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Cristina Tardáguila

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Renan entendeu: a CPI precisa do fact-checking

27.abr.2021 - À mesa, o relator da CPI da Covis, senador Renan Calheiros (MDB-AL) em pronunciamento - Edilson Rodrigues/Agência Senado
27.abr.2021 - À mesa, o relator da CPI da Covis, senador Renan Calheiros (MDB-AL) em pronunciamento Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Colunista do UOL

19/05/2021 18h17

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Que agradável surpresa ouvir o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Pandemia, dizer, ao fim da sessão desta quarta-feira (19), que estuda a possibilidade de contratar checadores de fatos para ajudar a comissão a identificar o que é verdadeiro e o que é falso na fala dos depoentes.

Desde 2014 trabalho como fact-checker. Desde 2014 repito que a desinformação encabeça a lista dos maiores problemas que a política mundial enfrenta. Desde 2014 digo que é urgente unirmos forças para fazer frente às notícias falsas. Bom ver que isso fez sentido agora, em 2021.

Checar discursos ao vivo é prática rotineira na vida dos fact-checkers brasileiros - o que não quer dizer que seja fácil.

Nos últimos dois dias, por exemplo, a Agência Lupa (empresa que fundei em 2015 para se dedicar exclusivamente ao fact-checking e da qual tirei licença não remunerada em 2019) avaliou 15 frases ditas pelos ex-ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Eduardo Pazuello (Saúde). Dentro desse universo, 10 falas já foram detectadas como sendo falsas. Estamos falando de dois terços. Outras unidades de checagem do país fizeram tantas ou mais avaliações.

É por isso que a proposta de Renan se sustenta. É bem-vinda.

Ter os fact-checkers por perto, nessa CPI ou em qualquer outra, serviria para apontar dados imprecisos, sustentados pelos depoentes, e também livrar os senadores-membros da comissão de usar informações falsas nas perguntas que fazem.

Levantamento feito pela Lupa e publicado pelo jornal Folha de S.Paulo na segunda-feira (17), mostrou que senadores governistas se apoiaram em dados insustentáveis para fazer questionamentos aos depoentes que passaram pela CPI em suas três primeiras semanas. Foram citados, por exemplo, diversos estudos inconclusivos sobre o novo coronavírus e a covid-19.

Renan precisa saber, no entanto, que o fact-checking profissional segue uma metodologia pré-determinada e pública. Tem obsessão por apartidarismo e repele dois pesos e duas medidas. Isso quer dizer que, numa eventual parceria, o próprio senador também seria alvo de avaliação por parte dos checadores.

Mas entendo que é exatamente isso que Renan busca: um debate factual. E, nesse sentido, sua intenção se alinha à dos checadores. E, no Brasil, há profissionais capazes de ajudar a CPI.

Pelo menos quatro organizações de fact-checking passaram por sucessivas auditorias promovidas pela International Fact-Checking Network (IFCN), rede que reúne os checadores profissionais de todo mundo, nos últimos anos. Além da Lupa, que já tem quatro selos de aprovação, estão AFP Checamos, Aos Fatos e Estadão Verifica. Mais informações sobre qualquer uma delas estão disponíveis em seus respectivos sites e na página da IFCN.

Se a ideia é eliminar mentiras, aqui estão os fact-checkers do Brasil.

Cristina Tardáguila é fundadora da Agência Lupa e colunista da Fundação Gabo (Colômbia) e Univision (EUA).