoeira

Suspeita de ser sócia de empresa fantasma rompe silêncio na CPI

Maria Carolina Marcello

Em Brasília

A empresária Roseli Pantoja, levada à CPI do Cachoeira por suspeitas de ser sócia de empresas fantasmas utilizadas pelo grupo do suposto contraventor, quebrou o roteiro de depoentes que preferiram ficar em silêncio na comissão e afirmou nesta quarta-feira (15) que seu nome foi usado indevidamente.

"Eu não trouxe advogado, estou aqui sozinha. O que tenho a dizer a vocês é que meu nome foi usado", disse a empresária. "Eu não tenho nada, não tenho nenhum envolvimento com essa quadrilha. Eu sei somente que meu nome foi usado e estou aqui para esclarecer o que eu puder", acrescentou.

Roseli foi convidada a falar após o ex-presidente do Departamento de Trânsito (Detran) de Goiás, Edivaldo Cardoso de Paula, apontado como possível braço de Cachoeira dentro do governo goiano, anunciar que ficaria em silêncio.

Logo de antemão, a empresária afirmou que seu CPF e a grafia de seu nome não batiam com o que constava no requerimento de convocação. Dados da CPI e da Polícia Federal apontam Rosely Pantoja, com "y", como sócia de empresas que teriam sido utilizadas pela organização. A empresária que compareceu à CPI afirmou que seu nome é escrito com "i" no final.

O relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG), afirmou que a discrepância indica que o nome de Roseli pode ter sido utilizado para criar um novo CPF, esse sim utilizado para constituir empresas fantasmas destinadas à lavagem de dinheiro.

"Eles pegam nomes, cruzam com outros CPFs dão alguma margem de veracidade na medida em que pegam um nome parecido com uma diferença pequena... uma letra do nome... e põem o endereço que essa pessoa morou. É uma forma de configurar que é uma empresa fantasma da organização criminosa", explicou o relator.

Roseli contou aos integrantes da CPI que assinou uma procuração, no início do ano passado, dando plenos poderes a Gilmar Carvalho Moraes, que à época era seu marido, para abrir uma pequena empresa, uma loja. Moraes também é citado nas investigações como sócio de outra empresa usada no esquema de Cachoeira.

A empresária --que afirmou morar em uma região do entorno de Brasília e possuir pouca renda, o que a impediu de contratar um advogado-- disse desconhecer que a procuração tenha sido usada pelo marido para criar diversas empresas que teriam sido usadas para lavagem de dinheiro, dentre elas a Alberto e Pantoja, que teria recebido recursos da Delta, segundo a Polícia Federal.

Também negou conhecer qualquer integrante do grupo de Cachoeira.

Por outro lado, Roseli afirmou que Moraes usou a procuração para fazer empréstimos e passar cheques sem fundo, o que motivou o fim do casamento de 13 anos.

Questionada, a empresária afirmou ainda ser "possível" que ela tenha assinado algum documento ou papel em branco a pedido de seu ex-marido, que também poderiam ter sido usados para a criação das empresas, segundo suspeitas de integrantes da CPI.

Nova fase

O terceiro depoente a comparecer à sessão, Hillner Braga Ananias, que trabalhou como segurança do ex-senador Demóstenes Torres --cujo mandato foi cassado em julho após denúncias de ter usado seu mandato em favor de Cachoeira--, também recorreu ao direito de permanecer calado.

Durante a sessão desta quarta, parlamentares, principalmente da oposição, pressionaram para que a CPI concentre sua investigação na construtora Delta e em empresas às quais ela repassou recursos, afirmando que o depoimento de Roseli reforça a necessidade de investigar as relações entre essas companhias.

"Para mim a CPI está numa fase nova", disse o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). "Essa CPI, para ser séria, tem que dar um próximo passo... tem que avançar nos negócios da Delta em todo o país."

O relator, por outro lado, afirmou que a construtora já é alvo de investigação da CPI, assim como as empresas que estariam envolvidas no esquema.

Estão agendados para o fim deste mês depoimentos que podem ser polêmicos, como o do ex-presidente da Delta Fernando Cavendish, do ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit) Luiz Antônio Pagot, e do ex-diretor da Dersa, estatal paulista que administra rodovias, Paulo Vieira de Souza.

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