Apareceu o Queiroz, mas agora quem sumiu foi Bolsonaro
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São três horas da tarde desta quinta-feira e, desde a prisão de Queiroz, no começo da manhã, até agora ninguém viu nem ouviu Bolsonaro.
O presidente saiu mais cedo do que de costume do Alvorada, não parou para falar com a sua claque, e entrou direto no Palácio do Planalto.
Chamou logo dois advogados de confiança e se trancou no gabinete com eles: o ministro da Justiça, André Mendonça, e o secretário-geral, Jorge Oliveira.
Como explicar que o seu velho amigo Fabrício Queiroz tenha sido preso justamente na casa do advogado da família, Frederick Wassef, onde ele estava acoitado há mais de um ano?
Acossado por todos os lados, no momento de maior fragilidade do seu desgoverno, só faltava mais essa: Queiroz é a caixa-preta que cuidava dos negócios escusos dos Bolsonaros e era o elo da família com as milícias cariocas acusadas pela morte de Marielle Franco.
Quando estourou o escândalo das "rachadinhas" no gabinete de Flávio Bolsonaro, logo após as eleições de 2018, o fiel operador do esquema virou um fantasma, o esqueleto escondido no armário que assombrava o clã presidencial.
Mantido desde então em obsequioso silêncio, Queiroz avisou que só queria proteção para a família.
Esse pacto de sangue ruiu hoje porque, além de Queiroz, o juiz Flávio Itabaiana Nicolau, da 27ª Vara Criminal do TJ do Rio pediu também a prisão da mulher dele, Márcia Oliveira de Aguiar, porque eles poderiam ameaçar as testemunhas e atrapalhar as investigações.
Itabaiana citou mensagens dela em que chegou a comparar o marido com um "bandido que tá preso, dando ordens aqui fora, resolvendo tudo". Até o momento em que escrevo, Márcia está foragida.
Calado desde o momento da prisão, Queiroz só abriu a boca para perguntar aos policiais se havia também algo contra a sua filha Natália, ex-assessora do então deputado Jair Bolsonaro, em Brasília, embora morasse e trabalhasse no Rio como personal-trainer.
Natália e Queiroz foram demitidos no mesmo dia, antes das eleições, quando a família foi avisada por alguém de dentro da Polícia Federal, segundo o amigo e empresário Paulo Marinho, que havia uma operação chamada Furna da Onça pronta para ser desencadeada contra os envolvidos nas "rachadinhas".
Chamado pela familia de "Anjo", nome dado à da operação policial de hoje, Frederick Wassef não é advogado de Queiroz, mas foi ele quem indicou o colega Paulo Emilio Catta Preta, de Brasília, para fazer a defesa dele e que já estava à sua espera quando o ex-assessor, motorista, segurança e faz tudo dos Bolsonaro chegou ao presídio de Benfica, no Rio.
Fecha-se aí mais um elo envolvendo as milícias com o entorno dos Bolsonaro. Catta Preta era também o advogado de Adriano da Nóbrega, miliciano do Escritório do Crime, morto pela polícia em fevereiro.
Parentes do "Capitão Adriano", como era conhecido, trabalhavam no gabinete de Flávio Bolsonaro, quando o atual senador era deputado estadual no Rio. Com ele, a polícia apreendeu 18 celulares num sítio no interior da Bahia, onde ele se refugiou. Até hoje, não há notícia sobre o resultado da perícia feita nesses celulares.
Com a prisão de Queiroz, muitos mistérios e histórias mal contadas em todo esse imbroglio podem agora finalmente ser esclarecidos pela Justiça e atingir o coração do governo, com consequências imprevisíveis.
No meio da tarde, para mudar de assunto, num vídeo divulgado pelas redes sociais, Bolsonaro quebrou o silêncio ao comunicar a esperada demissão do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que deverá ser substituído por outro discípulo do guru Olavo de Carvalho. Sobre a prisão de Queiroz, até agora, nenhuma palavra.
Foi mais uma cena constrangedora neste vergonhoso fim de feira em Brasília.
Estamos caminhando para um estado de anomia governamental, com o país anestesiado, contando seus mortos na pandemia. Não há perigo de melhorar.
Só faltava aparecer a bomba-relógio chamada Queiroz.
Apertem os cintos, o governo sumiu.
Vida que segue.
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