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Amaury Ribeiro Jr

Apoiadores de Bolsonaro foram vítimas de fake news sobre atentado da facada

Teorias sobre o atentado de Adélio Bispo contra Bolsonaro em setembro de 2018 atingiram pessoas sem relação com o crime - DIVULGAÇÃO/2° BPM
Teorias sobre o atentado de Adélio Bispo contra Bolsonaro em setembro de 2018 atingiram pessoas sem relação com o crime Imagem: DIVULGAÇÃO/2° BPM

21/11/2020 04h03

A teoria conspiratória promovida pelas redes bolsonaristas sobre o atentado a faca contra o então candidato Jair Bolsonaro, em 2018, traumatizou um grupo de 15 pessoas inocentadas em investigação da Polícia Federal, que se dizem abaladas até hoje com o impacto das falsas acusações.

As fake news tentaram envolver partidos de esquerda na tentativa de assassinato em Juiz de Fora (MG). Estas pessoas, posteriormente inocentadas, foram atacadas e acusadas em redes sociais por supostamente terem ajudado a passar a faca para Adélio Bispo de Oliveira esfaquear Bolsonaro.

"É uma dor que não passa. Sofro de síndrome de pânico até hoje, tenho medo até hoje de sair de casa", disse ao UOL a bancária Lívia Gomes Terra, militante sindical e do PT, uma das pessoas acusadas na época de "passar a faca" para Adélio — uma mentira.

Lívia conta que, no dia da tentativa de homicídio, estava de licença médica, em casa, de repouso. Mas, de acordo com a teoria conspiratória, baseada na errônea interpretação de um vídeo que circulou na internet, Lívia seria a mulher de óculos que teria entregue a faca para o comerciante Valdeir Caetano dos Santos, outra vítima das fake news. Esse homem, por sua vez, de acordo com os bolsonaristas, teria repassado a arma branca para Adélio.

No entanto, provou-se depois que a mulher de óculos que aparece no vídeo na verdade é a militante bolsonarista Y (inicial fictícia), que compareceu à Polícia Federal espontaneamente para esclarecer os fatos. "Eu não podia deixar uma pessoa inocente pagar por um crime que não cometeu. A imagem é minha, mas até hoje o nome que apareceu foi o dela", afirma Y., que pediu ao UOL para não divulgar o seu nome. E explicou o motivo: embora tenha sofrido também de síndrome pânico, até hoje ela participa de grupos de direita na internet que apoiam o presidente Bolsonaro.

Também está longe de ser militante de esquerda o comerciante Valdeir Caetano dos Santos, acusado em blogs, sites e em uma emissora de TV de ter repassado a faca para Adélio. "Estava lá para apoiar o Bolsonaro. Fizeram uma montagem para me incriminar. Foi traumático, mas tudo está mais calmo agora", afirmou Santos.

Morando em Florianópolis (SC), Maria Luiz Serpa Casagrande, também foi alvo da mesma divulgação falsa. Ela disse que tenta esquecer a dor provocada pelas falsas acusações. "Quero esquecer de tudo. Quanto mais a gente fala, mais alimenta o fato", afirmou a vítima.

Procuradas pelo UOL, outras quatro vítimas também se dizem traumatizadas, tentam superar o trauma e evitam comentar o assunto. Elas confirmaram os traumas mas preferiram não conceder entrevista para esta reportagem.

De acordo com a investigação da PF, a tentativa de assassinar Bolsonaro foi um ato isolado de Adélio, diagnosticado como doente mental por psiquiatras forenses. Bolsonaro nunca admitiu essa conclusão e, assim, estimula sua militância radical, que insiste na tese de que o crime foi articulado por partidos de esquerda.