ENTREVISTA-Banco dos Brics espera grau de investimento apesar de rebaixamento de Brasil e Rússia

Por Alonso Soto

BRASÍLIA (Reuters) - O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) fundado pelos países que formam os Brics espera se descolar da turbulência nos mercados emergentes e do rebaixamento de dois de seus membros para assegurar um rating com grau de investimento, disse o vice-presidente do banco, Paulo Nogueira Batista.

Apesar da volatilidade nos mercados emergentes, o banco planeja avançar com sua primeira emissão em iuanes, a moeda chinesa, no segundo trimestre, disse Nogueira. O volume ainda não foi definido, acrescentou ele.

Os Brics --Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul-- uniram-se oficialmente em 2009 para pressionar por mais voz no cenário financeiro global. O banco iniciou as operações no ano passado, como parte do esforço para desafiar o controle ocidental no sistema financeiro global.

A forte desaceleração de economias emergentes, com o fim do boom das commodities da década passada, tem levantado dúvidas sobre sua influência em uma economia global há muito dominada pelos Estados Unidos e pela Europa.

Brasil e Rússia perderam seus selos de bons pagadores por agências de classificação de risco no ano passado, com a queda nos preços de commodities ajudando a ampliar a recessão nesses países.

Nogueira, ex-representante brasileiro no Fundo Monetário Internacional (FMI), disse que os rebaixamentos não eram positivos para o banco, mas que não eram os únicos fatores.

"As agências de rating olham para as práticas de gestão de riscos, capital e financiamento e qualidade do portfólio... É um exercício muito complexo", disse.

Nogueira disse que o banco está analisando se busca a maior nota na escala de ratings, a nota "AAA", que demanda colchões de capital maiores, ou o segundo melhor rating, "AA".

Uma fonte do governo brasileiro disse à Reuters que o banco iria buscar o rating "AA", em parte por causa dos problemas que alguns de seus membros estão enfrentando.

O banco pode emitir dívida nos mercados capitais dos outros quatro membros no futuro, disse Nogueira.

"Para esses projetos de longo prazo normalmente é mais apropriado financiá-los em moeda local ao invés de estar submetido a riscos cambiais", disse Nogueira. "No futuro, nós pretendemos explorar oportunidades em outros mercados".

O banco, que planeja financiar projetos de infraestrutura nos mercados emergentes, já tem 1 bilhão de dólares em capital após o pagamento inicial de seus membros fundadores e seu conselho pode aprovar os primeiros empréstimos, disse Nogueira.

Ele disse ainda não ver necessidade na criação de uma agência de classificação de riscos amparada nos Brics para desafiar as três maiores no mercado: Standard & Poor's, Moody's e Fitch. Autoridades russas falaram abertamente sobre essa alternativa no ano passado.

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