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Amaury Ribeiro Jr

Delegado que apurou ataque a Bolsonaro vence sites bolsonaristas na Justiça

Jair Bolsonaro foi vítima de um atentado a faca em Juiz de Fora (MG) em setembro de 2018 - Reprodução de vídeo
Jair Bolsonaro foi vítima de um atentado a faca em Juiz de Fora (MG) em setembro de 2018 Imagem: Reprodução de vídeo

04/10/2020 04h02

Sites que apoiam o presidente Jair Bolsonaro estão sendo obrigados a se retratar e pagar indenizações na Justiça por terem, segundo as decisões judiciais, ofendido a honra do chefe do Departamento de Combate ao Crime Organizado na PF (Polícia Federal) de Minas Gerais, o delegado Rodrigo Morais.

Ele presidiu o inquérito que investigou a facada contra o presidente Jair Bolsonaro em setembro de 2018, em Juiz de Fora (MG). O atentado foi praticado por Adélio Bispo de Oliveira contra o então candidato à Presidência.

Morais tem obtido sucessivas vitórias nos 15 processos que ingressou na Justiça contra os sites em busca de reparação por danos morais.

Comandado pelo blogueiro de extrema direita Allan dos Santos, que está sob investigação da PF no inquérito que apura as fake news contra o STF (Supremo Tribunal Federal), o "Terça Livre", foi condenado a pagar uma indenização de R$ 5 mil.

O site "Jornal da Cidade On Line" foi condenado a pagar ao delegado um valor maior: R$ 15 mil.

Fechou acordo, em que se comprometeu a se retratar, o site "News Brasil Ltda". Entre os réus ainda não citados está o deputado Alexandre Frota (PSDB), ex-militante bolsonarista.

"Não tivemos nenhuma derrota. Foram quatro vitórias, dois acordos e, nos demais processos, os réus ainda precisam ser citados para apresentar defesa. Todas as indenizações já foram pagas", disse ao UOL o advogado do delegado, Vinícius Porto.

Revolta contra desfecho da investigação do atentado a Bolsonaro

Em seu relatório final sobre o caso Adélio, o delegado concluiu que o agressor agiu por conta própria, sem mandantes. O próprio Adélio, que, segundo laudos psiquiátricos, sofre de transtornos mentais, disse que não recebeu ordem de ninguém para matar o presidente.

Os sites e apoiadores de Bolsonaro não entenderam assim, passando a acusar Morais de ter escondido os nomes dos verdadeiros mandantes do crime por estar supostamente a serviço do PT (Partido do Trabalhadores).

A teoria conspiratória mencionava que Morais fora cedido pela PF ao Ministério da Justiça durante o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), e ao governo de Minas Gerais na gestão de Fernando Pimentel, para trabalhar no esquema de segurança da Copa do Mundo, realizada em 2014 no Brasil, e nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007.

"Meu cliente sequer conhece a Dilma e o Pimentel. Estava ali para fazer um serviço técnico", afirma Porto. Entre os condenados a pagar indenizações, estão sites conhecidos por criar fake news a fim de atacar pessoas que consideram ser adversárias de Bolsonaro.

"O valor é o que menos importante. O importante é que a Justiça reconheceu que meu cliente foi caluniado", afirma Porto. De acordo com laudo da perícia da Polícia Federal, o delegado foi ofendido agressivamente em sua honra por cerca de 50 sites e militantes. No entanto, Morais decidiu somente processar as pessoas que atacaram sua honra e vida pessoal.

"Ele diz que aceita críticas ao seu trabalho, que faz parte do processo democrático. Só não aceita ataques à sua sua vida pessoal, que deixaram seu familiares numa situação constrangedora", disse o advogado do delegado.