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Alberto Bombig

REPORTAGEM

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Em SP, Valdemar já se distancia do clã Bolsonaro e ruma para o centro

Colunista do UOL

06/03/2023 11h31Atualizada em 06/03/2023 17h46

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Enquanto sofre pressões internas para se afastar do clã Bolsonaro, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, está ampliando seu espaço de atuação na política de São Paulo e aponta para um rumo diferente do adotado em Brasília: ele caminha na direção do centro.

Segundo interlocutores do dirigente partidário, as movimentações recentes dele são a prova de que a "conversão ideológica" de Valdemar Costa Neto ao bolsonarismo nunca existiu ou está com os dias contados, ainda mais após o caso das joias de R$ 16,5 milhões que seriam para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, uma das apostas eleitorais do PL.

Quem conhece bem Valdemar Costa Neto aposta que ele não romperá com a família Bolsonaro imediatamente, mas que já deu início a um trabalho de construção, em São Paulo, seu estado, de uma base que o permita estar bem colocado no xadrez político-eleitoral sem depender do ex-presidente ou de seus familiares, cada vez mais enrolados com a Justiça.

O presidente do PL também estaria acompanhando atentamente o estremecimento da coalização formada em torno do presidente Lula (PT), especialmente no caso do ministro Juscelino Filho (União Brasil-MA). Valdemar, segundo interlocutores, avalia que a base governista pode perder apoios no Congresso se o caso não for bem resolvido, o que aumentaria o cacife de seu partido para abandonar Bolsonaro e negociar com o Planalto.

Rumo ao centro. Articulações recentes comprovam que o presidente do PL se distanciou do bolsonarismo radical em sua base eleitoral. André do Prado, afilhado político de Valdemar Costa Neto, deverá ser o novo presidente da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), com o apoio inclusive do PT e a bênção do Palácio dos Bandeirantes.

André do Prado mantém bom trânsito com ministros de Lula (PT) e isolou os radicais bolsonaristas da bancada do PL na Alesp, com a ajuda de Tarcísio, para construir sua candidatura. A provável vitória dele na eleição, marcada para o próximo dia 15 de março, é visto como um sinal de que a Casa não será um trincheira do radicalismo nem um "puxadinho" do Palácio dos Bandeirantes, pois ele teve de assumir compromissos de independência com seus pares para fechar a composição da nova Mesa.

O PT deverá ficar o segundo cargo mais importante, a Primeira Secretaria, e o Republicanos, de Tarcísio, com a liderança do governo. André do Prado também está negociando o comando das mais importantes comissões com partidos de centro e de esquerda, como PSDB e PSB.

Outros gestos de Valdemar Costa Neto que preocupam os bolsonaristas também foram dados em São Paulo. Duda Lima, marqueteiro contratado pelo PL para a campanha à reeleição de Bolsonaro em 2022, está trabalhando para Ricardo Nunes (MDB), prefeito da capital paulista.

O próprio Valdemar Costa Neto participou de um jantar, no dia 27 de fevereiro passado, em São Paulo, com a presença de Nunes e de outros líderes partidários do extinto campo bolsonarista. A aproximação entre o presidente do PL e o prefeito interdita os planos da ala radical do partido em São Paulo, que tem, outros, Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e Ricardo Sales, de lançar um candidato a prefeito da capital em 2024.

Em todos esses casos, o discurso é sempre o mesmo: criar uma aliança ampla de centro, seja para formar a base de apoio de Tarcísio na Alesp, seja para começar a costurar a aliança em torno da reeleição de Nunes, e isolar o PT.

Nomeações. Na reta final das articulações para a composição da nova Mesa Diretora da Alesp, o Palácio dos Bandeirantes está praticamente concluindo as nomeações para cargos de segundo e terceiro escalões na estrutura do governo paulista sem aceitar as indicações dos deputados estaduais.

Conforme prometeu na campanha eleitoral, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem privilegiado o critério técnico nas nomeações, especialmente para cargos em empresas e autarquias estaduais, como a Sabesp, o DAE e a Cetesb. A prática desagrada os parlamentares, que, ao menos, gostariam de "apadrinhar" as indicações.

Segundo apurou a coluna, é pouco provável que esse ruído entre o governador e o Legislativo estadual interfira na composição da Mesa Diretora, no entanto, nos bastidores da Alesp, já há negociações para dificultar a vida de Tarcísio em seu primeiro ano do atual mandato.

A ordem do governador é para que somente após a composição do novo comando da Casa a articulação política atue para fazer o desenho final da base de apoio de Tarcísio.