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Felipe Moura Brasil

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bruno Dantas é o 'Zé Neto' do TCU

Everton Soares/UOL
Imagem: Everton Soares/UOL

Colunista do UOL

06/06/2022 10h35

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O cantor sertanejo Zé Neto, ao criticar a tatuagem de Anitta na "toba", atacou a cantora por suposto uso de dinheiro público pela Lei Rouanet para fazer shows —o que ela nega—, enquanto ele próprio fazia show, em dupla, recebendo da prefeitura de Sorriso, no Mato Grosso, 400 mil reais de cachê em dinheiro público.

O ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União, cobrou do ex-procurador Deltan Dallagnol a restituição de valores pagos em diárias e viagens da Lava Jato —operação que recuperou para os cofres públicos bilhões de reais desviados da Petrobras—, enquanto suas próprias viagens entre janeiro e maio de 2022 custaram R$ 261,4 mil ao TCU, sendo R$ 47,3 mil só pelas diárias e passagens de um "tour" por países da Europa e da Ásia, feito entre 25 de fevereiro e 13 de março, quando Dantas visitou órgãos de fiscalização de Varsóvia, Riad, Viena e Paris.

"Ele é o que mais gastou de todos" os ministros da Corte, tuitou o repórter Tacio Lorran, do Metrópoles, que revelou os dados no domingo, 5 de junho. "Nos últimos cinco meses, viajou com dinheiro público também para Assunção, Montevidéu, Buenos Aires, Cidade do México, Lima, Quito, Délhi, Cairo, Rio de Janeiro e São Paulo."

Dois dias antes, em 3 de junho, já havia caído outra farsa contra a Lava Jato, quando a Justiça Federal suspendeu o processo relatado por Dantas no TCU contra Dallagnol, considerando a medida a única "solução" para "restaurar a Justiça neste caso".

Na decisão, o juiz Augusto César Pansini Gonçalves, substituto na 6.ª Vara Federal de Curitiba, considerou o procedimento "ilegal" e afirmou que o ex-procurador não foi o ordenador de despesas, nem "arquitetou o modelo de pagamento das diárias e passagens dos colegas".

Segundo o magistrado, Dantas fez "especulações" que "não são aparentemente verdadeiras" sobre a participação de Dallagnol e "pareceu prejulgar o caso", mostrando "suposta falta de impessoalidade".

Nomeado por Lula para o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e por Dilma Rousseff para o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e o TCU, Dantas é o mesmo ministro que foi citado na delação do ex-governador Sérgio Cabral, recebeu mordomias do empresário Joesley Batista e compareceu com Renan Calheiros ao jantar inaugural da campanha do próprio Lula para as eleições deste ano.

Desqualificar membros da operação que resultou na prisão do petista e nas condenações de seu braço-direito, José Dirceu, entre outros correligionários e comparsas, é uma parte fundamental da estratégia do petismo para limpar a imagem do pré-candidato, executada não sem apoio dos demais atingidos direta ou indiretamente pela Lava Jato, todos eles também interessados em impedir que Dallagnol e Sergio Moro sejam eleitos.

A incorporação de narrativas políticas por tribunais compostos por apadrinhados serve não apenas para blindagem dos padrinhos, mas para legitimar aos olhos do eleitorado a estratégia partidária, gerando manchetes em telejornais exibidos para todo o Brasil.

Em vez de fiscalizar, por exemplo, o financiamento de shows sertanejos com dinheiro proveniente de emendas parlamentares, como a de seu aliado Renan para o festival de inverno que vai pagar 370 mil reais de cachê a Luan Santana na cidade alagoana de Mar Vermelho, onde falta até esgoto, Dantas torra ainda mais dinheiro público com diárias, passagens, viagens e processos hipócritas contra quem recuperou dinheiro roubado.

O 'Zé Neto' do TCU deveria olhar mais para o próprio umbigo que para a 'toba' alheia.