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Cristina Tardáguila

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Bolsonarismo domina WhatsApp e Telegram, mas prioriza desinformação ao vivo

Presidente Jair Bolsonaro durante entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan - Reprodução/Youtube
Presidente Jair Bolsonaro durante entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan Imagem: Reprodução/Youtube

Colunista do UOL

16/09/2022 04h00

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O primeiro mês de campanha eleitoral chega ao fim deixando duas certezas. A primeira é a de que o bolsonarismo é mais forte do que o lulismo nos principais aplicativos de mensagem do país. A segunda é a de que os usuários de WhatsApp e Telegram deixaram de receber loucuras como "mamadeiras de piroca" e "kits gay" e passaram a ser alvos de dezenas de postagens sobre o trabalho da imprensa.

Vamos aos dados.

Informações organizadas pela Palver, empresa que desde janeiro coleta e analisa de forma anonimizada conteúdos postados em mais de 14 mil grupos públicos que debatem política no WhatsApp, mostram que Lula termina mal o primeiro mês de campanha presidencial.

Até o dia 7 de setembro, o candidato do PT ao Palácio do Planalto mantinha certa liderança nas menções feitas a presidenciáveis no WhatsApp. Na última semana, no entanto, foi ultrapassado por Bolsonaro com folga - sobretudo graças aos eventos dos 200 anos de Independência. Desde então, Lula não retomou a popularidade.

Os dados da Palver também mostram que, enquanto a porcentagem de menções negativas do presidente oscilou entre 20 e 30%, a de Lula teve picos de mais de 35%. Confira as três imagens a seguir:

Primeiro mês de campanha no WhatsApp, segundo a Palver - Reproduçao/Palver - Reproduçao/Palver
Primeiro mês de campanha no WhatsApp
Imagem: Reproduçao/Palver

A popularidade de Lula e Bolsonaro no primeiro mês de campanha, segundo a Palver - Reprodução/Palver  - Reprodução/Palver
Menções feitas aos presidenciáveis no WhatsApp
Imagem: Reprodução/Palver

Dados vindos de outros sistemas capazes de monitorar conversas de WhatsApp e Telegram apontam na mesma direção da Palver. O lulismo tem dificuldade para viralizar conteúdos em aplicativos de mensagem.

De acordo com informações extraídas do Monitor de WhatsApp desenvolvido pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), quatro das dez imagens que mais circularam no WhatsApp desde o início da campanha (em 16 de agosto) estamparam o rosto ou fizeram referências claras (e positivas) ao presidente Bolsonaro. Lula apareceu em apenas duas das dez imagens mais populares do app no último mês. Ambas tinham conotação negativa para o candidato.

No Telegram, o cenário foi ainda pior para o petista. No ranking das dez imagens mais populares nesse aplicativo, Lula não aparece em nenhuma foto e não há qualquer referência a ele. Bolsonaro, por sua vez, é visto sorrindo em três dessas dez imagens que viralizaram.

Mas e as fake news?

A análise do primeiro mês de campanha pelo viés das conversas de WhatsApp e Telegram também mostra que as narrativas falsas que surpreenderam o Brasil em 2018 deram lugar a conversas sobre a imprensa. Fala-se muito de jornalismo e da qualidade de seus serviços nos ambientes criptografados. As fake news sobre candidatos rivais, no entanto, perderam espaço.

Quem se debruça sobre o primeiro mês de conversas no Telegram vê com clareza que a ideia do bolsonarismo é levar audiência e engajamento para espaços fora da plataforma que são afeitos à política do presidente.

Três das cinco imagens que mais circularam nesse app desde o início da campanha convidam o eleitor a deixar a plataforma e a seguir Bolsonaro em entrevistas e sabatinas feitas por Jovem Pan e/ou podcasts conservadores - espaços onde o presidente já foi flagrado desinformando e onde encontra pouca crítica.

As lives de quinta-feira também têm espaço. Ontem Bolsonaro anunciou que está disposto a fazer uma live por dia até as eleições. Nelas, a desinformação corre solta.

No WhatsApp, o oposto se dá. No app de mensagens mais popular do país, o bolsonarismo ataca a mídia tradicional. Das três imagens que mais viralizaram neste mês no WhatsApp, uma propõe que o eleitor deixe de assistir à TV Globo para sempre.

No ranking das 30 imagens mais compartilhadas por ali no mesmo período, os apresentadores do Jornal Nacional, William Bonner e Renta Vasconcelos, ganham destaque (negativo). Fotos dos dois em situações constrangedoras viralizaram com frequência. Os jornalistas aparecem apanhando do presidente, portando um nariz e um chapéu de palhaço ou associados a uma suposta sonegação de impostos da emissora.

Veja nos links a seguir os dados brutos dos monitores da UFMG.

WhatsApp

Telegram

Cristina Tardáguila é diretora do ICFJ e fundadora da Lupa