Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Caro Diogo, você tinha de estar aqui para ver tudo isso
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Diogo, meu caro, que coisa linda foi a última segunda-feira. Catadoras e catadores de material reciclável voltaram a ocupar o salão nobre do Palácio do Planalto e foi daquele jeito. Emoção e garra. A camiseta e o boné do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) pareciam compor uma espécie de uniforme oficial no recinto.
Roberto, da Associação Nacional dos Catadores (ANCAT), inaugurou a tribuna e fez um baita discurso. Lembrou que são mais de 800 mil catadores no país, agentes ambientais que dão nó em pingo d'água para fazer girar a roda da coleta seletiva no Brasil.
Ivanilda, da COOPVILA, falou em seguida. Destacou a vitória que representa a assinatura do decreto que institui a recriação do Programa Pró-Catador, sobretudo após quatro anos em que, segundo ela, a categoria foi massacrada. Depois, voltou para seu lugar no palco, entre os ministros Fernando Haddad e Marina Silva.
O novo Programa Pró-Catador ganhou teu nome, Diogo. É sério. Deixou de ser apenas Programa Pró-Catador, como na tua época, para se transformar em Programa Diogo de Sant'Ana Pró-Catadoras e Catadores para a Reciclagem Popular. O nome cresceu com a mesma urgência que cresceram a responsabilidade social e política diante de tanto abandono. E chega antirracista, feminista e solidário, como é do teu feitio.
Estava todo mundo lá, camarada. A Dani, tua prima, pegou um avião com a tia Daize e registrou tudo com o celular, as duas logo na primeira fila, ao lado da Gabriela e do Caetano, da Lívia e do Vini. Tinha amigos teus por todo lado, no palco e na plateia. Além de Haddad e Marina, estavam no palco o Silvio Almeida, o Wellington Dias, a Dilma, o Alckmin, a Janja e o Lula.
É claro que o presidente foi o último a falar. Mas quer saber? Tu conseguiste ofuscar o presidente, meu velho. É sério. A galera só queria saber de você. Foi um tal de "Diogo, presente" para cá, "Diogo, presente" para lá. "
Teve um momento em que a Aline, da CENTCOOP, entregou uma parada para a Gabi e o Caetano. Assim, no palco, diante das câmeras. Nem sei o que era, tampouco escutei as palavras trocadas, mas achei uma entrega tão simbólica. Fiquei emocionado.
Preciso te contar um lance da Aline. Foi ela quem entregou a faixa para o Lula no alto da rampa no dia 1º de janeiro. Pois é, depois que o outro fugiu do país, a equipe da transição teve a ideia de montar um pequeno grupo de pessoas representativas da sociedade e todas elas subiram a rampa juntas. Adivinha quem foi a mulher negra que, na hora agá, botou a faixa ao redor do pescoço do Lula. Apenas um mês e meio depois, a Aline voltou ao palácio para novamente entregar algo significativo, dessa vez para os teus filhos. Não é demais? E como eles estão lindos. Você ia ficar orgulhoso.
Rapaz, é tanta coisa para contar que nem sei por onde começo. Estive em Brasília uma semana antes, para falar sobre fome e agroecologia no lançamento de um livro que escrevemos sobre o assunto, eu e a Simone, que você não conheceu. Pensei em você pra dedéu. Em certo momento, ali no Feitiço, me vi proseando com o Paulo e o Gil, hoje ministro do desenvolvimento agrário e secretário nacional de economia solidária, e parecia que você iria irromper por ali a qualquer momento.
Não tenho dúvidas de que você estaria nesse governo, aliás, pelejando para colocar o povo pobre de volta no orçamento, fortalecer os pretos e as mulheres, e garantir os meios necessários para conquistar a soberania alimentar, esse passo tão necessário, para além da comida no prato e da segurança alimentar.
Cara, neste fim de semana é Carnaval e sabe o que acabei de ler no site do MST? Que o movimento vai ocupar o Anhembi como parte do enredo da Camisa Verde e Branco, no domingo. "Até quando a pobreza irá sustentar a riqueza de homens que assolam o país?", diz o samba. O tema da escola será "os invisíveis". No caso, os invisibilizados, os vulneráveis, os que habitam as franjas, os que passam fome.
São 33 milhões de brasileiros com a barriga, a panela e a despensa vazias, afinal. E mais de 125 milhões com algum grau de insegurança alimentar. Há muito a ser feito, Diogo. Muito. E é tudo pra ontem, como diz o Emicida.
E o Saia? Bom, o Saia "sai sem anistia, sempre amador, amado e amante na folia".
Ando meio saudosista. Até botei um álbum do Fundo de Quintal para tocar enquanto te escrevia. Não quero me estender por aqui. Nos vemos em breve. No dia 26 de março vai ter Samba do Encontro e estaremos juntos. "Valeu por você existir, amigo".
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