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Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula é um grande comunicador, mas o governo está se comunicando muito mal

22.set.2020 - Deputado federal Juscelino Filho (DEM-MA): o médico e criador de cavalos de raça que virou ministro das Comunicações e se tornou um grande estorvo para o governo - Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados
22.set.2020 - Deputado federal Juscelino Filho (DEM-MA): o médico e criador de cavalos de raça que virou ministro das Comunicações e se tornou um grande estorvo para o governo Imagem: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados

Colunista do UOL

01/03/2023 12h24

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No dia em que completa o segundo mês do seu terceiro mandato, já dá para vislumbrar os pontos fortes e fracos do governo Lula, após um início atribulado pelas bombas-relógio pelo antecessor, dos atentados terroristas de 8 de janeiro ao genocídio dos yanomami e da floresta amazônica, do rombo fiscal provocado pela desoneração dos combustíveis com fins eleitorais à completa desorganização da máquina pública.

Os terroristas foram presos, as crianças indígenas deixaram de morrer de fome, o Brasil voltou a ter voz na política externa, os flagelados do Litoral Norte de São Paulo tiverem o governo encontrou uma solução intermediária para equilibrar a questão fiscal e o preço dos combustíveis, mas ainda demora a reagir diante de problemas criados pela sua própria equipe, que podem trazer mais dissabores ao governo dissabores num futuro próximo. São os pontos fortes.

"Nós só não podemos errar na política", costumava repetir Lula a seus ministros e assessores no início do primeiro governo, e acabou sendo exatamente este o campo em que mais enfrentou crises, que acabariam levando à derrubada de Dilma Rousseff e à sua prisão pela Lava Jato num processo anulado pelo Supremo Tribunal Federal.

Pensei que, por isso, desta vez, Lula tomaria mais cuidados na formação da sua base aliada e da equipe ministerial para poder governar em paz. O caso emblemático da nomeação de Juscelino Filho como ministro das Comunicações, indicado pela União Brasil de Luciano Bivar e Sergio Moro, mostra que, infelizmente, isso não aconteceu.

Começa pelo cargo destinado a ele, sem ter qualquer afinidade com a área das Comunicações, e ser um deputado inexpressivo no baixo clero do Centrão, um médico radiologista e criador de cavalos de raça, que não os declara ao Fisco, e que não consegue garantir votos nem do seu próprio partido.

Acumulam-se há mais de mês denúncias graves contra Juscelino, publicadas pelo Estadão, por mau uso de dinheiro público, do asfaltamento de uma estrada, com recursos do orçamento secreto, para a sua fazenda em Vitorino Freire, no Maranhão, onde sua irmã é prefeita, e chegando à requisição de avião da FAB em "caráter de urgência", além da cobrança de diárias, para ir a um leilão de cavalos no interior de São Paulo.

E, até o momento em que escrevo, o Palácio do Planalto não deu um pio sobre as providências que pretende tomar, ou não, para investigar o ministro tóxico, que faria boa figura no governo passado por utilizar os mesmos meios para se dar bem às nossas custas.

Isso leva a um segundo ponto fraco do governo: a comunicação. É sabido que, em qualquer governo, quando aparecem os problemas na imprensa, a comunicação é sempre a primeira a ser responsabilizada. O ministro Miro Teixeira, jornalista e veterano parlamentar, por coincidência também ministro das Comunicações, tinha até um bordão nas conversas com o presidente, qualquer que fosse o assunto.

"A culpa é do Kotscho", sentenciava, referindo-se ao Secretário de Imprensa _, no caso, este colunista que vos escreve. Às vezes, era mesmo, mas no geral tratava-se de mera consequência de erros ou omissões na articulação política, que levavam a notícias negativas publicadas na imprensa.

É este o caso do ministro Juscelino: sem uma decisão política sobre o que fazer com o problema, a área de comunicação social fica sem saber o que dizer, não tem o que comunicar para dar uma satisfação ao distinto público. Vai ficar tudo por isso mesmo?, perguntam-se as pessoas, diante da inação do governo. Perguntam até para mim, que deixei o governo faz 19 anos, no primeiro mandato.

Sem um permanente trabalho conjunto da articulação política com a comunicação social, participando das mesmas reuniões e definindo o que dizer, com a urgência necessária, o governo fica perdido em seu labirinto, só vendo os problemas crescerem e se acumularem.

Todos reconhecem no presidente Lula atilado faro político e grande capacidade de comunicação, mas ele sozinho não pode ser a única fonte de informações do governo. Os problemas têm que sair do seu gabinete menores do que entraram, e o mais rápido possível.

No futebol, quando o time perde, ninguém quer dar entrevista à imprensa, saem todos de campo correndo. Na política, não pode ser assim. O jogador que perdeu o penalti ou foi expulso tem que ser o primeiro a dar uma satisfação à torcida. Mas Juscelino e o governo continuam mudos. Espero que até o final do dia desmintam essa matéria.

Vida que segue.