Topo

Cristina Tardáguila

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

#SilêncioEstratégico: um forte antídoto para Venturinis e Sikêras Jr.

Fernanda Venturini em sua casa - Marcos Michael/Folhapress
Fernanda Venturini em sua casa Imagem: Marcos Michael/Folhapress

Colunista do UOL

29/06/2021 11h25

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Eu não sigo a Fernanda Venturini nas redes sociais. Mas, na segunda-feira (28), fui bombardeada pelo vídeo negacionista que a ex-jogadora de vôlei gravou no posto de saúde onde recebeu a vacina contra a covid-19. Também não sigo (na verdade, nem sabia quem era) Sikêra Jr. Mesmo assim vi dezenas de vídeos do apresentador da RedeTV! cuspindo odiosos ataques contra a população LGBTQIA+. Em ambos os casos, vi o horror em segunda mão, por meio daqueles que sigo no Twitter.

Desde o início deste ano, venho defendendo publicamente a expansão do silêncio estratégico. Já falei sobre isso dezenas de vezes nas redes sociais e em eventos jornalísticos. Mas é hora de ser mais enfática e explicar melhor como ele funciona.

Em linhas gerais, é vital que cada usuário de Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp, Telegram ou qualquer rede social saiba que, ao criticar um conteúdo, pode estar, na verdade, oxigenando o assunto, ou seja, amplificando uma mensagem que deveria ser ignorada. E há muitos exemplos recentes disso. Tenho inclusive feito uma coleção pessoal para ilustrar esse assunto.

Em abril, a hashtag #eutomoinvermectina (com um "N" indevido grafado depois do "I") entrou nos trending topics do Twitter com o apoio de milhares de pessoas que, em realidade (e seguindo o que diz a ciência) se declaravam contrárias à adoção desse remédio como forma de cura ou prevenção da covid-19. Mas, ao criticar o erro ortográfico, elas reutilizaram a hashtag e o efeito de crítica, de certa forma, se perdeu. A ivermectina acabou virando a pauta do dia e foi até mesmo assunto de reportagens.

Em maio, os brasileiros não conseguiram silenciar estrategicamente diante de dois vídeos que considero toscos e absurdos. O primeiro foi o do ex-deputado Roberto Jefferson armado até os dentes, classificando o estado como "totalitário" e "satanista". O segundo foi o da deputada Alê Silva (PSL-MG), sem máscara, dançando com assessores no Salão Verde da Câmara.

Nos dois casos, as críticas impulsionaram o ódio virtual e a desinformação.

Passa da hora de o Brasil entender o silêncio estratégico e, de forma coordenada, evitar que devaneios negacionistas, postagens anti-vacina e discursos homofóbicos saiam dos esgotos da internet e virem pauta nacional.

Daí a importância do guia que o Internetlab e o Redes Cordiais publicaram no dia 17. Além de falar sobre diversos outros assuntos, o texto faz um resumo claro:

"A decisão sobre não postar, publicizar ou noticiar um conteúdo é tão importante quanto a decisão de falar sobre o assunto na internet. Isto porque a escolha de publicizar ou não um fato ou material sobre determinado assunto (seja um texto, um vídeo, um áudio ou uma imagem) pode ter como consequência a amplificação ou silenciamento de vozes, táticas, narrativas e ideias na rede".

Não estou sugerindo que se deixe de expor contrariedades ou mesmo que se cale diante de absurdos. Não. Sugiro apenas que sejamos táticos ao tomar essas atitudes. Por isso, eis algumas dicas fáceis:

  1. Jamais compartilhe o material na íntegra. Não dê RT no tuíte original, por exemplo. Seus amigos e seguidores não precisam ver a mentira ou o horror que você viu em sua totalidade. Um resumo basta.

  2. Faça um print da tela e ponha um "X" em cima da foto ou do frame de vídeo. Deixe visualmente claro que aquele conteúdo é falso, enganoso ou promove ódio. Há casos de imagens falsas aparecendo como referência para informações verdadeiras no Google Imagens, por exemplo. A marcação ajuda a evitar qualquer confusão.

  3. Nunca marque a conta que desinforma ou promove ódio. O @ ficaria ainda mais famoso se você informasse seus amigos e seguidores sobre a existência dele. Deixe o doido e o negacionista no escuro, falando sozinho.

  4. Tente não citar nomes. Fale, por exemplo, da "ex-jogadora de vôlei", do "ex-deputado", do "apresentador de TV". Não alimente a fama de ninguém que nega a ciência e/ou ataca grupos minoritários. Lembre-se de que estamos perto de eleições.

  5. As mesmas técnicas usadas nas redes sociais abertas servem para os apps de mensagem, como WhatsApp e Telegram. Não oxigene falsidades nem ódio por lá também.

  6. Repasse essas instruções simples para todo mundo ao seu redor. Quem sabe um dia #silencioestratégico não estará nos trending topics?