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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Com virada e 'renegados', lulistas lideram em todos os governos no Nordeste

Lula e Marília Arraes: ligação histórica do ex-presidente com a ex-petista  - Reprodução/Twitter
Lula e Marília Arraes: ligação histórica do ex-presidente com a ex-petista Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

03/10/2022 17h14Atualizada em 09/10/2022 06h57

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Todos os governadores eleitos em primeiro turno ou que ficaram em primeiro lugar nas votações nos nove estados do Nordeste apoiaram o ex-presidente Luiz Inácio da Silva (PT). Quatro deles venceram em primeiro turno e cinco ficaram na frente ontem, mas vão ter de disputar o segundo turno no dia 30 de outubro.

As vitórias, algumas delas com viradas que não foram percebidas pelos institutos de pesquisa, coroam a histórica boa votação do ex-presidente na região.

Rafael Fonteles, por exemplo, era segundo colocado em todas as pesquisas Ipec, mas levou o governo em primeiro turno, com 57% dos votos válidos no Piauí. Jerônimo Rodrigues (PT), na Bahia, também sempre apareceu na segunda colocação nos levantamentos, mas assumiu a ponta e abriu quase dez pontos de diferença contra ACM Neto (União Brasil).

Entretanto, em dois lugares, pode-se dizer que Lula "perdeu" a eleição, já que os nomes para os quais ele pediu votos não chegaram ao segundo turno: Danilo Cabral (PSB), em Pernambuco, e Veneziano Vital do Rêgo (MDB), na Paraíba.

Contudo, nesses dois estados, os candidatos que fecharam na primeira colocação pediram votos para Lula e já fizeram discursos se alinhando ao petista para a disputa do segundo turno: Marília Arraes (Solidariedade), em Pernambuco, e o governador João Azevêdo (PSB), na Paraíba.

"Sempre estive com ele e estarei com ele nesse momento crucial da democracia brasileira, junto com ele aqui em Pernambuco", disse Marília.

"Eu não tenho dúvida nenhuma de que Lula e o PT têm potencial de agregar e podem, sim, estar conosco nesse segundo turno", afirmou João.

Veja os aliados de Lula (em negrito, os que votam em Lula e estão no 2º turno):

Alagoas - Paulo Dantas (MDB) x Rodrigo Cunha (União Brasil)
Bahia - Jerônimo (PT) x ACM Neto (União Brasil)
Ceará - Elmano de Freitas (PT)
Maranhão - Carlos Brandão (PSB)
Paraíba - João Azevêdo (PSB) x Pedro Cunha Lima (PSDB)
Pernambuco - Marília Arraes (Solidariedade) x Raquel Lyra (PSDB)
Piauí - Rafael Fonteles (PT)
Rio Grande do Norte - Fátima Bezerra (PT)
Sergipe - Rogério Carvalho (PT) x Fabio (PSD)

Lula em campanha em Fortaleza na sexta-feira (30), com Camilo Santana e Elmano de Freitas - Divulgação - Divulgação
Lula em campanha em Fortaleza na sexta-feira (30), com Camilo Santana e Elmano de Freitas
Imagem: Divulgação

PT e sua força na região

Historicamente, o PT e o lulismo vêm crescendo nas eleições estaduais da região. Em 2002, quando o país elegeu Lula como presidente pela primeira vez, o partido fez apenas um governador (Wellington Dias, no Piauí) e seus candidatos e apoiadores perderam em todos os outros oito estados.

Quatro anos mais tarde, começava o salto petista na região: o partido melhorou seu resultado, com três governadores eleitos, inclusive na Bahia, o maior colégio eleitoral da região, com a vitória de Jaques Wagner. Outros dois aliados venceram.

Em 2010, mais uma alta: apesar de vencer como "cabeça" de chapa em apenas dois estados, o PT saiu vitorioso por coligações em outros quatro estados, integrando seis governos favoráveis.

Em 2014, uma repetição: foram três governadores eleitos e três aliados vencedores.

Na última eleição, o sucesso foi total: com as vitórias no segundo turno de Belivaldo Chagas (em Sergipe) e Fátima Bezerra, PT e aliados venceram nos nove estados do Nordeste.

Fátima Bezerra (PT) foi reeleita neste domingo - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Fátima Bezerra (PT) foi reeleita neste domingo no RN
Imagem: Reprodução/Facebook

Senado com revezes

Entretanto, o cenário foi diferente na disputa para o Senado, em que três de seus candidatos apoiados perderam a eleição na região: Ricardo Coutinho (PT), na Paraíba; Valadares Filho (PSB), em Sergipe; e Carlos Eduardo (PDT), no Rio Grande do Norte.

Um fato importante foi a vitória de quatro ex-governadores, que renunciaram entre março e abril para concorrer à disputa apoiando Lula.

Foram eleitos senadores neste domingo no Nordeste (em negrito os apoiados por Lula):

  • Alagoas - Renan Filho (MDB)
  • Bahia - Otto Alencar (PSD)
  • Ceará - Camilo Santana (PT)
  • Maranhão - Flávio Dino (PSB)
  • Paraíba - Efraim Filho (União Brasil)
  • Pernambuco - Teresa Leitão (PT)
  • Rio Grande do Norte - Rogério Marinho (PL)
  • Sergipe - Laércio (PP)
  • Piauí - Wellington Dias (PT)
Senador Otto Alencar (PSD) foi reeleito pelos baianos para o Senado - Divulgação - Divulgação
Senador Otto Alencar (PSD) foi reeleito pelos baianos para o Senado
Imagem: Divulgação

Força histórica, diz cientista

Para o cientista político Ranulfo Paranhos, da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), o Nordeste mostrou com os resultados de hoje que tem sido cada vez mais a região em que Lula e aliados se saem melhores no país.

"E aí não é só que o Lula quem lidera, mas os aliados dele também. E isso ocorre também porque, no Nordeste, Jair Bolsonaro não consegue avançar de jeito nenhum; as intenções de voto são muito mais favoráveis ao PT", diz.

Ele afirma que as derrotas de apoiados por Lula em Pernambuco e Paraíba não devem ser consideradas como um prejuízo tão grande porque os apoiadores de Lula que estão no segundo turno podem ajudar o ex-presidente a ser eleito em 30 de outubro.

"Um fato importante é que essa rede de candidatos não é formada necessariamente por nomes do PT, mas são aliados de outros partidos e que deverão compor uma base importante para o governo, caso Lula vença", afirma.

Em Pernambuco, por exemplo, houve uma compreensão de que Marília, apesar de não ter Lula em seu palanque, se colocou pedindo voto para ele. E o próprio PT não assumiu postura combativa, e ela foi tratada como uma opositora que estava ali muito próxima."
Ranulfo Paranhos, da Ufal