Estudo questiona índice glicêmico e a ideia de carboidratos bons e ruins
Anahad O'connor
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Apesar da pesquisa mostrar que ingerir um tipo de carboidrato ou outro não faz diferença para dietas saudáveis, alimentos que aumentam o colesterol ainda devem ser evitados
Quem já segue dieta saudável não precisa se preocupar com o impacto de açúcar no sangue de um tipo de grão ou outro
A ideia de que todos os carboidratos não são criados da mesma forma se tornou a base de muitas dietas populares. Alguns argumentam que alimentos como pão e batata, que têm um índice glicêmico elevado porque eles aumentam o açúcar no sangue e a insulina, devem ser evitado em favor de carboidratos mais saudáveis, como grãos integrais e vegetais sem amido.
Mas uma nova pesquisa rigorosa dos Institutos Nacionais de Saúde sugere que, para as pessoas que já seguem uma dieta saudável, o índice glicêmico pode não ser muito importante.
O estudo, publicado na revista JAMA, descobriu que dietas que contêm alimentos de baixo índice glicêmico não fazem diminuir o colesterol e outros fatores de risco para doença cardíaca, em comparação com dietas que contêm principalmente alimentos com alto teor glicêmico.
Especialistas em nutrição argumentam que as dietas de baixo índice glicêmico melhoram os níveis de açúcar no sangue e a sensibilidade à insulina. Mas o novo estudo descobriu que as dietas de baixo índice glicêmico realmente pioram a sensibilidade à insulina.
"O dogma por aí diz que um alto índice glicêmico é ruim", disse o Dr. Robert Eckel, ex-presidente da American Heart Association e professor da Universidade do Colorado, que não esteve envolvido na pesquisa. "Espero que, finalmente, o índice glicêmico seja deixado de lado."
No ano passado, um comitê de cientistas liderados pelo presidente da Escola de Saúde Pública de Harvard pediu que os valores glicêmicos fossem incluídos nos rótulos dos alimentos e enfatizados nas orientações dietéticas. A comissão disse que era crucial que o público entendesse a resposta glicêmica aos alimentos, "dado o rápido aumento da obesidade e diabetes."
Mas os resultados dos estudos foram irregulares. O Dietary Guidelines for Americans de 2010 encoraja as pessoas a comer grãos integrais e "carboidratos que ocorrem naturalmente." As orientações alertam que "fortes evidências" não mostra nenhuma relação entre o índice glicêmico dos alimentos e o peso corporal, apesar de alguns estudos sugerirem o contrário.
No novo estudo, os pesquisadores queriam descobrir se dietas semelhantes em calorias e carboidratos, mas compostas de alimentos de índice glicêmico alto ou baixo, tinham resultados diferentes sobre a saúde cardiovascular. Então, eles recrutaram 163 pessoas, a maioria delas com sobrepeso e pressão alta, o que significa que elas têm maior risco de doença cardíaca e diabetes tipo 2.
Os participantes fizeram um rodízio de quatro dietas por cinco dias por semana, com toda a alimentação fornecida a eles. Os pesquisadores disseram que elaboraram cada dieta para ser saudável ao coração, com muitas frutas, legumes, feijões, peixes, aves, carnes magras e grãos. Duas das dietas foram ligeiramente mais ricas em carboidratos do que o o que o norte-americano médio consome, e duas foram ligeiramente abaixo disso.
Os pesquisadores então alteraram os tipos de carboidratos. As dietas de baixo índice glicêmico incluíam coisas como pão integral e cereais, maçãs, aveia em flocos e vegetais sem amido. As dietas de glicemia elevada permitiam coisas como pão branco, cenoura e muffins, arroz instantâneo e aveia instantânea, e lanches doces como mel, banana e damascos em calda.
Quando a quantidade geral de ingestão de carboidratos foi reduzida, os fatores de risco cardiovascular, como o colesterol, triglicérides e pressão arterial, foram para a direção certa. Mas quando duas dietas tinham quantidades semelhantes de carboidratos e calorias, a abordagem de baixo índice glicêmico não melhorou os níveis de sensibilidade à insulina, o colesterol ou a pressão arterial.
Frank M. Sacks, principal autor do estudo e professor da Escola de Medicina de Harvard, disse que outros estudos que duraram ainda mais tempo mostraram resultados semelhantes. Ele disse que as pessoas devem comer grãos integrais, produtos frescos e alimentos ricos em fibras por causa dos nutrientes que contêm. Mas, exceto para pessoas que têm diabetes e precisam monitorar seus níveis de açúcar no sangue, aqueles que já seguem uma dieta saudável não precisam se preocupar com o impacto de açúcar no sangue de um tipo de fruta ou de grãos em relação a outro.
"A conclusão é uma boa notícia para as pessoas", disse. "Elas podem escolher os alimentos que fazem parte de um padrão alimentar saudável, sem saber se eles têm índice glicêmico alto ou baixo. Elas não precisam aprender esse sistema."
David Ludwig, diretor do Centro de Prevenção da Obesidade da Fundação New Balance no Hospital Infantil de Boston, disse que os testes clínicos de curto prazo de aumento da ingestão de fibras e grãos integrais muitas vezes não conseguem mostrar qualquer benefício.
Mas recomendações de saúde pública são baseadas em estudos de longo prazo e estudos de observação qualificados. E ao contrário de dietas muito baixas em carboidratos, que mostram resultados rápidos, as dietas de baixo índice glicêmico podem exigir mais tempo, disse.
"A dieta de baixo IG pode se parecer mais com a tartaruga do que com a lebre", acrescentou. "É preciso mais tempo, mas você chega lá no final."
O criador do índice glicêmico, David Jenkins, professor de nutrição da Universidade de Toronto, acrescentou que o estudo foi limitado porque não incluiu as pessoas com diabetes tipo 2, uma população que cresce rapidamente e tem muitos problemas com o controle do açúcar no sangue.
Tradutor: Eloise De Vylder