Chega! Quantos ainda precisam morrer para cessar toda essa insanidade?
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"Os idiotas dominarão o mundo, não pelo saber, mas pela quantidade. Eles são muitos" (Nelson Rodrigues, antes de existir a internet).
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"Eu trabalho em 2 hospitais pelos quais passou a carreata da morte em São Paulo hoje. Saí de um deles às 7h a caminho de outro plantão. Na frente da gente, nas UTIs, gente lutando para não morrer de Covid. Do lado de fora, gente querendo ver mais gente morrer. É desesperador" (Thiago Silva, profissional de saúde, no meu Facebook).
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"Não está difícil saber o que nos espera" (presidente Jair Bolsonaro, hoje de manhã, no Twitter).
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Sim, todos nós sabemos o que nos espera, depois das últimas mudanças no Ministério da Saúde e dos novos ataques de Bolsonaro contra a quarentena.
Saem os técnicos de Mandetta, funcionários de carreira do Ministério da Saúde, e entram os militares escalados pelo presidente para assessorar o empresário Nelson Teich, um desconhecido ex-médico, que se tornou homem de negócios, a serviço de hospitais privados e planos de saúde, para ensinar como faturar mais, gastando menos com os pacientes.
"Fui médico", disse Teich, assim de passagem, em seu discurso de posse, no qual se declarou "em alinhamento completo com Bolsonaro", como lembrou hoje Janio de Feitas, na sua coluna na Folha", sob o título "Festa no hospício" _ a mais perfeita definição do país neste momento trágico.
Pois esse é o perigo. Sem ter a menor experiência em saúde pública, o novo ministro será "alinhado" por dois militares já escalados pelo presidente, o contra-almirante Flávio Rocha e o general Eduardo Pazuello, que deverá ser o secretário-executivo, segundo o Globo deste domingo.
De tanto ouvir falar que o combate ao coronavírus é uma guerra, Bolsonaro resolveu recorrer mais uma vez à tropa para dar armas e argumentos às suas milícias digitais, que já saíram das redes para as ruas, colocando em risco a vida de pacientes nos hospitais, como aconteceu ontem em São Paulo.
São inacreditáveis as cenas dos degenerados montados em suas potentes SUVs (Sport Utility Vehicle) blindadas, que fecharam os acessos e promoveram buzinaços com um carro de som em frente a dois dos maiores hospitais de São Paulo, o das Clínicas e o Emilio Ribas.
Para defender a política genocida de Bolsonaro e protestar contra o governador João Doria e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que defendem o isolamento social, os manifestantes motorizados infernizaram a vida dos paulistanos pelo segundo fim de semana seguido, sob o olhar complacente da Política Militar, que a tudo apenas assistia, sem intervir.
Mas as manifestações não estão proibidas por decreto do governador que prorrogou a quarentena até o próximo dia 10 de maio?
Até quando Doria vai esperar para chamar o comandante da tropa na chincha? Ou eles só podem entrar em ação contra estudantes e professores?
Em várias partes do país, a desobediência à quarentena se espalhou como um rastilho de pólvora, insuflada pelas palavras de ordem do próprio presidente da República, que saudou a passagem da carreata contra a vida em Brasília, confraternizando com seus devotos, todos sem máscaras de proteção e muito ódio para dar.
Contra a determinação de prefeitos e governadores, os comércios de todo tipo voltaram alegremente a abrir as portas, uma loja após a outra, e a freguesia correu atrás, feito gado que rompeu a porteira a caminho do matadouro.
Político matreiro e bom de Gogó, Luiz Henrique Mandetta, ex-deputado do DEM, não era nenhuma maravilha de ministro, não conseguia nem saber quantos mortos e doentes o país tinha de fato ao final de cada dia, desde o início da pandemia, mas conseguia pelo menos conter os impulsos mais suicidas e assassinos do governo ao qual servia, e por isso acabou dançando.
Agora, com o inexpressivo, sorumbático e macambuzio Nelson Teich, que não tem a menor ideia de como funciona o Ministério da Saúde, orientado por militares de confiança do Planalto, o caminho está aberto para que a pandemia avance mais célere pelo país, sob a batuta de Jair ( "quem manda aqui sou eu") Bolsonaro, para quem devem morrer quantos idosos tenham de morrer, contanto que o mercado volte a fazer seus negócios.
Se pesquisas estiverem certas, Nelson Rodrigues ficaria assustado: uns 30 milhões de brasileiros ainda apoiam essa carnificina da saúde pública, patrocinada pelas carreatas de carrões que se multiplicam pelo país afora, pedindo para todo mundo voltar às ruas, como quer o presidente.
Não é preciso ser um Bolsonaro para saber o que nos espera. "Um massacre", resume Antonio Prata em sua coluna de hoje na Folha, em que chama repetidas vezes o presidente de louco, burro, assassino, sociopata.
"Sim, me repito. Eu não sei mais o que escrever. Eu tô há dois anos tentando apontar o obvio ululante, mas parece que o país enlouqueceu. O Brasil, que nunca foi lá muito saudável, resolveu suicidar-se. Elegeu um louco para a presidência", e vai por aí o desabafo do cronista.
Prata lembra que anos atrás Bolsonaro disse que o Brasil só daria certo se houvesse uma revolução e 30 mil pessoas morressem.
"Pois bem, ele acredita que sua eleição foi uma revolução e desde que a pandemia do coronavirus chegou por aqui, todas suas atitudes vão no sentido de cumprir a promessa e matar 30 mil pessoas. Ou muito mais".
Quantos ainda precisam morrer para cessar toda essa insanidade?
Nós devemos ser o único país do mundo em que o Ministério da Saúde agora está entregue nas mãos de um médico empresário, um general e um contra-almirante, sob o comando de um ex-tenente expulso do Exército.
"Vamos assistir quietos a este facínora cometer um massacre?", pergunta o angustiado colunista, filho do grande Mário Prata, meu contemporâneo dos tempos em que ser jornalista era correr risco de vida, mas a gente nunca perdia a esperança.
Tá na hora de fazer o almoço.
Vida que segue (só não sei por quanto tempo).
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