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Camilo Vannuchi

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Neste domingo, tragam de volta a festa da democracia

Detalhe do botão Confirma da urna eletrônica - Antonio Augusto/Ascom/TSE
Detalhe do botão Confirma da urna eletrônica Imagem: Antonio Augusto/Ascom/TSE

Colunista do UOL

29/09/2022 04h00

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A expressão "festa da democracia" é um dos maiores clichês cometidos pela imprensa. Desde a redemocratização, virou sinônimo de eleição, um lugar-comum tão comum, mas tão comum, quanto dizer que determinada campanha está indo "de vento em popa" enquanto a outra está "indo por água abaixo", ou afirmar que a pregação pelo voto útil "atingiu em cheio" a terceira via, embora "só Deus saiba" o resultado das urnas. Afinal, "o futuro a Deus pertence". Argh.

Neste ano, no entanto, tenho reparado que a festa de democracia "caiu em desuso". Ou, pelo menos, que a "mal-fadada" expressão não tem sido reproduzida "a todo vapor" nem "espalhada aos quatro ventos" como antes. O que poderia ser uma ótima notícia, ao contrário, inspira preocupação. O mérito, se é que existe mérito nisso, parece ser menos dos colegas jornalistas, enfim dispostos a enfrentar a "enxurrada" de clichês - "antes tarde do que nunca" - do que da conjuntura política.

Se as ruas não estão tomadas por bandeiraços e panfletagens como há dez anos, nem os carros ostentam adesivos e perfurates como antes, tampouco as camisetas e as praguinhas "marcam presença" nos ambientes profissionais e estudantis como em disputas anteriores, mesmo às vésperas do pleito, é provável que não seja o clichê que anda escasso, mas a própria festa.

O que fizeram da festa da democracia? O que fizeram de nós?

A resposta está no noticiário:

9 de setembro de 2022: Bolsonarista mata petista horas após Jair defender 'extirpar' opositores.

21 de setembro de 2022: Janela com bandeira do PT é atingida por tiros no Recife.

21 de setembro de 2022: Pesquisador do Datafolha é agredido com chutes e socos por bolsonarista no interior de SP.

22 de setembro de 2022: Apoiadores de Bolsonaro seguem escalada de violência com pelo menos um caso de agressão por dia.

23 de setembro de 2022: Homem dá tiros para o alto e ameaça cabos eleitorais do PT em Minas.

24 de setembro de 2022: Jovem é agredida com paulada na cabeça após crítica a Bolsonaro em Angra.

26 de setembro de 2022: Deputado petista denuncia ataque a tiros em MG durante ato de campanha.

26 de setembro de 2022: Homem pergunta quem vota em Lula e mata eleitor em bar no Ceará.

26 de setembro de 2022: Bolsonarista morre a facadas em bar em SC; polícia apura motivação política.

27 de setembro de 2022: Comitê de deputado do PT que coordena campanha de Haddad sofre ataque em Osasco (SP).

28 de setembro de 2022: Mulher que usava bolsa com estampa de Lula é agredida na rua, em Brasília.

No próximo domingo, as leitoras e os leitores "hão de convir", é preciso "colocar um ponto final" nessa violência e "dar a volta por cima". Recuperar a civilidade e restaurar a liberdade de escolha, "irmã siamesa" da liberdade de expressão, devem se tornar nossas prioridades, uma vez que são de "suma importância" para a "vida em sociedade". Um compromisso "para ontem". A alternativa é "voltar à estaca zero", ao "fundo do poço". Se vai dar certo, "só o tempo dirá".

Que esse tema não passe "em brancas nuvens" nesta "reta final". Para que a gente consiga fechar a campanha "com chave de ouro" e, num futuro não muito distante, retomar a "festa da democracia".