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Ao entregar país a Bolsonaro, direita liberal cavou sua própria cova
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* Carla Teixeira
A semana começou mal para os eleitores do nem-nem (nem Lula, nem Bolsonaro). Após a saída do ex-juiz Sergio Moro, que agora é réu na Justiça acusado de crimes cometidos na Lava Jato, foi a vez do ex-governador de São Paulo, João Doria, desistir de sua candidatura à presidência da República. Sem apoio político e financeiro de seu partido, Doria estava sendo pressionado por Rodrigo Garcia (PSDB), seu sucessor no Palácio dos Bandeirantes, que em outubro buscará um novo mandato.
A alta rejeição de Doria junto aos eleitores foi decisiva para a solução. Sem possibilidades de vitória, sua principal preocupação é salvar seus negócios e garantir um "day after" fora da política. Apesar de, eleitoralmente, ser melhor para Lula, que pode vencer no primeiro turno, politicamente, o fim da terceira via leva os partidos da direita a apoiar Bolsonaro.
Os entusiastas da terceira via receberam com humor de velório a notícia da implosão da candidatura tucana. A jornalista Eliane Cantanhêde, em melancólico artigo, vaticinou o "fim da candidatura João Doria, fim da candidatura Simone Tebet, fim da terceira via, fim do PSDB, fim do MDB, fim do Cidadania. Fim de uma era".
De fato, a terceira via não decolou porque ela não é o "centro", como se apresenta, mas a "direita". E a "direita", no Brasil, está tomada pela "extrema-direita". Vem daí a hegemonia bolsonarista nesse campo político e a impossibilidade de emplacar qualquer outro nome na disputa.
O fim do PSDB deriva de uma sucessão de equívocos. Como afirmou o senador tucano Tasso Jereissati (PSDB-CE), "nosso grande erro foi ter entrado no governo Temer". Nesta cena, o coveiro é o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) e não João Doria. Foi ele, afinal, o responsável por questionar as eleições de 2014, levando o seu partido a apoiar o fraudulento impeachment, em 2016, e tendo chegado ao impensável (para nomes como Mário Covas e Cristina Tavares, sociais-democratas históricos) de apoiar Jair Bolsonaro, em 2018.
Durante a gestão bolsonarista, Aécio dinamitou a candidatura Doria e colocou os tucanos como linha auxiliar do governo, que agora pagam o preço. Esta será a primeira vez, desde 1989, que o PSDB não terá candidato à presidência da República, caminhando para tornar-se um partido nanico a partir de 2023.
A candidatura de Simone Tebet (MDB-MS) não traz qualquer esperança. Com a perspectiva de perder sua cadeira no Senado pelo Mato Grosso do Sul para a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina o que sobrou para Tebet foi a saída honrosa para a disputa presidencial fadada à derrota. Com acenos do PSDB, poderá contar com o ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, como vice.
Mas primeiro é preciso combinar com os caciques emedebistas que se dividem entre aqueles que querem apoiar Lula, no Nordeste, e os que se jogam no colo de Bolsonaro, no Sul e Centro-Oeste. A cinco meses das eleições, parece que o segundo turno será disputado ainda no primeiro.
Sem Sergio Moro, João Doria ou qualquer outro nome com condições de fazer a disputa, a terceira via está declaradamente morta. O bolsonarismo, ao contrário, segue mais vivo do que nunca, alimentando-se como um verme dos restos apodrecidos de qualquer projeto político pretendido pela direita brasileira.
A ânsia por implantar a agenda econômica neoliberal — que paralisa os investimentos públicos e entrega as riquezas do Brasil para o capital privado — levou ao golpe de 2016. A necessidade de sua manutenção fez toda a burguesia, incluindo PSDB, MDB, DEM et caterva, a apoiar Bolsonaro em 2018. Na prática, os partidos da direita liberal abriram as portas da República para o bolsonarismo, perdendo força eleitoral e política no país. Cavaram a própria cova.
À direita, Bolsonaro desponta para assumir o lugar e parte do suporte político e econômico que teria a falecida terceira via. Conta com apoio dos generais, verdadeiras sanguessugas fardadas, que sangram o país em nome dos interesses da corporação e estrangeiros, notadamente o estadunidense. Também faz acenos privatistas à burguesia com a venda da Eletrobras, a entrega da Amazônia e a indexação dos preços do petróleo ao dólar.
Jair precisa do apoio da burguesia que enriqueceu durante seu governo enquanto brasileiros morriam vítimas da peste e/ou da fome. Assim, pretende agregar aqueles que desejam a manutenção da agenda econômica neoliberal a qualquer custo, mesmo que sob o horror do fascismo bolsonarista.
Com uma rejeição que chega a 60% entre os eleitores e vendo Lula despontar para vencer no primeiro turno, o atual presidente tenta suplantar o antibolsonarismo com um antipetismo vencido. Faz acenos eleitorais aos rentistas parasitas enquanto se debate com ameaças de golpe. Não caiamos nessa. Quem se debate é afogado.
* Carla Teixeira é doutoranda em História na UFMG
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