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Estado Islâmico ocupa grandes porções de cidade síria apesar de ataques aéreos

Por Daren Butler e Oliver Holmes
Imagem: Por Daren Butler e Oliver Holmes

09/10/2014 17h45

Por Daren Butler e Oliver Holmes

MURSITPINAR Turquia/ANCARA (Reuters) - Combatentes do Estado Islâmico ocuparam mais de um terço da cidade fronteiriça síria de Kobani, disse um grupo de monitoramento nesta quinta-feira, já que os ataques aéreos liderados pelos Estados Unidos não conseguiram deter seu avanço e as forças turcas observaram sem interferir.

Como Washington descarta uma operação terrestre na Síria, a Turquia declarou não ser realista esperar que o país organize uma incursão pela fronteira sozinho para acudir a cidade de maioria curda.

Os militares norte-americanos disseram que as forças curdas parecem estar se mantendo na cidade, visível a olho nu do território turco, após novos ataques aéreos na área contra combatentes e um campo de treinamento dos militantes.

Entretanto, o Observatório Sírio para os Direitos Humanos afirmou que o Estado Islâmico ganhou terreno nesta quinta-feira.

“O Estado Islâmico controla mais de um terço de Kobani – toda a região leste, uma pequena parte do nordeste e uma áera no sudeste”, relatou Rami Abdulrahman, chefe do Observatório, que monitora a guerra civil na Síria.

O comandante dos defensores curdos de Kobani, cujos armamentos são muito inferiores, confirmou o avanço dos militantes depois de uma batalha de três semanas, que também desencadeou os piores confrontos de rua entre a polícia turca e manifestantes curdos.

Esmat al-Sheikh, chefe de uma milícia, estimou a área controlada pelo Estado Islâmico, que ocupou vastos territórios na Síria e no vizinho Iraque, em um quarto da cidade. “Os combates estão em andamento nas ruas”, disse ele por telefone do local.

Os defensores de Kobani afirmam que os EUA só estão fornecendo um apoio simbólico com seus ataques aéreos, enquanto os tanques turcos enviados à divisa nada fazem para proteger a cidade, onde a Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que poucas centenas permanecem – mais de 180 mil pessoas fugiram da localidade e da área circunvizinha rumo à Turquia.

O ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, minimizou as chances de suas forças irem ao socorro de Kobani.

“Não é realista esperar que a Turquia conduza uma operação terrestre por conta própria”, declarou ele em uma coletiva de imprensa conjunta com o chefe da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg.

Mas Cavusoglu acrescentou: “Estamos tendo conversas... assim que houver uma decisão em comum, a Turquia não se eximirá de fazer sua parte”.

Ancara repudia as insinuações de Washington de que não esteja fazendo o que lhe cabe, e quer uma ação conjunta mais ampla que inclua entre seus alvos as forças do presidente sírio, Bashar al-Assad. “Rejeitamos firmemente as alegações de responsabilidade turca pelo avanço do Estado Islâmico”, disse uma fonte do alto escalão do governo em Ancara.

A revolta dos curdos turcos pela omissão governamental no auxílio a seus irmãos na Síria ameaça desfazer um frágil processo de paz que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, espera pôr fim a uma batalha de 30 anos pela autonomia curda capitaneada pelo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Nesta quinta-feira, atiradores feriram um policial em um ataque a uma delegacia de polícia na província de Siirt, no sudesta da Turquia, onde cinco pessoas morreram durante manifestações mais cedo. Também houve confrontos em Istambul e Ancara.

(Reportagem adicional de Tom Perry, Mariam Karouny em Beirute, Humeyra Pamuk em Istambul e Orhan Coskun, Tulay Karadeniz e Jonny Hogg em Ancara)