Forças turcas tentam esmagar últimos remanescentes do golpe após retorno de Erdogan

ISTAMBUL/ANKARA (Reuters) - Forças leais ao governo da Turquia lutaram neste sábado para esmagar os últimos remanescentes de uma tentativa de golpe militar que entrou em colapso após multidões responderem ao apelo do Presidente Tayyip Erdogan para tomar as ruas e dezenas de rebeldes abandonaram seus tanques.

Mais de 160 pessoas foram mortas, incluindo muitos civis, depois que uma facção das forças armadas tentou tomar o poder usando tanques e helicópteros de ataque. Alguns metralharam a sede da inteligência e do parlamento na capital, Ancara, e outros apreenderam uma grande ponte em Istambul.

Erdogan acusou os golpistas de tentarem matá-lo e lançou um expurgo das forças armadas.

"Eles vão pagar um preço alto por isso", disse Erdogan, que também viu os protestos públicos em massa contra seu governo há três anos. "Essa revolta é uma dádiva de Deus para nós, porque isso vai ser uma razão para purificar o nosso exército."

Até certo ponto alguns comandantes militares eram mantidos como reféns pelos conspiradores, na noite de sábado -- 24 horas após o golpe -- algumas operações contra rebeldes continuavam.

O ministro das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, afirmou que soldados na base de Incirlik, utilizada pelos Estados Unidos para lançar ataques contra alvos do Estado Islâmico na Síria, estavam envolvidos na tentativa. Ele afirmou que a Turquia irá retomar as operações com a coalizão liderada pelos Estados Unidos assim que as operações contra o golpe forem concluídas.

O governo declarou a situação está totalmente sob controle, dizendo 161 pessoas foram mortas e 2.839 militares haviam sido detidos, de soldados rasos a altos oficiais, incluindo aqueles que tinham formado "a espinha dorsal" da rebelião.

A agência Anadolu afirmou que um dos detentos era o comandante do Segundo Exército, que protege as fronteiras do país com a Síria, o Iraque e o Irã.

Se tivesse tido sucesso, a derrubada de Erdogan, que governa o país de aproximadamente 80 milhões de pessoas desde 2003, teria marcado uma outra mudança sísmica no Oriente Médio, cinco anos após os levantes árabes que levaram a vizinha Síria a uma guerra civil.

Ainda assim, o golpe fracassado pode desestabilizar o membro da OTAN e grande aliado dos Estados Unidos, situado entre a União Europeia e o caos da Síria, tendo seu governo e suas cidades como alvos do Estado Islâmico e também em guerra com separatistas curdos.

O presidente dos Estados Unidos Barack Obama expressou apoio ao governo da Turquia e pediu a todos os lados envolvidos que evitem ações que possam levar a mais violência e instabilidade.

Erdogan, que havia viajado para a costa sudoeste, voltou para Istambul antes do amanhecer neste sábado e disse a milhares de apoiadores que agitavam bandeiras no aeroporto que o governo permanecia no comando.

PEDIDO POR CELULAR

Em uma noite que às vezes beirava o bizarro, Erdogan recorreu muitas vezes às redes sociais, ainda que seja um inimigo declarado da tecnologia quando utilizada por seus oponentes.

O presidente se dirigiu à nação por meio de um vídeo transmitido via chamada de telefone, aparecendo em um smartphone de reporter da CNN Turk que segurava o aparelho em frente a uma câmera de estúdio.

Ele afirmou que uma "estrutura paralela" estava por trás da tentativa de golpe, sua abreviação para seguidores de Fethullah Gulen, clérigo que tem sido repetidamente acusado de fomentar o levante do exército, do judiciário e da mídia.

Gulen que vive em um exílio auto-imposto nos Estados Unidos, já chegou a apoiar Erdogan, mas tornou-se seu principal adversário. Ele condenou a tentativa de golpe e negou ter tido qualquer participação nele.

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, disse que os Estados não receberam qualquer pedido de extradição de Gulen.

(Reportagem de Humeyra Pamuk, Ayla Jean Yackley, Nick Tattersall, David Dolan, Akin Aytekin, Tulay Karadeniz, Can Sezer, Gulsen Solaker, Ece Toksabay, Murad Sezer, Ercan Gurses, Nevzat Devranoglu, Dasha Afanasieva, Birsen Altayli, Asli Kandemir e Orhan Coskun, Reportagem adicional de Sue-Lin Wong, Ben Blanchard e Rozanna Latiff)

((Tradução Redação Rio de Janeiro, 5521 2223-7104)) REUTERS MN MCM

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