Lula paga primeiro pedágio ao Congresso para cumprir promessas de campanha
O Congresso está cobrando caro para Lula conseguir cumprir duas de suas principais promessas de campanha. Esta semana, o governo contrariou o Supremo Tribunal Federal e pagou cerca de R$ 8 bilhões de emendas ao orçamento, sem que os congressistas tivessem cumprido a ordem do STF de apontar o pai das emendas nem sua destinação. Em troca, a Câmara dos Deputados deu prioridade para votar o pacote de cortes do governo.
O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.
Não que diminuir o número de beneficiários de programas sociais fosse promessa de campanha. Mas tornou-se, junto com outras medidas de redução de gastos, condição necessária imposta pela Faria Lima e pelos congressistas para viabilizarem, quem sabe, as promessas de Lula na sequência. Toma lá e, talvez, dá cá.
Só depois do ajuste fiscal, já em 2025, deverá ser apreciada pelos congressistas a mudança do Imposto de Renda (IR) proposta pelo Ministério da Fazenda. Basicamente, o governo propôs duas medidas que se compensam contabilmente, mas transferem renda de cima para baixo na pirâmide da sociedade brasileira:
1) Deixar de cobrar R$ 35 bilhões de IR de cerca de 10 milhões de contribuintes que ganham entre R$ 2.750 e R$ 5 mil reais por mês;
2) Cobrar até 10% a mais de IR de quem ganha mais de R$ 600 mil por ano, ou R$ 50 mil por mês. Essa alíquota adicional renderia os mesmos R$ 35 bilhões para o Tesouro.
Se ambas passarem incólumes por deputados e senadores, Lula cumpriria duas promessas com uma mudança só: aumentaria a faixa de isenção de IR para R$ 5 mil e diminuiria a desigualdade. O tempo urge, porém.
Para entrar em vigor no último ano de mandato de Lula, a isenção até R$ 5 mil precisa ser aprovada até o final de 2025.
Além disso, os efeitos benéficos das medidas de transferência de renda para a parte de baixo da pirâmide mostraram que estão no limite. Segundo o IBGE, apesar de a renda ter aumentado em 2023, e de a pobreza ter diminuído, a desigualdade não caiu. O índice de Gini do primeiro ano do governo Lula foi igual ao do último ano do governo Bolsonaro. A desigualdade teria sido maior se Lula não tivesse aumentado o Bolso Família.
Apesar de a parcela da renda total apropriada pelos 40% mais pobres ter aumentado um pouco (de 11,3% para 11,4%), a fatia abocanhada pelos 10% mais ricos também cresceu - marginalmente, mas cresceu: de 40,7% para 41%. Como resultado, a proporção entre os dois grupos ficou igual: a porcentagem da renda dos mais ricos segue sendo 3,6 maior que a dos mais pobres.
Se as duas pontas ficaram com pedaços maiores do bolo, quem perdeu? Os segmentos que ficam no meio, a classe média. Quem está entre os 50% e 90% mais ricos (ou menos pobres) viu sua fatia da renda nacional cair de 42,5% para 42% de 2022 para 2023.
São justamente essas pessoas que podem vir a ser beneficiadas pelo aumento da isenção do Imposto de Renda a partir de 2026, se ela for aprovada pelo Congresso. Como o dinheiro sairia do bolso dos 0,5% mais ricos, graças à alíquota extra de 10% do IR, a tendência seria a desigualdade de renda cair no país.
Até isso acontecer, porém, Lula terá que continuar pagando pedágio para os congressistas, na forma de emendas ao orçamento. Os R$ 8 bilhões pagos esta semana foram só o primeiro posto de pedágio da estrada até 2026. Haverá muitos outros pela frente.
Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64) e no UOL Play.
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