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Acusado de corrupção, premiê israelense enfrenta pressão popular e da justiça

Confiança dos israelenses em Netanyahu está caindo: segundo pesquisa do Instituto de Democracia de Israel, só 29,5% dos israelenses confiam em sua gestão da crise - Ammar Awad/File Photo/Reuters
Confiança dos israelenses em Netanyahu está caindo: segundo pesquisa do Instituto de Democracia de Israel, só 29,5% dos israelenses confiam em sua gestão da crise Imagem: Ammar Awad/File Photo/Reuters

Daniela Kresch

Correspondente da RFI Brasil em Tel Aviv

20/07/2020 07h28

Milhares de israelenses estão saindo às ruas quase todas as noites nas maiores cidades de Israel. Eles se dividem em dois grupos: os que protestam contra a gestão do surto do novo coronavírus pelo premiê e os que pedem sua renúncia por conta de três indiciamentos.

Nos protestos, manifestantes reclamam das medidas adotadas pelo governo durante a epidemia, que não conseguiram evitar as consequências econômicas da primeira onda do vírus, em março e abril, e a chegada de uma nova onda de infecções, no início de julho.

Israel saiu-se bem da primeira onda. Mas, nas últimas três semanas, o número de contaminações diárias voltou a subir e o país registra quase dois mil infectados por dia, com mais de 400 mortos desde o começo da pandemia, há quatro meses. Segundo os manifestantes, as medidas econômicas anunciadas são insuficientes e as orientações de saúde, confusas.

Diante disso, a confiança dos israelenses em Netanyahu está caindo: Segundo pesquisa do Instituto de Democracia de Israel, só 29,5% dos israelenses confiam em sua gestão da crise. Na primeira onda, a taxa de confiança era de 57,5%.

Na noite do último sábado, 18 de julho, houve protestos em Tel Aviv, em Jerusalém e também em outras localidades. Os manifestantes bloquearam ruas e protestaram com cartazes e gritos contra o premiê. Cerca de 15 foram presos em Tel Aviv e, em Jerusalém, a polícia usou jatos d'água para dispersar os participantes.

Entre os manifestantes, o primeiro grupo é o de cidadãos que passam por dificuldades financeiras e reclamam apenas da gestão da crise. No começo de março, o desemprego em Israel era de apenas 3,9% e a economia do país parecia ir de vento em popa. Mas, com a chegada do coronavírus, em apenas dois meses o desemprego alcançou mais de 27% entre trabalhadores demitidos ou colocados em férias não remuneradas.

Com a reabertura parcial da economia, em maio, a situação parecia ter melhorado, mas uma segunda onda de coronavírus - que começou no começo de junho - levou a um novo fechamento. Setores como turismo, entretenimento e cultura nem voltaram a reabrir direito e já tiveram que fechar de novo.

A partir de amanhã, restaurantes só poderão operar com entregas e qualquer evento não poderá ter mais de 20 pessoas em lugares abertos e 10 em ambientes fechados. O governo também estuda impor mais restrições, como um "lockdown" nacional à noite e durante os finais de semana.

Na primeira onda de coronavírus, além do seguro desemprego, o governo anunciou ajuda financeira de 500 shekels - quase R$ 800 - por pessoa, além ter desembolsado quatro meses de indenizações a profissionais liberais e pequenos e médios empresários. Também ofereceu assistência financeira a grandes redes de varejo para que não demitissem.

Mas profissionais do setor de serviços, de turismo e de entretenimento, por exemplo, consideram que isso é pouco diante do aprofundamento da crise. Donos de academias de ginástica, de piscinas privadas e colônias de férias também consideram errado que tenham que fechar suas portas.

Ajuda financeira vem sendo criticada

Além disso, nos últimos dias, a nova ajuda financeira que Netanyahu propõe está sendo muito criticada. Ele estendeu até meados de 2021 o auxílio desemprego, o que foi relativamente bem aceito. Mas sugeriu dar uma única vez 750 shekels - cerca de R$ 1,1 mil - a todos os cidadãos, independentemente de quem sejam. Mas por que dar aos mais ricos a mesma quantia que os mais necessitados, que precisam muito mais do que isso? A gritaria contra essa medida é generalizada.

O segundo grupo de manifestantes é formado por opositores políticos de Netanyahu, que exigem a renúncia do primeiro-ministro diante das acusações de corrupção em três indiciamentos. Ele é acusado de suborno, fraude e quebra de confiança, o que ele nega.

Esse grupo, formado principalmente por ativistas mais à esquerda no espectro político, acredita que Netanyahu, do partido de direita Likud, está fazendo uso político da crise sanitária para desviar a atenção do julgamento contra ele e de planos políticos polêmicos como o de anexar partes da Cisjordânia. De acordo com uma pesquisa do Canal 12, 56% dos israelenses acreditam que a ideia do subsídio de 750 shekels para todos os cidadãos foi motivada por considerações políticas.

Netanyahu tenta se manter no cargo depois de 11 anos consecutivos no poder e, principalmente, luta para não ir para a prisão. Mas seu julgamento por corrupção, que começou há dois meses, foi retomado neste domingo, 19 de julho, quando uma juíza estabeleceu que a etapa de ouvir testemunhas começará em janeiro de 2021. A juíza ordenou que Netanyahu esteja presente no tribunal três vezes por semana durante essa etapa.