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Felipe Moura Brasil

REPORTAGEM

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O rabo preso de Bolsonaro, segundo Moro

Colunista do UOL

20/01/2022 16h16

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Na entrevista exclusiva ao canal de Youtube deste colunista, Sergio Moro relatou que recebeu de um dos dois ministros militares do governo Bolsonaro, em novembro de 2019, o recado de que o presidente não queria a prisão em segunda instância.

Segundo Moro, os motivos do abandono da pauta anticorrupção, das tentativas de controle das instituições e da busca de proteção com foro privilegiado são os problemas legais de Bolsonaro e sua família surgidos a partir do avanço do caso das rachadinhas, que deixou o presidente vulnerável ao sequestro parlamentar de suas pautas de campanha.

Para o ex-juiz, quem manda atualmente em Bolsonaro é Valdemar da Costa Neto, condenado no mensalão.

Leia os trechos (reunidos neste vídeo à parte):

Bolsonaro contra prisão em segunda instância

"Desde o início, quando entrei no governo, apresentei o projeto de lei anticrime, que tinha a proposta da prisão em segunda instância. Era uma forma de evitar um efeito negativo de uma eventual mudança de entendimento do Supremo sobre o tema, que acabou vindo.

Antes do julgamento pelo Supremo, eu falei na época com o AGU, defendi junto ao AGU que ele mudasse o posicionamento perante o Supremo e passasse a defender a medida. De fato, o ministro fez isso. Visitei ministros do STF antes do julgamento para defender a prisão em segunda instância. Eu colocava o óbvio: não é uma questão relacionada ao Lula. Se a gente não tem um processo judicial que se encerra em prazo razoável, a pessoa rouba à vontade e nada acontece. Isso é claro e cristalino. Não funciona o sistema judicial se a gente não tiver prisão de alguém que foi condenado criminalmente. E aí, sim, você tinha todo um lobby pela impunidade.

Tem um grupo que chamo de clube dos advogados pela impunidade, que eu acho uma coisa assim terrível, não entendo como pode ter um grupo dessa espécie. Eu fui trabalhar por isso. Infelizmente, teve a decisão por 6 votos a 5. Não ataquei o Supremo, mas fui, já no dia seguinte, conversar lá no Congresso como que a gente consegue reverter isso. Sugiram duas iniciativas: no Senado, um projeto de lei; e uma PEC na Câmara. Eu tive reunião, conversei, recebi parlamentar, falei isso.

Eu fui lá a esses eventos e, de fato, um ministro do Poder Executivo do presidente Bolsonaro chegou para mim em determinado dia e esse ministro com origem na área militar me disse: 'Moro, o presidente me pediu para te dar um recado: ele não quer que você se envolva nessa pauta.'

Ou seja: ele não estava nem aí para a prisão em segunda instância. E se alguém acha que eu estou mentindo, recupera lá a história: que o presidente mandou o filho dele apagar um tuíte que havia postado a favor da prisão em segunda instância. O presidente nunca se pronunciou sobre esse tema. Porque ele não está nem aí. Porque ele é contra.

Por que ele faz isso, Felipe? É mais ou menos óbvio: porque ele tem problemas legais e a família dele também. Então ele tem medo de uma Justiça que seja eficiente porque vai afetar os interesses dele. Agora, se a Justiça poupa ele, vai poupar todo mundo. Por isso que eu coloco na conta [dele também]. Sim, o Supremo tem responsabilidade pelo Lula estar concorrendo. Não deveria. Mas também é da liderança do país, que é do Bolsonaro. O Lula só está aí por conta do Bolsonaro."

Centrão manda em Bolsonaro

"Eu não tenho dúvida de que, hoje, quem manda no governo Bolsonaro é o Valdemar da Costa Neto. Quem manda no presidente Bolsonaro é o Valdemar da Costa Neto, que faz essas indicações todas. Ele e talvez ali o Ciro Nogueira. Hoje você tem um governo comandado pelo Centrão. Tem até gente boa dentro desses partidos, mas tem muitos políticos ali fisiológicos. Não tenho nenhuma questão pessoal. Mas veja bem: alguém que foi condenado criminalmente por receber suborno mandando no presidente da República? Eu acho complicado. Então o nosso projeto que rompe a polarização é o único que rompe também com esse modelo do status quo. Por isso que tem tanto ataque."

As rachadinhas e o foro privilegiado

"Precisa, sim, você tem toda a razão, de um presidente, de uma liderança que possa dizer não. Precisa de uma liderança que não tenha comprometimentos legais, o velho rabo-preso. Se você entra numa posição de presidente e já desde o começo você tem problemas legais, você tem uma vulnerabilidade que vai ser explorada pelos seus adversários que vão sequestrar a sua pauta. O que aconteceu com esse governo, infelizmente, em parte é isso.

Desde o início em que surgiram aquelas revelações sobre o caso da rachadinha, envolvendo suspeita em cima do presidente e da família dele, isso gerou uma vulnerabilidade muito grande. Daí essa preocupação em controlar as instituições e se proteger com foro privilegiado.

Até por isso, Felipe, eu acho que uma das primeiras coisas que têm de ser feitas é acabar com o foro privilegiado para todo mundo."

Assista à íntegra da entrevista e inscreva-se no canal.