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Seleção feminina não é só das mulheres: cadê os homens na nossa torcida?

Assim que o jogo acabou, a Globo/SporTV mostrou imagens das comemorações em vários pontos do país, como sempre faz quando joga a seleção masculina numa Copa do Mundo, e um detalhe me chamou a atenção.

A diferença foi que, desta vez, quase só se viu meninas e mulheres na festa da vitória por 4 a 0 da nossa seleção feminina, na estreia no Mundial, na manhã desta segunda-feira, em Adelaide, na Austrália. A seleção é feminina, mas o futebol jogado por elas merece a torcida de todos nós.

Cadê os homens? Como o jogo foi às 8h da manhã, podem alegar que estavam dormindo ou trabalhando, mas, e se fosse a seleção masculina jogando, não iriam parar para ver? Nas repartições públicas federais foi declarado ponto facultativo e, com a bela exibição de hoje, pode ser que na próxima partida, contra a França, no sábado, os homens também comecem a dar o ar da graça na torcida.

Ao chegar à Austrália, a seleção feminina não estava entre as favoritas ao título, mas agora já pode sonhar mais alto. Fora a Alemanha, que meteu 6 a 0 em Marrocos, as brasileiras foram as que mostraram o futebol mais exuberante e competitivo. Não vi até agora nenhum bicho-papão. Dá para encarar todas as seleções adversárias e fazer bonito.

Proibido no Brasil até 1979 pelos homens que nos governavam, o futebol feminino enfrenta preconceitos até hoje, e essa é a maior dificuldade para as meninas que querem jogar bola, porque muitas escolas ainda têm só equipes de futebol de meninos e nem todas famílias aceitam que suas filhas pratiquem esse esporte "masculino".

Uma dessas meninas, que ralou muito para se tornar uma jogadora de seleção brasileira de futebol é Ariadina Alves Borges, a Ary Borges, hoje com 23 anos, nascida em São Luís do Maranhão e criada pela avó em São Paulo, onde começou sua carreira.

Foi nisso que ela pensou ao cair no choro depois de marcar de cabeça o primeiro gol do Brasil na Copa. Depois, fez mais dois e entregou outro de colher para Bia Zaneratto marcar o quarto na goleada contra o Panamá.

Desde que o futebol feminino foi profissionalizado em nosso país, o cenário já mudou e melhorou muito para as nossas meninas. Agora, elas têm melhores condições de trabalho e treinamento e já não precisam pedir emprestado o uniforme da seleção masculina para disputar copas. Pela primeira vez, receberam também elegantes trajes sociais para as viagens.

A maior diferença ainda se dá nos salários em relação ao futebol masculino, o que faz com que elas saiam ainda jovens do Brasil para jogar no exterior, como Ary Borges, que atua no Racing Louisville, dos Estados Unidos, depois de passar pelo São Paulo e pelo Palmeiras.

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Para a festa ficar completa, só faltava ver Marta em campo. Aos 29 minutos, ela entrou para delírio da torcida, mostrou que está em boa forma e pode ser muito importante para a evolução da equipe brasileira.

Torcida e jogadoras cantaram o Hino Nacional a capela, mesmo após o fim da música oficial, um sinal da aproximação entre o campo e a arquibancada, que andavam distantes nos jogos da seleção masculina.

Pode ser até que a seleção feminina consiga regatar o amor de todos os brasileiros pela camisa verde-amarela, que foi sequestrada nos últimos tempos por um grupo político. Em Adelaide, já vimos isso na torcida brasileira uniformizada, a mais animada do Mundial.

Que os homens não se acanhem e vistam também a amarelinha da seleção no sábado para ajudar as meninas a trazer o caneco ainda inédito no futebol feminino.

Vida que segue.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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