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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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PT vê dedo de Ciro em escolha do PDT que implode aliança no Ceará

Ciro Gomes é ligado a Roberto Claudio, candidato escolhido pelo PDT no Ceará  - Reprodução/Facebook
Ciro Gomes é ligado a Roberto Claudio, candidato escolhido pelo PDT no Ceará Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

20/07/2022 04h00

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A escolha do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Claudio como candidato do PDT para disputar o governo do Ceará foi entendida pelo PT como uma encomenda para forçar uma ruptura do PT com esse grupo político. A escolha escanteou a atual governadora, Izolda Cela (PDT), que era a preferida não só pelo PT, mas por partidos que compõem a base aliada.

O PT comanda o Ceará desde 2015. Camilo Santana tinha Izolda como vice, assumindo o governo após a renúncia dele, em abril.

Os petistas e outros partidos da base queriam que Izolda fosse a escolhida para concorrer em outubro. Chegaram a colocar essa condição para se manterem na aliança, mas a pressão não funcionou.

Do lado pedetista, o argumento principal para escolha de Roberto Claudio é que ter sido feita de forma autônoma pelo diretório estadual, além de ele ser o nome mais bem colocado nas pesquisas de intenção de votos já divulgadas. "Esse critério foi colocado de forma transparente a todos os quatro nomes", disse Ciro, em entrevista no dia 15 de junho.

Ciro e seus irmãos —o senador Cid e o prefeito de Sobral Ivo— não participaram da votação de segunda-feira que escolheu Roberto Claudio.

PT não aceita Roberto

Com a definição por Roberto, a ruptura do PT com o PDT é dada como certa. "A escolha do PDT foi uma demonstração clara de que o partido não quer o apoio do PT", diz a ex-prefeita de Fortaleza e deputada federal Luizianne Lins (PT).

Ela, inclusive, é um dos nomes cotados para ser candidata a governadora ou mesmo como vice em uma eventual nova chapa.

Luizianne Lins é contra manter aliança com PDT - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Luizianne Lins é contra manter a aliança com o PDT
Imagem: Reprodução/Facebook

Lins falou ontem sobre o caso em um programa de entrevistas no YouTube. Ela classificou a decisão como uma "intransigência do PDT e de Ciro Gomes contra Izolda".

Para ela, no atual cenário, não há como pensar em manter a aliança. "Vamos discutir a candidatura própria do partido. Já estava posto que o nome de Roberto Claudio não interessa ao PT por uma série de motivos, como as desconstruções que ele fez como prefeito [ele foi o sucessor de Luizianne em Fortaleza, em 2013], como por não agregar à base aliada de Camilo e Izolda", diz, voltando a atacar Ciro.

Ciro Gomes fez de tudo para escolher o candidato dele, certamente porque não quer amargar a vergonha de perder até para Jair Bolsonaro no seu estado. Mas ele está colhendo o que plantou pelas grosserias e forma como ele trata as pessoas. O Ceará não aguenta mais essa postura de coronel."
Luizianne Lins, deputada federal pelo PT no Ceará

Procurado, Ciro não quis conversar com a coluna.

Nos bastidores, comenta-se que a escolha de Roberto Claudio tem a ver com a proximidade com Ciro Gomes. "Houve uma contaminação a nível federal que levou à aparente 'forçação de barra' da ruptura da aliança para Ciro ter um palanque fiel no seu estado", afirma Monalisa Torres, cientista política, socióloga e professora da UFC (Universidade Federal do Ceará).

Ela explica que na família Ferreira Gomes existia uma divisão de tarefas: "O Ciro trabalha questões nacionais, e Cid cuida de questões domésticas".

Segundo ela, Cid sempre foi o político que ficava responsável pela negociação com prefeitos e pela divisão das bases para ter o maior número de deputados. "Mas em 2022 Cid foi arrebatado, sumiu do mapa, desapareceu", diz Torres.

"Eu escutei relatos de alguns políticos da base governista reclamando da ausência do Cid. Então a gente considera que, na ausência do Cid, quem é que assume esse lugar de articulação? Acredito que o Ciro teve um peso importantíssimo nessa articulação [pró Roberto Claudio]", completa.

Senador Cid Gomes e Camilo Santana: aliança rendia bons frutos a PDT e PT há anos - Antonio Cruz/ Agência Brasil - Antonio Cruz/ Agência Brasil
Senador Cid Gomes e Camilo Santana: aliança rendia bons frutos a PDT e PT há anos
Imagem: Antonio Cruz/ Agência Brasil

PT debate caminho

Após Izolda ser preterida, petistas locais se manifestaram nas redes sociais. O ex-governador Camilo Santana, por exemplo, lamentou a escolha de Claudio.

Santana é tido como a maior liderança do partido no estado e um dos maiores defensores (dentro do PT) da continuidade da aliança. Ele não concedeu entrevistas desde a decisão do PDT cearense que escolheu Claudio.

O caminho do PT, disse o deputado federal José Guimarães (PT) em entrevista ao "Diário do Nordeste", deve ser debatido durante a semana com aliados como MDB e PP e será definido provavelmente no sábado, em uma conversa de integrantes com Camilo Santana.

Procurado, Guimarães não respondeu às mensagens da coluna para comentar sobre as negociações.

Um dos nomes que surge com força nos bastidores é o do ex-senador Eunício Oliveira (MDB), que tem participado de encontros e goza de grande prestígio com o ex-presidente Lula.

Na segunda-feira, enquanto o PDT decidia por Roberto Claudio, ele se reunia com Lula para informar sobre o apoio do MDB de 11 estados ao ex-presidente na corrida de outubro —embora o MDB tenha a senadora Simone Tebet (MS) como pré-candidata ao governo.

Segundo apurou a coluna, ele tenta um apoio de Lula e do PT nacional para se lançar candidato numa chapa junto com Camilo como senador e com apoio do ex-presidente. Nessa conjuntura, Luizianne poderia ser vice na chapa.