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Ricardo Lewandowski, nomeado por Lula, blinda Lula, antecipando-se aos juízes de primeira instância de Brasília, que reavaliariam provas das propinas da Odebrecht para o Instituto Lula e um apartamento em São Bernardo do Campo, após a chegada dos processos de Curitiba à capital federal.
Kassio Nunes Marques, nomeado por Jair Bolsonaro, adia o julgamento do foro privilegiado retroativo de Flávio Bolsonaro, que recebe até prêmio do governo do pai, assim como Dias Toffoli, que, em 2019, suspendeu a investigação sobre Flávio.
Os bolsonaristas, quando criticam o STF por blindar Lula, omitem que Nunes Marques colaborou para a impunidade do petista ao votar pela retirada da delação de Antônio Palocci de um dos processos e pela validação do julgamento da suspeição de Sergio Moro. Os lulistas, quando criticam o STF por blindar Flávio, omitem que Toffoli também o poupou. E ambas as claques ignoram o acordão com o Supremo, com tudo, pela blindagem geral.
Deputados emplacam no novo código eleitoral uma quarentena para juízes e membros do Ministério Público, que, antes da repercussão negativa, visava a impedir a candidatura do ex-juiz da Lava Jato em Curitiba à presidência da República em 2022 e a manter o sistema protegido contra um potencial outsider, como Bolsonaro fingiu ser para vencer em 2018. Em tese, porém, se não for alterada no Senado, a quarentena só valerá a partir de 2026.
Se Moro, por sua vez, anuncia uma pré-candidatura precocemente, pode, por um lado, turbinar a união da velha política para impedi-la; por outro, escancarar ainda mais uma eventual retaliação. Como a vingança do sistema contra a Lava Jato já está mesmo escancarada (até Eduardo Cunha teve processo enviado de Curitiba para a Justiça Eleitoral do Rio, com votos de Lewandowski e Gilmar Mendes), talvez Moro prefira aguardar em silêncio até um momento mais oportuno de comoção nacional ou maior derretimento de Bolsonaro por razões inflacionárias, evitando os desgastes aos quais se expõem os demais postulantes à terceira via, sem o engajamento de um nicho fanatizado em momento de apatia, crise e rancores cruzados.
Michel Temer, de volta aos holofotes após intermediar o conchavo da suposta pacificação, guarda segredo sobre o conteúdo dos telefonemas entre ele próprio, seu indicado e protetor no STF Alexandre de Moraes e Bolsonaro, sem revelar se o ministro prometeu direta ou indiretamente ao presidente evitar, por ora, a prisão de Carluxo no inquérito das fake news ou qualquer outra contenção de danos à família presidencial e à sua claque de reacionários aloprados. O que se sabe é que Bolsonaro disse não se importar com a reprovação de sua base à carta (nunca se importou com quem não existe sem ele) e que prometeu seguir com o tom moderado.
Para além da alta do preço do dólar, da gasolina e dos alimentos, duas decisões do TSE, a primeira com voto de Moraes, ainda vieram a contribuir para o medo do presidente de esticar a corda em confronto com tribunais superiores: a confirmação de que rachadinha é coisa de ladrão e rende inelegibilidade, como ocorreu no caso de uma ex-vereadora paulista, e a abertura de apuração sobre o financiamento clandestino dos atos bolsonaristas de 7 de setembro, já que ruralistas aloprados foram filmados distribuindo dinheiro para a claque cenográfica dentro de ônibus e a confecção de bonés e roupas também pode configurar campanha eleitoral antecipada.
Já a ala do mercado financeiro e do empresariado que só se importa com uma suposta estabilidade para embalar os negócios em curto prazo, e/ou com os seus tradicionais escambos com qualquer governo, curtiu a amarelada epistolar de Bolsonaro para Moraes e não vê maiores problemas em eventual retorno de Lula ao poder, afinal Lula e Bolsonaro sabem como privilegiar empresas aliadas com verbas e demais vantagens federais, inclusive no mercado da comunicação, em detrimento da concorrência livre e leal na iniciativa privada.
Há vozes dissonantes, contudo, como a dos economistas Edmar Bacha e Armínio Fraga, ex-presidentes do BNDES e do Banco Central, respectivamente. "Eu estou envolvido 100% na busca de uma melhor via, porque eu acho que Bolsonaro é um risco à democracia do Brasil e Lula é um risco à economia", disse Bacha, um dos formuladores do Plano Real. "As últimas declarações que ele, Lula, tem dado mostram que ele não aprendeu nada", completou, citando posições contrárias à austeridade fiscal e à abertura econômica. Fraga foi na mesma linha: "Torço para que ele não ganhe e acho que está na hora de aparecer outra alternativa. E isso seria importante, mesmo que não ganhe, para enriquecer o debate."
Ambos criticam o abandono da agenda liberal pelo governo Bolsonaro e entendem, como repito há anos, que "o PT no poder jogou fora a melhor oportunidade de desenvolvimento que esse país já teve" (Fraga), gastando "o que tinha e o que não tinha, em vez de aumentar a capacidade de crescimento com aquela enorme onda de commodities" (Bacha). Isto sem falar na falta de autocrítica lulista em relação à economia e à corrupção.
A formação de uma terceira via depende justamente da força cognitiva, moral e proativa de pessoas influentes, capazes de superar diferenças e de se unir contra o imediatismo enganoso, o capitalismo de compadrio e a inércia bovina que caracterizam o status quo brasileiro.
Há uma maioria silenciosa à espera de quem lhe desperte a atenção, mas é preciso ter independência e ousadia para incomodar o clube dos contentes e enfrentar as reações, apontando a absoluta falta de transparência da velha política, com o Supremo, com tudo.
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