Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A superação do "nós contra eles"
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"Tenho que aplaudir o Felipe. É triste."
Foi o que escreveu uma lulista em rede social, comentando minha resposta a um general que cobrou elogios às Forças Armadas por não terem aderido ao golpe militar - postura que, como afirmei, é nada mais que a obrigação.
"Gente, o que houve com o Felipe? Me lembrou o passado"; "falando a verdade e nem é 1º de abril".
Foi o que escreveram duas bolsonaristas, comentando minha análise da ofensa de Lula ("pura ignorância", disparou o presidente) contra brasileiros insatisfeitos com os financiamentos que renderam calotes de Cuba e Venezuela no BNDES.
Lulistas e bolsonaristas são iguais em seletividade: endossam as críticas a seus rivais e rejeitam aquelas contra seus políticos de estimação, nem aí se todas são feitas sob os mesmos critérios, como o repúdio à tomada do poder com armas ou do dinheiro do povo com empréstimos de risco para ditaduras.
Com Lula no governo, bolsonaristas que só seguiram nos últimos anos os propagandistas do regime derrotado, aderindo a suas teorias conspiratórias, questionam "qual é a intenção" de alguém (fora da sua bolha) ao apontar o histórico de vícios de um modelo quando o presidente promete repeti-lo. Isto quando não afirmam que o jornalista "enlouqueceu" ou que "agora é tarde", como se ele necessariamente tivesse deixado de alertar sobre Lula porque vigiou Bolsonaro.
Incomodados com o foco no governo Lula, lulistas ressentidos com jornalistas que apontaram esquemas de suborno como mensalão e petrolão, além das fraudes fiscais que levaram ao impeachment de Dilma, agora os rotulam de "bolsonaristas enrustidos" ou "incubados", como se o desgaste do PT fosse fruto não da crise econômica, do uso imoral de recursos públicos e privados, e dos crimes comuns e de responsabilidade do período petista, mas dos mensageiros que os expuseram à sociedade, independentemente de processos jurídicos, políticos e eleitorais.
Comunicadores ou veículos que vigiavam um governo populista e se tornaram propagandistas de outro, ou até do mesmo, por dinheiro, fama, poder ou revanchismo, contribuem para a confusão mental de inocentes úteis. No entanto, concordar com certas análises que fizeram quando eram vigilantes e repudiar a propaganda enganosa e contraditória que passaram a fazer como agentes publicitários e desinformantes é a posição natural para quem não se vende.
O Brasil só vai superar o "nós contra eles" quando a vigilância racional e independente sobre ambos os lados prevalecer, no debate público, ao adesismo histérico e oportunista a cada um.
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