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Caso 'sala secreta' do TSE mostra que fatos ainda podem vencer mentiras
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Não há - nem nunca houve - uma sala secreta para totalização de votos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A eleição brasileira é auditável, e quem diz o contrário está (ou quer estar) mal informado.
Do ponto de vista dos checadores de fatos, no entanto, a mentira que viralizou nos últimos dias, sobre a existência de um ambiente imaginário onde alguns poucos indivíduos decidiriam o próximo presidente da República, merece mais atenção. A mentira teve volume colossal e se espalhou vorazmente pelas redes sociais, mas a história da "sala secreta" também foi combatida à altura, indicando a chegada de novos ventos na luta contra a desinformação eleitoral.
Dados extraídos do CrowdTangle, ferramenta de monitoramento que permite pesquisar e analisar postagens feitas em diversas redes sociais, mostram que, desde fevereiro, mais de 1,9 mil publicações contendo a expressão "sala secreta" e "TSE" foram feitas nas plataformas da Meta — Facebook e Instagram.
Juntos, esses posts apareceram em pelo menos 874 páginas e foram compartilhados mais de 34 mil vezes. Somando o número de seguidores das páginas em que a mentira sobre a tal "sala secreta" apareceu, é possível afirmar que ela pode ter chegado a 34 milhões de pessoas, ou seja, 17% da população brasileira.
A análise dos dados do CrowdTangle também mostra que, nas duas plataformas, conteúdos contendo "sala secreta" e TSE foram extremamente populares em dois momentos, ao longo dos últimos três meses. O primeiro pico de postagens e interações aconteceu entre 24 e 30 de abril, ao redor da live em que o presidente Jair Bolsonaro disse que os militares também estariam na "sala escura" do TSE para garantir a lisura das eleições de outubro. O segundo pico, ocorrido entre 8 e 11 de maio, foi decorrente da ação do presidente do TSE, o ministro Luiz Edson Fachin, que veio a público para desmentir a falácia presidencial com toda sua força.
Mas não só notícias ruins traz o CrowdTangle.
Houve 109 mil interações de usuários do Facebook e Instagram com os posts feitos entre 24 e 30 de abril, ou seja, no momento de ataque e crítica à lisura do processo de apuração de votos no TSE. O total de interações no momento seguinte, ou seja quando Fachin reagiu, foi maior: 128 mil.
É claro que a análise acima se restringe a duas redes sociais e se atém a um determinado ângulo, mas para quem há anos ouve que a mentira vai mais longe do que a correção, a novidade é boa. Traz indícios de que algo acertado foi feito nesse caso - e isso não é pouca coisa, não.
Mas quem mergulha nos conteúdos que mais viralizaram ao pregar a existência da falaciosa "sala escura" do TSE vê que o desafio ainda é (e continuará sendo) colossal. Um único vídeo, feito por um famoso YouTuber que recolhe doações por pix, atingiu números estranhamente astronômicos nas redes sociais da Meta no dia 27 de abril.
Entre as 19h52 e as 23h58, a gravação foi postada 94 vezes em 73 grupos de Facebook. Isso dá uma média de uma publicação a cada dois minutos, com o pontencial de alcançar centenas de milhares de pessoas. Curiosamente o texto que acompanha a falácia indica que, por trás dela, há (veja só) um grupo de brasileiros "honestos". Vai vendo.
Cristina Tardáguila é diretora sênior de programa do ICFJ e fundadora da Agência Lupa.
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