Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
15 mentiras em 7 horas: como sobreviver às falas dos presidenciáveis
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O Brasil precisa de um exército de checadores. De cidadãos que saibam verificar dados, imagens e vídeos sem depender dos verificadores de dados. Repito essa frase desde 2017, e os eventos dos últimos dias provaram que eu não estava errada. Em cerca de sete horas de fala, apenas dois dos presidenciáveis - Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva - ventilaram ao menos 15 dados falsos, indicando que a campanha que sequer começou oficialmente vai ser cruel com os fatos.
Bolsonaro mentiu ao falar sobre pandemia, vacina, urna eletrônica e auxílio Brasil. Lula, sobre voto feminino, produção de carne, pretos e pardos na USP (Universidade de São Paulo). Não tem sido fácil para os checadores.
E é por isso que decidi listar algumas das ferramentas e bases de dados fundamentais para que você, seus familiares e amigos também possam frente à desinformação. Precisamos de mais "soldados" nesse front. Precisamos de mais checadores.
Bases de dados
A primeira base de dado que você precisa conhecer está no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e se chama Divulgacand. Fácil de navegar, o sistema mostra informações de todos os candidatos registrados, de seus bens e de suas propostas de governo. Há um Divulgacand por ano eleitoral —e todos estão no ar.
A segunda base comumente usada pelos checadores é o Sidra, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É fato que o Censo está atrasado, mas há ali o resultado de levantamentos importantíssimos como a Pnad (Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio) e a inflação oficial -o IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo).
Sugiro fortemente que você experimente a página digitando o que quer encontrar no campo de busca que fica no canto superior direito (perto de uma pequena lupa). Funciona super bem.
A terceira base diz respeito a emprego/desemprego -tópico que já apareceu na fala dos presidenciáveis e que certamente voltará. Falo da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério da Economia. Ali há dados de hoje e informação histórica. Não deixe passar nenhum dado sobre esse assunto sem verificar se ele fica de pé frente aos registros oficiais.
Ferramentas gratuitas
Vêm aí os sites de campanha e é bem fácil acompanhar alterações fetas neles. O Wayback Machine é uma espécie de museu da internet. Há anos captura e guarda o conteúdo que era exposto em determinados links ao longo do tempo. Dá para saber, por exemplo, se e quando um político alterou parte da sua biografia ou uma promessa de campanha.
Se você tem preguiça de checar todo dia o Wayback Machine, dê uma olhada no VisualPing e no Versionista. Os dois mandam alertas no seu email quando houver alteração numa página.
Checar imagens é moleza. Quatro buscadores gratuitos podem ajudar a identificar fotos manipuladas em instantes. O primeiro é o Google Imagens. O segundo é o Bing. O terceiro o Yandex, e o quarto, o TinEye - meu preferido.
A lógica é a mesma em todos: você pode fazer o download ou o printscreen da imagem e enviá-la ao sistema de busca. Também pode usar a URL (link) da imagem. Sugiro fortemente que use as quatro ferramentas sempre que tiver em dúvida. Os algoritmos delas são diferentes e entregam informações complementares. O Bing deixa você dar um zoom e entender parte da foto. O TinEye deixa você saber desde quando imagens semelhantes circulam na web.
Faça alguns testes. Visite as checagens publicadas esta semana e tente refazê-las. É a prática que constrói um checador - e o Brasil precisa de muita gente capaz de separar a mentira da verdade. Avise se tiver dúvidas!
Cristina Tardáguila é diretora sênior do ICFJ e fundadora da Lupa
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