Não culpem os suíços

Anne Applebaum

Anne Applebaum

Algumas semanas atrás eu me vi caminhando por uma aldeia suíça - bem, na verdade era um subúrbio de Genebra - chamada Nyon. Mas parecia uma aldeia: havia um castelo sobre o morro e algumas ruínas romanas. Havia algumas lojas e uma bela vista do lago. Não havia mesquita em nenhum lugar. Nem havia mulheres usando burqas no lindo parque da cidade.

O que vale para Nyon também vale para a maior parte da Suíça, país em que há muito poucas mesquitas - parece que não mais de 150 ao todo, incluindo pequenas "salas de oração" -, virtualmente nenhuma burqa e quase nenhum lenço de cabeça. A vasta maioria dos 400 mil muçulmanos do país veio da Turquia e de Kosovo, e as mulheres desses países em geral não seguem os códigos de vestimenta conservadores comumente vistos em lugares como Afeganistão ou Arábia Saudita.

Mas na semana passada pessoas em lugares como Nyon votaram decisivamente - 57,4% - a favor de um referendo para proibir a construção de minaretes em mesquitas de toda a Suíça. Essa decisão foi interpretada em toda a Europa, e especialmente nos EUA, como evidência de preconceito e crescente intolerância religiosa na Suíça. Mas não era - ou pelo menos não totalmente. Era uma evidência de medo, embora não de medo de "estrangeiros" ou "forasteiros".

Como eu digo, há muito pouca evidência de que o islamismo separatista e politicamente extremo esteja crescendo rapidamente na Suíça. No entanto, os suíços leem jornais e assistem à televisão. E nos últimos anos formas separatistas e politicamente extremas de islamismo de fato surgiram em todos os países europeus que têm grande população muçulmana. Reino Unido, França, Alemanha, Holanda, Espanha, Dinamarca e Suécia tiveram casos nos tribunais e escândalos envolvendo casamento forçado, circuncisão feminina e "crimes de honra".

Também houve incidentes terroristas: os atentados a bomba nos transportes de Londres, as bombas nos trens espanhóis, o assassinato do diretor de cinema holandês Theo van Gogh. Lembrem-se de que os pilotos do 11 de Setembro vieram de Hamburgo.

Há muitas explicações para esse fenômeno (a melhor se encontra no recente livro de Christopher Caldwell "Reflections on the Revolution in Europe" [Reflexões sobre a revolução na Europa]), mas, para colocar de maneira bem crua, elas se resumem a uma: graças aos erros cometidos pelos europeus e os imigrantes muçulmanos que vivem junto deles, os dois grupos não conseguiram se integrar nas últimas várias décadas.

Duas ou até três gerações depois de sua chegada, alguns muçulmanos europeus ainda vivem em comunidades separadas. Muitas vezes vão a escolas separadas. E uma pequena mas ruidosa minoria se recusa abertamente a respeitar as leis e os costumes de seus países adotivos.

Nenhum governo europeu conseguiu encontrar uma maneira de lidar com esse fenômeno. E os que tentaram muitas vezes se veem correndo contra suas próprias tradições legais e direitos civis. Os dinamarqueses, decididos a limitar o número de esposos estrangeiros que entram no país por meio de casamentos arranjados, descobriram que não tinham opção senão dificultar para todos os dinamarqueses o casamento com estrangeiros. Os franceses, percebendo que o lenço de cabeça havia se tornado um símbolo de afiliação política em certas escolas francesas, viram-se limitando os direitos de todos os estudantes usarem vestimentas religiosas, incluindo solidéus, nas escolas.

Portanto, não há nada especialmente suíço ou especialmente isolacionista sobre os resultados do referendo da semana passada. Uma questão semelhante, colocada de maneira semelhante, poderia ter tido um resultado semelhante em qualquer lugar da Europa. Na verdade, o temor do extremismo islâmico hoje molda toda a política europeia muito mais que qualquer um admite.

O crescimento dos partidos chamados de "extrema-direita" nos últimos anos é quase sempre ligado ao temor do extremismo islâmico. A oposição à entrada da Turquia na União Europeia - que significaria que os turcos poderiam trabalhar livremente em qualquer país membro - vem do mesmo conjunto de temores, embora quase ninguém diga isso.

O referendo sobre a construção de minaretes não é diferente. Ninguém diz exatamente qual é a questão, mas todo mundo sabe: um referendo para proibir os minaretes pode ter sido grotescamente injusto para centenas de milhares de muçulmanos comuns e bem integrados, mas não tenho dúvida de que os suíços votaram principalmente a favor porque eles não têm muito extremismo islâmico - e não querem ter.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Anne Applebaum

Jornalista escreve sobre política norte-americana e assuntos internacionais.

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