Cientistas querem manipular sentido de tubarão para evitar ataques a humanos
O governo da Austrália autorizou recentemente o abate de tubarões na costa leste do país em razão do aumento do número de mortes em ataques. Foram sete nos últimos três anos, em comparação com as 20 registradas no último século.
Os abates protegerão os banhistas, segundo o governo australiano. "Estamos confiantes que a medida adotada é a correta. Seguiremos em frente", disse o premiê do Estado da Austrália Ocidental, Colin Barnett.
Mas os cientistas discordam da medida. Em uma carta aberta, 100 pesquisadores pedem que ela seja revista por causa do seu impacto ambiental e a improbabilidade de se encontrar o tubarão que causou um ataque específico.
"Todo cientista com quem falo concorda que o abate não é a coisa certa a se fazer", diz Rodney Fox, que sobreviveu a um ataque de um tubarão branco há 50 anos e, desde então, tornou-se um ferrenho defensor destes animais. "Temos que aprender a viver com eles em vez de apenas matá-los porque temos medo de sermos atacados."
Ameaça de extinção
Tubarões existem há pelo menos 400 milhões de anos e, ao longo desse tempo, evoluíram para uma grande variedade de espécies, muitas delas pacíficas.
Mesmo assim, o medo de ser atacado é a primeira coisa que vem à mente quando se encontra um deles frente a frente. Na realidade, quem deveria sentir medo são os tubarões.
Um quarto de todas as espécies de tubarão e de suas parentes, as arraias, estão ameaçadas de extinção, segundo um relatório recente da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
O motivo é a pesca predatória, principalmente para as espécies maiores. Milhões de tubarões morrem dessa forma todos os anos.
Enquanto isso, as chances de uma pessoa ser morta por um tubarão são menores do que as de morrer por causa de um raio, uma abelha ou um acidente de carro.
Proteção mútua
Por isso, cientistas vêm buscando novas formas de lidar com o problema de ataques de humanos por tubarões, para o bem das duas espécies.
"Queremos proteger humanos e tubarões ao mesmo tempo", diz Shaun Collin, que lidera uma equipe de neurobiólogos que estão tentando aprender a pensar como estes peixes.
Eles estudam como funcionam o cérebro e os cinco sentidos dos tubarões para testar formas não-letais de evitar que eles se aproximem ou ataquem pessoas.
Uma delas é uma roupa que torna um ser humano parecido com uma cobra do mar venenosa, que normalmente são evitadas por tubarões. A roupa tem listras brancas e pretas, como a cobra. Como os tubarões enxergam mal, as listras são grandes o suficiente para serem detectadas à distância.
A ideia foi sugerida há alguns anos pelo biólogo marinho Walter Starck e agora está sendo testada. Barris cheios de peixes mortos são cobertos com a roupa e jogados em alto mar para ver como os tubarões reagem.
Até agora os resultados foram positivos, de acordo com Nathan Hart, professor da Universidade do Leste Australiano. "A roupa funciona como um cinto de segurança", explica Hart. "Ela reduz o risco de ataque até certo ponto, mas não a zero."
Cortina de bolhas
Outra estratégia testada por cientistas é impedir que tubarões entrem em certas áreas, onde seria seguro nadar. Uma destas técnicas envolve colocar um cano perfurado no fundo do oceano e bombear ar por dentro dele para criar uma cortina de bolhas na água.
Os tubarões podem ver e ouvir as bolhas, além de senti-las por meio da linha que percorre a lateral de seu corpo, um tipo de sentido que muitos peixes têm.
"É um sistema conhecido como 'toque distante'", diz Hart. "Ele detecta vibrações e sons de baixa frequência na água".
Isso desencorajaria o tubarão de atravessar a cortina de bolhas. No entanto, testes com tubarões-tigre mostraram que, em algum momento, esses animais às vezes decidem testar a cortina e a atravessam, o que sugere que eles têm capacidade de aprender.
Aprendizado
A bióloga marinha Eugenie Clark, do Laboratório Marinho Mote, na Flórida, foi uma das primeiras a demonstrar essa habilidade nos anos 1950. Ela treinou tubarões a pressionar seus focinhos contra um alvo ou a usá-los para tocar sinos em troca de comida.
Esse sinal de inteligência indica que eles podem aprender a não atacar humanos. Testemunhei isso pessoalmente quando estive nas ilhas Fiji e mergulhei com cerca de 100 tubarões-touro, uma espécie conhecida por sua agressividade.
Ao me preparar para o mergulho, em que não haveria qualquer tipo de jaula ou proteção, não sabia como reagiria diante deles. Mas bastou estar dentro da água para meu receio ir embora. Vi como um tubarão-touro pode ser calmo e gracioso.
Habitantes locais ensinaram aos animais a se aproximar de cada mergulhador e a pegar gentilmente um pedaço de carne que é oferecido ao tubarão. Ou seja, eles aprenderam a se comportar em troca de comida.
"Eles nos conhecem muito bem", me disse o mergulhador Papa. "O bom é isso: eles sabem o que está acontecendo."
Desta forma, os habitantes estão não só tentando mudar a má reputação dos tubarões, mas também provar que um tubarão vivo é muito mais valioso do que um tubarão morto.
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