Egito diz que "regime opressivo" da Síria deve acabar

Por Yeganeh Torbati e Khaled Yacoub Oweis

DUBAI/AMÃ, 30 Ago - O Egito pediu nesta quinta-feira uma intervenção para deter o derramamento de sangue na Síria, dizendo a um encontro de 120 nações que era dever delas se levantar contra o "regime opressivo" de Bashar al-Assad, o que levou o representante sírio a se retirar da reunião.

O presidente egípcio, Mohamed Mursi, eleito há dois meses depois que um levante popular derrubou Hosni Mubarak, afirmou que Assad havia perdido a legitimidade em sua luta para esmagar uma revolta de 17 meses de duração, em que 20.000 pessoas já foram mortas.

O ataque político contra o presidente sírio na cúpula de países não-alinhados, organizada pelo Irã --aliado xiita de Assad--, aconteceu no momento em que rebeldes afirmaram ter derrubado um caça, no norte da Síria, onde sua Força Aérea tem bombardeado cidades controladas pela oposição em uma feroz contra-ofensiva aos insurgentes.

Foi o mais recente ataque por inimigos de Assad ao poder aéreo do governo, que tem sido cada vez mais invocado para esmagar o levante. Rebeldes disseram esta semana que atacaram uma base aérea militar no norte e derrubaram um helicóptero que estava bombardeando um distrito de Damasco.

"O derramamento de sangue na Síria é nossa responsabilidade em todos os nossos ombros e nós temos que saber que o derramamento de sangue não pode parar sem interferência efetiva de todos nós", disse Mursi na conferência em Teerã.

"Nós todos temos de anunciar a nossa total solidariedade com a luta dos que buscam a liberdade e a justiça na Síria, e traduzir essa simpatia em uma visão política clara que suporta uma transição pacífica para um sistema democrático de governo que reflete as demandas do povo sírio pela liberdade."

O discurso contundente de Mursi fez o ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid al-Moualem, retirar-se da reunião, reclamando que o líder sunita islâmico moderado estava incitando os combatentes "a continuar derramando sangue sírio", informou a televisão estatal.

ASSAD PEDE MAIS TEMPO

Assad, em sua primeira entrevista televisiva desde que os rebeldes levaram sua luta para o coração de Damasco e para a maior cidade do país, Alepo, disse na quarta-feira que sua luta para acabar com a revolta estava prosseguindo bem, mas precisava de mais tempo.

"Todo mundo quer essa batalha concluída em dias ou semanas, mas isso não é razoável, porque estamos no meio de uma luta regional e internacional e precisa de tempo para ser resolvida", disse ele.

Os protestos que começaram em sua maioria pacíficos foram respondidos com força pelo Exército de Assad, e a revolta se degenerou em uma guerra civil com conotações sectárias e dimensões regionais.

O papel dos poderes regionais assumiu maior importância por causa do impasse no Conselho de Segurança da ONU, onde as grandes potências foram marginalizadas pela paralisação diplomática.

Ministros dos EUA, da Rússia e da China não devem participar da reunião desta quinta-feira do Conselho de Segurança sobre a Síria, destacando o fato de que tanto os críticos quanto os defensores de Assad no conselho veem poucas perspectivas de se tomar qualquer atitude.

"Nós queríamos uma resolução sobre questões humanitárias, mas enfrentamos uma recusa dupla", disse um diplomata francês, cujo país vai presidir a reunião em Nova York.

"Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha acreditam que chegamos ao fim do que pode ser alcançado no Conselho de Segurança, e Moscou e Pequim disseram que tal resolução teria sido tendenciosa."

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