Carlos Madeiro

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Reportagem

No 1º ano de Lula conflitos no campo batem recorde e mortes caem, diz CPT

O número de conflitos no campo bateu recorde no país em 2023, segundo relatório divulgado nesta segunda-feira (22) pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), que é ligada à Igreja Católica no Brasil. A entidade tem dados a partir de 1985.

O número de mortes caiu em relação aos últimos anos: foram 31 assassinatos — o menor número desde 2020.

Segundo o relatório anual, o primeiro ano do governo Lula registrou:

  • 2.203 conflitos por terra, água ou trabalhista -- o que representa aumento de 8% em relação ao ano anterior.
  • 92% são referentes às violências contra ocupações e posses (que incluem constrangimento ou danos materiais causados às famílias) e contra pessoas.

O Estado não protege a vida e nem garante as condições necessárias para a produção e a reprodução da vida em territórios livres da ação do agronegócio. Pelo contrário, continua fomentando a violência contra as comunidades por meio do direcionamento das forças policiais e paramilitares.
Relatório Conflitos no Campo

O maior número de conflitos é por terra — 1.588 no total ou 71,8% do registrado no país no ano passado. A área total desses conflitos é de 594 mil km², o que equivale a seis vezes o tamanho do estado de Pernambuco.

Os principais motivos dos conflitos no campo nos últimos dez anos são:

  1. Invasão - 359 ocorrências
  2. Pistolagem - 264
  3. Destruição de pertences - 101
  4. Destruição de casas - 73
  5. Destruição de roçados - 66
  6. Expulsão - 37
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O ano de 2023 representa muito mais uma continuidade das contradições engendradas pelo processo denominado de ruptura política [citação ao impeachment de Dilma Rousseff, em 2016] do que como início de alguma alteração sensível do quadro.
Relatório Conflitos no Campo

  • Locais dos conflitos em 2023:
Mapa conflitos
Mapa conflitos Imagem: Reprodução/CPT

Indígenas e sem-terra entre as vítimas

Ao longo dos últimos anos, o número de assassinatos no campo tem oscilado.

Entre as mortes anotadas em 2023 um dos casos citados no documento — e que teve grande repercussão nacional — foi o assassinato da líder quilombola baiana Mãe Bernadete. Ela foi morta a tiros em Simões Filho, região metropolitana de Salvador, em 17 de agosto.

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Mãe Bernadete, morta em agosto de 2023
Mãe Bernadete, morta em agosto de 2023 Imagem: Conaq

Segundo as investigações, a ialorixá e líder quilombola Maria Bernadete Pacífico Moreira, 72, foi morta em disputa territorial para tentar conter o avanço do tráfico na região do Quilombo Pitanga dos Palmares, onde tinha forte influência. Cinco pessoas foram indiciadas pelo crime.

Mortos por conflitos em 2023:

  • Indígenas - 14
  • Sem-terra - 9
  • Posseiros - 4
  • Quilombolas - 3
  • Funcionários públicos - 1

Ainda em 2023, a CPT registrou 554 ocorrências de tipos diferentes de violência contra pessoas no campo — que afetaram 1.467 camponeses.

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A mais comum foi a contaminação por agrotóxicos, que vitimou 336 pessoas no ano passado em 21 ocorrências registradas —aumento de 74% em relação a 2022.

Outro tipo que cresceu ano passado é o de ameaças de morte, com 218 pessoas relatando casos — 4,3% a mais que em 2022 e o segundo maior registro de ameaças de morte já registrado pela CPT.

Quando divididos por grupos, os mais atingidos pela violência são:

  1. Indígenas - 25,5% das vítimas
  2. Pequenos proprietários - 20,3%
  3. Sem-Terra - 20,1%
  4. Posseiros - 13.5%
  5. Quilombolas - 3,9%
  6. Seringueiros - 3,75%
Médicos atendem comunidades ribeirinhas e indígenas em Belterra (PA), onde há relatos de chuva de agrotóxicos
Médicos atendem comunidades ribeirinhas e indígenas em Belterra (PA), onde há relatos de chuva de agrotóxicos Imagem: Divulgação

Cenário pouco animador

Para a CPT, apesar de a situação no campo ser um tema defendido pela esquerda, o tema ainda é tratado em segundo plano — o que preocupa a entidade.

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No que concerne a reforma agrária em particular, houve uma retomada de ações do governo, mas com pouca alteração substancial na orientação do Estado brasileiro. Em 2023, o número de terras adquiridas pela União para serem destinadas à reforma agrária terminou zerado pelo terceiro ano seguido.

O orçamento previsto para a reforma agrária em 2024 seria o menor de todos os governos petistas até então, chegando no máximo até -- nas palavras do próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad -- R$ 500 milhões, insuficiente para retomar uma política consistente de aquisição de terras e de apoio à produção, comercialização e geração de trabalho e renda nos assentamentos.
Relatório Conflitos no Campo

À coluna, na semana passada, o coordenador nacional da CPT, Carlos Lima, criticou o que chamou de "falta de plano" do governo federal para a reforma agrária ao comentar o programa Terra da Gente, lançado pelo presidente Lula, em Brasília.

Eles não apresentaram um plano para a reforma agrária. O que Lula apresentou agora, a chamada prateleira de terra, não é um plano. Muitas dessas terras estão sendo utilizadas pelo agronegócio, grandes devedores que têm terra. Então, [o governo] não tem a intenção de realizar a reforma agrária.
Carlos Lima

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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