Chico Alves

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Opinião

'Esse avião passa na ONU?'

Para quem imaginou que o máximo de confusão geográfica na política brasileira seria o engano do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que mandou cilindros de oxigênio para o Amapá quando queria enviar para o Amazonas, o limite foi ultrapassado. Os senadores Eduardo Girão (Novo-CE), Magno Malta ( PL-ES) e Carlos Portinho (PL-RJ), juntamente com o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), erraram de continente.

Firmes na campanha para transformar em vítimas os arruaceiros golpistas que no dia 8 de janeiro depredaram as sedes dos poderes da República, os políticos embarcaram em "missão internacional". Partiram para Nova York com o objetivo de entregar à ONU documento assinado por 52 parlamentares bolsonaristas. O texto "denuncia" uma suposta violação de direitos dos cerca de 200 extremistas que continuam presos.

Dos 900 mil presidiários brasileiros, muitos vivendo em condições realmente sub-humanas, os direitistas escolheram se doer apenas por essas duas centenas, que já tiveram suas condições na cadeia checadas pela Defensoria Pública da União e por ministros do Supremo Tribunal Federal.

Desembarcaram em Nova York, foram recebidos pelo embaixador brasileiro na ONU, Sérgio Danese, a quem entregaram o tal documento, fizeram fotos e vídeos para lacrar nas redes sociais. Tudo parecia ter corrido às mil maravilhas, estavam livres para usar o resto do tempo para fazer umas comprinhas.

Até que a colunista do jornal O Globo Bela Megale alertou que o quarteto bateu na porta errada. Para denunciar violação de direitos humanos eles deveriam ter ido à representação da ONU localizada em Genebra, na Suíça.

Danese os recebeu por cortesia. O correto era que tivessem procurado o embaixador Tovar Nunes, que é o representante brasileiro na ONU localizada na cidade suíça, distante cerca de 5 mil quilômetros dali.

O erro inacreditável rende uma bela esquete de humor. Ainda mais se complementada com a tentativa do senador Eduardo Girão de justificar a bobagem.

Em postagem no Twitter, ele argumentou que a "comitiva" cumpriu o procedimento de dar ciência ao embaixador lotado na ONU, em Nova York. "Talvez a repórter não saiba, mas não é preciso ir a Genebra para enviar petições ao Comitê de Direitos Humanos; o processo é feito online", escreveu.

A pergunta inevitável é: se poderiam ter feito tudo online, então o que foram fazer nos Estados Unidos?

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Ficou ainda mais claro que tudo não passou de lacração para o público bolsonarista.

O senador cearense ainda se apressou em destacar que a viagem foi feita com dinheiro dos próprios políticos. Ok, mas embora os recursos tenham sido privados, pagaram um mico público.

O episódio cômico é, na verdade, a representação do triste fenômeno de políticos que foram eleitos pelo processo democrático das eleições, mas que se dispõem a defender com unhas e dentes ativistas que atentaram contra a democracia. Nem que para isso tenham que se expor ao ridículo.

Da próxima vez, podem ao menos se informar com a colega senadora Damares Alves, que por mais desorientada que seja conseguiu acertar o caminho da ONU de Genebra quando era ministra.

A "comitiva" de Girão, Malta, van Hattem e Portinho parece ter escolhido o voo da mesma forma como aquela senhora idosa surge à porta do ônibus para perguntar ao motorista se ele vai para o destino que ela deseja.

Na esquete hipotética, dá para imaginar a cena: "Esse avião passa na ONU?"

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Só faltou explicar a qual representação da ONU estavam se referindo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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