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Alberto Bombig

REPORTAGEM

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Recado de Lira assusta radicais: Câmara não será cercadinho nem palanque

Colunista do UOL

13/03/2023 10h18Atualizada em 13/03/2023 13h31

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A reprimenda pública que Arthur Lira (Progressistas-AL) publicou em suas redes sociais em razão do discurso transfóbico de Nikolas Ferreira (PL-MG) foi entendida por líderes do Congresso como um recado claro de que o presidente da Câmara dos Deputados não deverá tolerar na atual legislatura os excessos dos chamados "parlamentares radicais".

Em privado, Lira teria dito a interlocutores que o plenário da Câmara não se transformará no extinto "cercadinho" nem servirá de "palanque" para quem perdeu protagonismo ou foi silenciado nas redes sociais. O presidente da Casa quer evitar na atual legislatura novos desgastes com o Supremo ou com o Executivo federal, como o provocado pelo caso Daniel Silveira (PTB-RJ), em 2022, último ano da passagem de Jair Bolsonaro (PL) pelo Planalto.

Após ter assumido a presidência da Câmara, em fevereiro de 2021, Lira se transformou em um dos esteios da metade final da gestão Bolsonaro no Congresso. Essa posição teve alto custo pessoal em termos de imagem ao deputado, afirma um interlocutor dele. Lira foi muito pressionado a aceitar a abertura do processo de impeachment contra o ex-presidente e acusado de ser conivente com os excessos dos radicais e seus ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal), por exemplo.

Por isso, a manifestação de Lira contra Nikolas neste momento foi lida como um sinal de que, após a vitória de Lula (PT) na disputa pelo Planalto, os tempos mudaram na Câmara e não haverá proteção irrestrita aos bolsonaristas na Casa.

"Cercadinho" era o espaço onde o ex-presidente Bolsonaro, sempre rodeado de apoiadores, costumava fazer afirmações polêmicas e, algumas, até criminosas. Também na legislatura passada e no início deste ano, vários parlamentares bolsonaristas chegaram a ter suas redes sociais bloqueadas por decisão do STF após terem disseminado notícias falsas.

"O plenário da Câmara dos Deputados não é palco para exibicionismo e muito menos discursos preconceituosos. Não admitirei o desrespeito contra ninguém. O deputado Nikolas Ferreira merece minha reprimenda pública por sua atitude no dia de hoje", afirmou Lira em publicação no Twitter.

Na quarta-feira passada, 8 de março, Nikolas vestiu uma peruca durante discurso na tribuna por conta do Dia Internacional das Mulheres. O pronunciamento foi considerado transfóbico por várias deputadas que avaliam pedir a cassação dele. O deputado nega que tenha cometido crime.

Segundo um experiente líder do Congresso, a prova de que a reprimenda pública de Lira preocupa os radicais foi a resposta quase imediata de Valdemar Costa Neto, presidente do PL. O dirigente teria sido pressionado pelos radicais de seu partido a tomar uma posição.

Também pelo Twitter, Valdemar defendeu Nikolas: "A liberdade de expressão e suas prerrogativas parlamentares serão defendidas pelo nosso partido sempre que ele estiver exercendo seu mandato, manifestando sua opinião. Conte conosco, Nikolas! O PL estará sempre contigo".

Em linhas gerais, a reprimenda de Lira e a reação de Valdemar, dois dos mais experientes líderes políticos, indicam que, se os radicais "esticarem demais a corda", não terão o apoio do presidente da Câmara para evitar eventuais cassações. Na legislatura anterior, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, sofreu representações no Conselho de Ética da Casa. Elas, no entanto, não avançaram.

Até maio do ano passado, segundo levantamento do UOL, o Conselho de Ética havia recebido 55 representações protocoladas contra 26 deputados. Eduardo Bolsonaro liderava o ranking com dez casos, seguido pelo também bolsonarista Daniel Silveira (PTB), com nove.