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Alberto Bombig

REPORTAGEM

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Lula testa opinião pública e mundo jurídico sobre indicação de Zanin ao STF

11.dez.2019 - Lula no lançamento do livro "Lawfare: uma introdução", de autoria dos advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Zanin Martins - Ricardo Stuckert/Instituto Lula
11.dez.2019 - Lula no lançamento do livro "Lawfare: uma introdução", de autoria dos advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Zanin Martins Imagem: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Colunista do UOL

03/03/2023 09h33Atualizada em 03/03/2023 09h33

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A confirmação dada pelo presidente Lula de que pode indicar Cristiano Zanin para o STF (Supremo Tribunal Federal) não foi entendida em todo o meio jurídico como uma garantia de que o advogado ficará com a vaga do ministro Ricardo Lewandowski, que se aposenta no final de abril.

Apesar da sinalização muito favorável do presidente em favor de seu advogado, há uma avaliação de que a própria declaração de Lula, dada em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, é uma forma de medir a reação da opinião pública e do meio jurídico.

Nos bastidores do STF, por exemplo, segundo apurou a coluna, a declaração foi recebida com cautela. Ninguém confrontará Lula publicamente neste momento, até porque ele vive uma espécie de lua de mel com o Judiciário, mas ministros avaliam que o presidente ainda precisa "costurar melhor" a indicação e ouvir a posição da corte.

Lula ainda não conclui o processo de consultas que vem fazendo para bater o martelo quanto à indicação e sabe que, de todos os nomes sugeridos a ele até agora, o de seu advogado é o que mais pode lhe causar desgaste de popularidade neste início de mandato.

Questionado por Reinaldo Azevedo, Lula respondeu: "Hoje, se eu indicasse o Zanin, todo mundo compreenderia que ele merecia ser indicado. Tecnicamente, ele cresceu de forma extraordinária. É meu amigo, meu companheiro, como outros são meus companheiros".

Zanin é advogado de Lula desde 2013 e defendeu o presidente na Lava Jato. Uma eventual indicação dele para o STF poderia transmitir a percepção de que Lula está buscando uma "blindagem" no Supremo. Outro ponto de conflito é o receio de que o atual presidente repita o que fez seu antecessor no Planalto, Jair Bolsonaro (PL).

O ex-presidente escolheu seu aliado André Mendonça, então à frente da AGU (Advocacia-Geral da União), para o STF e sofreu enorme desgaste político. A sabatina do atual ministro foi postergada no Senado. Na ocasião, Bolsonaro chegou a insinuar, em outubro de 2021, que sofria "chantagem" por parte de parlamentares por causa da indicação.

Apesar de ter maioria no Senado, o governo entende que a Casa é uma peça complicada no xadrez político porque tem expoentes da direita bolsonarista e um leque de apoios mais enxuto do que na Câmara dos Deputados.

Um ex-ministro do STF em conversa com a coluna disse que Lula vem buscando demarcar suas diferenças em relação a Bolsonaro e que a eventual indicação de Zanin, de certa forma, repetiria o mesmo modelo adotado pelo ex-presidente para a escolha: apostar em alguém de extrema confiança.

Por outro lado, ele afirmou que, se Lula pretende mesmo dar a Zanin uma vaga no STF, o momento é este, quando a popularidade do atual presidente, em início de mandato, ainda é alta. A outra opção seria apostar no sucesso do governo e deixar a indicação para mais adiante, conservando o capital político neste início difícil de gestão.

Além de Zanin, são cotados para vaga Pedro Serrano, professor de direito ligado ao PT, os juristas Lenio Streck e Manoel Carlos, a desembargadora Simone Schreiber, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região e o ministro Sebastião Reis, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), entre outros.

Lula ainda terá o direito de fazer mais uma indicação neste ano por conta da aposentadoria da ministra Rosa Weber, atual presidente do STF. Há ainda a possibilidade de Luís Roberto Barroso antecipar sua saída do Supremo.