Brasil atinge 1/3 de vegetação nativa perdida desde colonização, diz estudo
O Brasil alcançou a marca de 33% de vegetação nativa (281 milhões de hectares) destruída no seu território desde o início da colonização europeia em 1500. As áreas foram alteradas por atividades humanas, como agropecuária e urbanização.
O percentual consta na nova coleção de dados do Mapbiomas (rede multi-institucional que reúne universidades, ONGs e empresas de tecnologia para estudo do uso do solo do país) divulgada nesta quarta-feira (21).
"Essa é uma marca histórica, e por isso a gente está dando o destaque e o detalhamento", diz Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas.
Em 2023, 64,5% do território brasileiro estava coberto por vegetação nativa, ou seja, era composto por áreas como floresta, vegetação, praia, dunas e areais. Outros 2,5% não entram na conta por serem áreas não vegetadas e corpos d'água.
As áreas mais preservadas do Brasil continuam sendo as Terras Indígenas, que cobrem 13% do território nacional. De 1985, quando os dados começaram a ser medidos, a 2023, elas perderam menos de 1% de sua área de vegetação nativa (nas áreas privadas foram 28%).
Hoje, 41% da vegetação nativa no Brasil está em áreas protegidas e comunitárias, como unidades de conservação.
Esses dados são importantes para a discussão pública sobre se o país está preparado para enfrentar os riscos das mudanças climáticas. A gente tem visto uma série de fenômenos --secas extremas e enchentes--em valores inéditos. As consequências disso estão muito ligadas às áreas antrópicas e às áreas naturais.
Marcos Rosa
Quase metade dos municípios brasileiros perderam vegetação entre 2008 e 2023. Segundo o estudo, no período:
- 45% dos municípios perderam vegetação nativa
- 37% tiveram ganho
- 18% dos municípios tiveram estabilidade
Uma das preocupações é com o avanço do desmatamento no Matopiba (região que reúne o Cerrado dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia): todos os estados têm pelo menos um município com mais de 30% de perda de vegetação nativa entre 2008 e 2023.
No Pantanal, 82% dos municípios tiveram perda nesse período, pior dado entre todos os biomas.
Amazônia e Cerrado, recordistas em perdas
Os biomas brasileiros que mais perderam vegetação nativa proporcionalmente entre 1985 e 2023 foram o Cerrado (27% de perda) e o Pampa (28%).
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberA Amazônia, apesar de ter uma menor perda proporcional (de 14%), foi quem sofreu a maior perda em termos absolutos: 55 milhões de hectares de vegetação nativa substituídos por outras coberturas e usos da terra.
Segundo o estudo, a perda de vegetação nativa é mais acentuada em áreas planas, com declividades de 0 a 8%. A agricultura, por exemplo, aumentou quatro vezes nessas áreas desde 1985.
A gente observou um padrão de aumento de uso nos terrenos mais planos para pastagem e agricultura --essa em função, principalmente, da mecanização.
Bárbara Costa Silva, pesquisadora do IPAM e integrante das equipes Cerrado, Solo e Degradação
Atualmente, as florestas cobrem 41% do país, mas foi o tipo de cobertura nativa que mais perdeu área de 1985 até o ano passado: menos 61 milhões de hectares, uma queda de 15% no período.
"Nem todas as florestas estão numa situação igual no Brasil: algumas estão muito mais ameaçadas que outras", explica Eduardo Vélez, das equipes Pampa, Fogo, Água e Degradação do MapBiomas.
Dos 27 estados e Distrito Federal, 13 já têm mais da metade da vegetação nativa destruída em seus territórios, com destaque para Sergipe (20% restante) São Paulo (22%), Mato Grosso do Sul e Alagoas (23%).
Perda em áreas privadas
Entre 1985 e 2023, a maior parte da perda de vegetação natural (81%) ocorreu em áreas privadas ou em áreas com CAR (Cadastro Ambiental Rural) sem registro fundiário georreferenciado.
CAR é um registro público eletrônico nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais. Ele serve de base de dados para controle, monitoramento, planejamento e combate ao desmatamento.
Deixe seu comentário