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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Bases de Bolsonaro em Alagoas, Lira e Collor racham em disputa estadual

Lira aperta a mão de Collor após discursar enquanto Bolsonaro sorri, em Maceió - Reprodução
Lira aperta a mão de Collor após discursar enquanto Bolsonaro sorri, em Maceió Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

29/06/2022 04h00Atualizada em 29/06/2022 12h09

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Os dois principais políticos que apoiam Jair Bolsonaro (PL) em Alagoas foram cortejados e cortejaram o presidente ontem, durante visita a Maceió.

Apesar de terem suas cadeiras colocadas ao lado de Bolsonaro e compartilharem os mesmos discursos a favor do presidente, o deputado Arthur Lira (PP) e o senador Fernando Collor (PTB) estão em lados diferentes na disputa ao governo do estado.

Recentemente, Collor se lançou pré-candidato ao governo, sem ter a certeza da aliança formal do PL e do presidente. A coluna contou, à época, que o presidente quer evitar um racha na base aliada que gere problema e nacionalize a campanha alagoana.

O pedido claro de Bolsonaro foi para que Lira e Collor se entendam, mesmo que em palanques diferentes. Ontem, eles trocaram cumprimentos cordiais durante a visita do presidente.

Nos bastidores, Arthur Lira tem afirmado que não vê problemas no fato de o presidente ter mais de um palanque em Alagoas. Ele descarta totalmente a possibilidade de se unir a Collor na caminhada no primeiro turno.

Aplaudidos e fiéis

A empatia do público bolsonarista em Alagoas com Collor e Arthur Lira já é quase unânime —e isso pôde ser notado ontem, quando os dois foram chamados para discursar.

O ex-presidente Collor rasgou elogios no palanque, foi muito aplaudido e ainda ouviu gritos de seu nome. Algo diferente, por exemplo, de novembro de 2020, quando a presença do senador no palanque de Bolsonaro gerou um misto de vaias e tímidos aplausos.

Bem ao seu estilo, Collor fez o discurso forte, atacando a gestão do MDB no governo do estado (hoje nas mãos de Paulo Dantas), e fez uma defesa enfática da ações do presidente para Alagoas. Próximo ao fim de sua fala, disse que se emocionou durante a "motociata" na capital alagoana puxou o grito do nome Bolsonaro —o que fez os apoiadores do presidente irem ao delírio e esquecerem o tempo de apoio dele aos governos petistas.

Depois de Collor, foi a vez de Lira discursar e também fazer uma defesa sistemática ao mandato do presidente, prometendo uma campanha para conseguir votos no estado.

"O senhor é um homem do povo, faz questão de cumprimentar a todos, dá carinho e atenção. Faremos de tudo para o senhor ter aqui a maior votação proporcional do Nordeste do Brasil", disse, para sorrisos de Bolsonaro e aplausos efusivos de seus apoiadores.

Lira, Bolsonaro e Biu de Lira (PP), que é pai de Arthur e também falou ontem em Maceió - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Lira, Bolsonaro e Biu de Lira (PP), que é pai de Arthur e também falou ontem em Maceió
Imagem: Reprodução/Facebook

Em Alagoas, concorrentes

Apesar da semelhança nos discursos, Collor não terá apoio de Lira na sua corrida. O presidente da Câmara vai apoiar o senador Rodrigo Cunha (União Brasil).

Principal rival da família Calheiros em Alagoas, Lira costurou uma aliança entre vários partidos em torno de Cunha —que terá como candidata a vice a prima de Lira, a deputada estadual Jó Pereira (PSDB).

Além disso, Cunha contará com apoio do prefeito de Maceió João Henrique Caldas, o JHC (PSB).

Apesar da defesa intransigente de Lira a Bolsonaro, Rodrigo Cunha tem sido discreto ao tratar da questão presidencial. Ele não esteve com Bolsonaro durante as visitas dele a Alagoas e, nas poucas entrevistas que já deu, sempre tenta se colocar como independente e se descolar tanto de Bolsonaro como de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Já Collor decidiu surfar completamente no bolsonarismo. Após apoiar Lula e Dilma Rousseff, é ele quem deve ocupar oficialmente o mote de candidato de Bolsonaro em Alagoas —e que dará palanque ao presidente em eventual visita de campanha em Alagoas.

Collor deve ter como vice o vereador de Maceió Leonardo Dias (PL), o que sacramentaria a aliança do presidente. O apoio formal ainda não está fechado, mas está bem encaminhado e próximo de ser acertado, segundo apurou a coluna.

O PTB de Alagoas tem se esforçado para se mostrar fiel ao presidente e ganhar o voto bolsonarista. Recentemente, o partido espalhou outdoors pelo estado com a foto de Collor ao lado do presidente se dizendo um partido 100% Bolsonaro. Nas redes sociais, Collor tem sido um assíduo divulgador de ações federais e elogios ao presidente.

Outdoors espalhados por Maceió pelo PTB  - Carlos Madeiro/UOL - Carlos Madeiro/UOL
Outdoors espalhados por Maceió pelo PTB
Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Motivos diferentes separam

Mas, se eles são tão próximos ideologicamente, o que impede uma aliança dos dois figurões em Alagoas?

"Os dois estão buscando o poder simbólico de Bolsonaro. Arthur Lira pela liderança na Câmara e do centrão; logo, ele tem de ir com o barco. E ao Collor só sobrou isso", afirma o cientista político e professor da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) Ranulfo Paranhos.

Para ele, os dois gozam do maior prestígio junto ao presidente entre os políticos do estado por conta dos cargos que ocupam, mas os motivos (e projetos) são diferentes.

Para o Arthur Lira o interessante é o governo; ele é pragmático, prático. Para o Collor, é interessante o Bolsonaro, a figura do presidente. Não há agenda e interesse comum entre os dois."
Ranulfo Paranhos, da Ufal

Na conjuntura atual, Ranulfo vê Collor como alguém que tenta sua sobrevivência política ao se lançar a um cargo teoricamente menos difícil do que a reeleição ao Senado (que tem o ex-governador Renan Filho-MDB como favorito absoluto). "Ele está abandonado à própria sorte", diz.

Um dos acordos possíveis é que não haja divisão na disputa ao Senado, e o lado bolsonarista concentre forças para tentar derrotar Renan Filho. No caso, o deputado Davi Davino Filho (PP) é o nome mais forte para concorrer na chapa com Rodrigo Cunha.

Paranhos cita que, na atual correlação de forças, Arthur Lira tem mais influência e poder de captar aliados, e com isso conseguiu uma aliança com um nome mais viável na política —e sem polêmicas na carreira.

"Com um grupo mais forte, seria muito mais vantajoso para o Collor [a aliança] que para o Arthur. Em política tem a máxima que manda quem tem mais força, e o Arthur Lira assim consegue definir melhor as alianças. O Collor não é interessante para ele", diz.