Trump: as palavras importam
Alguns moradores da Trump Place, em Nova York, estão tão envergonhados por morar em um edifício de apartamentos com o nome do candidato republicano à Presidência, que pediram que o alterem.
Não é fácil, como relatou recentemente "The New York Times". É uma questão complexa de contratos. Mas a vergonha é real.
De que se lamentam? De que seus amigos, parentes e colegas de trabalho os relacionem a uma pessoa que insultou imigrantes, muçulmanos, mulheres e pessoas com deficiências, entre muitos outros.
Há palavras que ferem. Por isso nesta coluna me limito a reproduzir o que Donald Trump disse desde que lançou sua campanha à Casa Branca:
-- 16 de junho de 2015: "Trazem drogas. Trazem o crime. São estupradores". (Sobre os imigrantes que o México envia aos EUA.)
-- 18 de julho de 2015: "É um herói de guerra porque o capturaram. Eu gosto das pessoas que não foram capturadas". (Sobre o senador republicano John McCain, capturado durante a guerra do Vietnã.)
-- 7 de agosto de 2015: "Saía-lhe sangue dos olhos, saía-lhe sangue por todos os lados". (Sobre a jornalista Megyn Kelly, que lhe perguntou sobre os insultos que ele fez às mulheres no primeiro debate republicano.)
-- 25 de agosto de 2015: "Sente-se. Sente-se.... Ninguém lhe deu a palavra. Volte para a Univisión". (O que Donald Trump me disse antes de me expulsar de uma entrevista coletiva em Iowa.)
-- 12 de novembro de 2015: "Eu sei mais sobre o EI que os generais. Acreditem em mim".
-- 24 de novembro de 2015: "Esse pobre sujeito. Deveriam ver esse pobre sujeito". (Zombando de um repórter de "The New York Times" que tem uma deficiência física.)
-- 7 de dezembro de 2015: "Donald J. Trump está pedindo o fechamento total e completo da entrada de imigrantes muçulmanos nos EUA".
-- 6 de fevereiro: "Eu voltaria a usar a tortura e os mandaria ao inferno com coisas muito piores que o 'submarino'". (Apoiando uma forma de tortura em que se simula afogar o prisioneiro.)
-- 28 de fevereiro: "Não sei nada sobre David Duke. OK? Não sei nada sobre os supremacistas brancos." (Trump disse que não ouviu bem a pergunta, por um problema em seu fone de ouvido, quando lhe perguntaram na CNN se rejeitava o apoio de um ex-líder da Ku Klux Klan.)
-- 3 de junho: "Fui tratado muito injustamente por esse juiz. Ele é um juiz de origem mexicana, e eu estou construindo um muro". (Sobre o juiz Gonzalo Curiel, nascido em Indiana, que conduz um processo contra a Universidade Trump.)
-- 27 de julho: "Rússia, se estiverem escutando, espero que possam encontrar as 30 mil mensagens de correio eletrônico que se perderam". (Trump pedindo aos russos que "pirateiem" as mensagens de e-mail de Hillary Clinton. Depois sua campanha disse que era uma piada.)
-- 30 de julho: "Veja a mulher dele, ficou ali parada. Não tinha nada a dizer. Talvez não a deixassem". (Sobre o discurso dos pais do soldado americano Humayun Khan, morto no Iraque em 2004. Eles criticaram Trump por sua proposta de proibir a entrada de muçulmanos.)
-- 31 de agosto: "O México vai pagar pelo muro". (Depois de sua visita relâmpago ao presidente do México, Enrique Peña Nieto.)
-- 16 de setembro: "Barack Obama nasceu nos EUA. Ponto". (Depois de anos questionando em público o lugar de nascimento --Havaí-- do primeiro presidente afro-americano.)
-- 26 de setembro: "É que sou muito inteligente". (Sobre a suspeita de que não pagou impostos federais durante anos e sua negativa a mostrar suas declarações de imposto de renda.)
-- 27 de setembro: Alicia Machado "ganhou quantidades enormes de peso e isso era um verdadeiro problema". (Sobre a Miss Universo venezuelana que o acusou de maus tratos.)
-- 7 de outubro: "Quando você é uma estrela, deixam que faça isso. Você pode fazer qualquer coisa, pegá-las pela vagina". (De um vídeo gravado em 2005 pelo programa "Access Hollywood". Foi divulgado em outubro.)
-- 19 de outubro: "Que mulher desagradável". (Sobre Hillary Clinton, no terceiro debate presidencial.)
-- 20 de outubro: "Aceitarei os resultados desta eleição presidencial histórica... se eu ganhar".
-- 22 de outubro: "Todas essas mulheres estão mentindo. Essas mentirosas serão processadas depois da eleição". (Sobre as 11 mulheres que o acusaram publicamente de boliná-las e de assédio sexual.)
Sim, as palavras importam.
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