Amanda Cotrim

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Reportagem

Milei adotará postura equilibrada em possível conclave de papa argentino

Apesar das divergências e ofensas do presidente Javier Milei ao papa Francisco, o governo argentino tenderá a adotar uma postura equilibrada e mais neutra em uma possível sucessão de Francisco. O mandatário argentino não estaria disposto a sustentar uma posição radicalizada sobre o papa. O assunto sobre uma possível sucessão é, inclusive, considerado "muito delicado" entre fontes ligadas ao governo.

Milei, segundo as fontes, está mais preocupado em preservar a sua imagem frente aos diversos setores da igreja católica. Também pretende evitar uma posição polarizada em relação à igreja e ao papa argentino. A opção, portanto, será por manter uma postura mais política.

Prova disso foi a discreta visita a Roma, em março, do secretário de Cultura e Civilização (ligado ao Ministério de Relações Exteriores), Nahuel Sotelo. Responsável por formular políticas e relações entre Argentina e Santa Sé, o jovem político de 30 anos passou dez dias na capital italiana com uma missão considerada silenciosa, mas importante: demonstrar o apoio do governo de Milei ao papa. A discrição teria sido uma ordem direta da Casa Rosada, que não quis expor a visita e evitou declarações bombásticas.

Sotelo se reuniu com autoridades do Vaticano e participou de atividades com a comunidade argentina na capital italiana, segundo o jornal La Nacion. Longe dos holofotes, afirmou nas redes sociais que a viagem teve como objetivo "acompanhar a difícil situação pela qual o papa Francisco está passando".

O presidente e as rusgas com a Igreja

A relação de Milei com a Igreja católica no país não é das melhores. O presidente enfrenta muita resistência de setores que são publicamente contrários aos discursos dele. Em especial, os sacerdotes dos setores populares, os chamados "curas villeros" (padres que moram e celebram missas nas paróquias das favelas), que chegaram a criticar em público como o ajuste fiscal do atual governo tem afetado os mais pobres.

Entre católicos moderados e conservadores que votaram em Milei, a visita do presidente argentino ao papa no ano passado foi vista com alívio e deu fôlego para que continuassem apoiando o presidente. Muitos tentam ignorar os insultos que Milei proferiu a Francisco antes de ser presidente, afirmando, inclusive, que o papa tinha ligação com o maligno. Para eles, os insultos pertencem ao passado e Francisco já perdoou o presidente.

Além da relação de Milei com a Igreja na argentina não ser das melhores, o setor ultra conservador católico no país não tem força suficiente para um respaldar a agenda conservadora do presidente, apontam, sob reservas, fontes ligadas ao governo.

Especialistas que estudam os meandros da Igreja católica, afirmaram ao UOL que o elo mais importante do governo Milei com o setor mais conservador da igreja é a vice-presidente argentina, Victoria Villarruel. Porém, a relação entre os dois está deteriorada há meses. Fontes ligadas ao presidente argentino descartam que a vice seria capaz de influenciar a atuação de Milei numa possível sucessão de Francisco.

A influência da Argentina, especialmente do governo Milei, sobre um novo papa é considerada irrelevante entre as fontes em Buenos Aires. Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que a questão sobre quem seria o novo papa está aberta. É possível que a instituição aponte tanto para uma nova ordem, radicalmente oposta à de Francisco, quanto para a continuidade o legado do papa.

O que pode acontecer num possível conclave, é que o discurso contra pautas de gênero e a lei de aborto, por exemplo, ganhem substância no país. Nesse sentido, Milei poderia tornar-se uma espécie de cabo eleitoral de Trump, se o mandatário estadunidense tentasse influenciar na escolha de um novo papa.

Reportagem

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3 comentários

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Balark Mello Sa Peixoto Junior

Só um trecho do texto resume tudo: "A influência da Argentina, especialmente do governo Milei, sobre um novo papa é considerada irrelevante"

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Paulo César Assis

O que o governo da Argentina tem a ver com o Vaticano, um estado soberano. Chega disso. Presidente i m b e c i l. A igreja deveria ser laica e independente.

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Jos Emilsom Perrut Duarte

Ele não tem que adotar nada. Milei em relação ao Santo Padre o Papa Francisco é um zero a esquerda. Quem é este senhor em se tratando de Jorge Bergoglio. Olha a diferença desse lunático despreparado para o Santo Padre 

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