Discurso de Trump sobre "América em primeiro lugar" alarma aliados dos EUA
Por Peter Graff
LONDRES (Reuters) - O primeiro grande discurso de política externa do pré-candidato presidencial republicano Donald Trump alarmou os aliados dos Estados Unidos, que veem a pauta resumida na frase de efeito "a América em primeiro lugar" como uma ameaça de distanciamento do mundo.
Embora a maioria dos governos tenha tido o cuidado de não comentar publicamente a respeito de um postulante à Casa Branca, o ministro das Relações Exteriores alemão rompeu com o protocolo e expressou preocupação com o palavreado do favorito republicano nas pesquisas.
"Só posso torcer para que a campanha eleitoral dos EUA não perca a noção da realidade", disse Frank-Walter Steinmeier.
"A arquitetura da segurança mundial mudou e não se baseia mais em somente dois pilares. Não pode ser conduzida unilateralmente", afirmou o ministro a respeito da política externa pós-Guerra Fria. "Nenhum presidente norte-americano pode contornar esta mudança na arquitetura da segurança internacional... 'a América em primeiro lugar' não é uma resposta para isso".
Carl Bildt, ex-primeiro-ministro e ex-ministro das Relações Exteriores da Suécia que serviu como enviado da Organização das Nações Unidas (ONU) nos Bálcãs após as guerras iugoslavas dos anos 1990, disse que entendeu o discurso de Trump como "um abandono tanto dos aliados democráticos quanto dos valores democráticos".
"Trump não disse uma palavra sobre a agressão russa na Ucrânia, mas muitas contra o apoio dos EUA à democracia no Egito", disse Bildt no Twitter, referindo-se às falas do magnata em que criticou o governo do atual presidente norte-americano, Barack Obama, por retirar seu apoio ao autocrata Hosni Mubarak durante a revolta popular de 2011.
O discurso – que Trump surpreendeu ao ler em um teleprompter, algo que não lhe é característico – pareceu ter como meta mostrar um lado mais sério de um político que disse pretender agir de maneira mais "presidencial" depois de meses falando a maior parte do tempo de forma improvisada.
Ele prometeu "uma política externa disciplinada, deliberada e consistente" em contraste com as políticas "sem responsabilidade, sem rumo e sem objetivo" de Obama e da ex-secretária de Estado Hillary Clinton, provável rival de Trump na chapa democrata se o empresário conquistar a indicação de seu partido.
Sua palestra não revelou nenhuma proposta dramática que pudesse gerar manchetes, como suas afirmações anteriores sobre a intenção de proibir a entrada de muçulmanos nos EUA ou construir um muro na fronteira com o México.
Nos pontos em que foi específico, como a rejeição dos termos do acordo nuclear do ano passado com o Irã, o clamor por mais investimentos em defesa de mísseis na Europa e a acusação ao governo Obama por seu apoio morno a Israel, ele se mostrou firmemente entrosado com o establishment republicano.
Mas a retórica de Trump causou alarme em países aliados que ainda contam com a superpotência para sua defesa, especialmente a frase "a América em primeiro lugar", usada nos anos 1930 por isolacionistas que queriam manter os EUA fora da Segunda Guerra Mundial.