Topo

Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Não se engane, Bonner: para Bolsonaro, 'eleição limpa' é a que ele ganha

Colunista do UOL

22/08/2022 22h24

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Um dos momentos mais importantes da entrevista que Jair Bolsonaro deu ao Jornal Nacional foi aquele em que Wiliam Bonner tentou arrancar do presidente um compromisso de que ele respeitará as regras da eleição. Seria mesmo um golaço fazer com que Bolsonaro, o principal detrator das urnas eletrônicas e dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), admitisse diante das câmeras, a uma audiência gigantesca, que a ideia de golpe era coisa do passado.

Educadamente, o apresentador do JN fez a proposta: "Eu não quero interrompê-lo, mas é que o senhor disse (...) algo muito importante. Disse referindo-se ao ministro Alexandre de Moraes: teremos eleições, elas serão limpas, etc.,", rememorou.

"Com o intuito de tirar esse estresse, tirar a intranquilidade desse momento eleitoral no Brasil, o senhor não quer aproveitar essa oportunidade diante de milhões de brasileiros para assumir um compromisso eloquente de que vai respeitar o resultado das urnas seja ele qual for? ", sugeriu.

De cara fechada, Bolsonaro respondeu: "Seja qual for, eleições limpas, devem e têm que ser respeitadas. Limpas e transparentes têm que ser respeitadas".

Aparentemente, o presidente da República firmava naquele momento um compromisso de manter-se no campo democrático, na contramão das ameaças que vem fazendo há meses.

O problema está na interpretação das condicionantes colocadas por ele para respeitar o resultado das urnas. O que Bolsonaro considera "eleições limpas e transparemtes" não é o mesmo que Bonner e milhões de telespectadores consideram.

Todas as ficções que o presidente e seu ministro da Defesa sustentam para tentar reduzir a credibilidade das urnas eletrônicas tem um só motivo: Bolsonaro quer se manter no poder.

Por isso, quebrou a promessa feita ao parceiro Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, de que, uma vez derrotado o projeto que instituía o voto impresso, deixaria de abordar o assunto.

Obviamente, Bolsonaro não cumpriu a promessa.

Cooptou dois ministros da Defesa bolsonaristas (Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira) para participar de sua campanha de difamação. Mesmo depois que o TSE aceitou 10 de 15 sugestões da pasta, seu titular continua a fazer objeções ao sistema eleitoral.

Enquanto correr o risco de perder - uma contingência do jogo democrático —, o candidato à reeleição não vai considerar transparentes as condições do pleito

Não vá se enganar, Bonner: para Bolsonaro, eleição só será limpa se ele ganhar.