Novo apagão atinge parte do país e governo muda o tom

BRASÍLIA/RIO DE JANEIRO, 26 Out (Reuters) - O novo apagão registrado entre o fim da quinta-feira e a madrugada desta sexta-feira, que atingiu todo o Nordeste e parte da Região Norte do país, fez o governo federal mudar o tom ao afirmar que os recentes blecautes ocorridos no país "não são normais".

O ministro interino de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, disse em entrevista coletiva que a sequência de quatro blecautes que ocorreram no país recentemente é, do ponto de vista probabilístico, "praticamente impossível" e que todos os eventos ocorreram por falha na proteção primária dos sistemas.

O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Hermes Chipp, descartou que o blecaute ocorrido na quinta-feira tenha sido causado por sabotagem.

Questionado pela imprensa sobre a possilidade, Zimmerman, disse que "por enquanto" essa hipótese não faz sentido, mas acrescentou que "como o evento é raro, trabalha-se para aprofundar alternativas, mas a avaliação é feita de maneira serena, por isso enviamos equipe para o local".

No apagão da quinta-feira, assim como nos demais, segundo Zimmermann, houve falhas nas chamadas "proteções primárias" dos sistemas, que é o mecanismo que deveria, em tese, fazer com que a interrupção do fornecimento fosse apenas local, sem se propagar por regiões maiores.

No momento da interrupção da noite de quinta para sexta-feira, a perda de carga de energia no Nordeste foi de 9.500 megawatts (MW). No Norte, onde Pará e Tocantins ficaram sem luz, a perda foi de 3.500 MW, segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS). Há relatos de moradores de Brasília de que o corte no fornecimento também afetou parte da capital federal.

É o quarto blecaute de proporções importantes nos últimos dois meses, atestando os desafios para melhora na infraestrutura da maior economia da América Latina. O primeiro atingiu o Nordeste em setembro e outros dois sucessivos deixaram sem luz áreas no Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Sistema Acre-Rondônia e o Distrito Federal no início de outubro.

Até a queda no fornecimento de energia desta madrugada, representantes do governo vinham afirmando que as ocorrências não comprometiam o sistema elétrico brasileiro, e que eram falhas pontuais e isoladas.

Pela manhã, Zimmermann trocou de tom e disse que blecautes com essa frequência não são normais. "Eventos como esse não são normais e a coincidência, então, é que é mais anormal ainda. Então é isso que está sendo avaliado".

Como nas ocasiões anteriores, o apagão provavelmente foi resultado de um problema em uma linha de transmissão, desta vez administrada pela Taesa, controlada da estatal mineira Cemig. Segundo Zimmermann, a falha teria acontecido na linha que liga as subestações Colinas (TO) e Imperatriz (MA).

O governo aguarda o relatório técnico com as razões de mais esse blecaute, mas o presidente da Taesa, José Ragone, disse que uma possibilidade com a qual se trabalha seria de uma descarga atmosférica ter causado uma sobrecorrente que resultou no blecaute.

"É uma possibilidade. Não é uma desculpa para nos escondermos atrás de um fenômeno natural, estamos colocando todo nosso esforço para investigar porque a proteção não atuou", disse o executivo, que participou de reunião no ministério para discutir o incidente.

De acordo com o ONS, um incêndio em uma peça de um capacitor da linha de transmissão teria culminado no blecaute, e a parada teria sido longa, sendo que quatro horas depois 70 por cento da carga de energia tinha sido restabelecida.

Zimmermann disse que o setor elétrico brasileiro, que tem um dos maiores sistemas de transmissão do mundo, sempre trabalha "com nível de confiabilidade bom".

"Tivemos nesses últimos eventos uma diminuição dessa confiabilidade, que ainda não se tem as razões. Sempre começa com um equipamento falhando e a proteção primária não atuando, e aí levando para a proteção secundária, alternada, e aí provocando eventos de grande proporção", disse.

Procurada, a Cemig informou que não comentaria o assunto por enquanto.

Zimmermann, que assumiu o ministério porque o titular da pasta, Edison Lobão, está afastado por problema de saúde, reiterou que o governo está realizando um "pente-fino" no setor de transmissão de energia.

TEMA DELICADO PARA DILMA

A presidente Dilma Rousseff tem um carinho especial com o tema energia. No governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma foi ministra da pasta e responsável pela elaboração do novo marco regulatório do setor --ainda abalado pelo racionamento de luz em 2001, no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Coincidência ou não, a série recente de blecautes teve início dias após a presidente ter anunciado, em meados de setembro, que a conta de luz para os consumidores no Brasil cairá, em média, em 20,2 por cento em 2013.

A redução da tarifa de energia será possível graças à diminuição ou extinção de encargos e pela renovação antecipada e condicionada das concessões do setor elétrico que venceriam entre 2015 e 2017.

Para manter os ativos cujos investimentos já foram quase ou totalmente amortizados, as concessionárias terão que aceitar redução significativa de sua receita --o que alguns analistas temem que possa comprometer a capacidade de investimentos futuros.

(Por Leonardo Goy, Maria Carolina Marcello, em Brasília; Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro; e Anna Flávia Rochas, em São Paulo; Reportagem adicional de Alonso Soto; Texto de Cesar Bianconi)

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