Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Simone Tebet e Mara Gabrilli conhecem sujeira de Bolsonaro e Lula
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Comentei na Live UOL de terça-feira (02) o evento de lançamento da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) como vice na chapa da candidata à presidência Simone Tebet (MDB-MS), sua colega de Casa Legislativa.
"Enquanto eles dividem o Brasil com ódio, nós vamos unir com amor", disse Simone, em discurso com críticas a Jair Bolsonaro (PL) e a Lula (PT), que tentou boicotar sua candidatura, mobilizando a ala lulista do MDB, de Renan Calheiros e Eunício Oliveira, contra a confirmação da chapa.
"Não serve o presidente que aí está e não serve o presidente do passado. Quis o PT puxar o tapete da nossa candidatura. Eu sei e a história também saberá. Não era pra eu estar aqui, mas eu cheguei, nós chegamos. Nós chegamos contra tudo e contra todos."
Com 2% das intenções de voto, segundo o mais recente levantamento do Datafolha e a pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta, Simone aposta em uma chapa 100% feminina - um diferencial importante, de acordo com pesquisas qualitativas feitas pelo seu partido.
Assim como a senadora emedebista foi incisiva contra Bolsonaro durante as sessões da CPI da Pandemia, ajudando, por exemplo, a desvendar o escândalo da Covaxin que resultou no cancelamento de um gasto exorbitante do governo com empresas suspeitas, Mara Gabrilli fez um papel fundamental contra o PT de Lula na CPI da Petrobras, ao interrogar empresários ligados tanto ao esquema bilionário de corrupção na empresa quanto a desdobramentos do caso Celso Daniel, o prefeito de Santo André assassinado em 18 de janeiro de 2002.
A senadora tucana conheceu de perto o nível de bandidagem envolvendo a gestão petista.
"Eu vivi dentro de casa meu pai sendo extorquido pelo PT com uma arma na cabeça", disse Mara no evento. Luiz Alberto Ângelo Gabrilli Filho era concessionário de empresas de ônibus no ABC Paulista e prestava serviço à prefeitura andreense.
Em 2001, sua outra filha, Rosângela Gabrilli, irmã de Mara, assumiu os negócios da família, passando a comandar a Viação São José e a Expresso Guaraná, após o pai ter sofrido um aneurisma na aorta, que o levaria a passar por um transplante de rim.
Na tarde de 24 de janeiro do ano seguinte, cinco dias depois do assassinato de Celso Daniel, Rosângela procurou o Ministério Público e denunciou a cobrança indevida de um mensalão proporcional à quantidade de ônibus que cada empresário do ramo possuía, à razão de R$ 550 por veículo.
Ela pagava R$ 41,8 mil no dia 30 de cada mês, dando continuidade aos pagamentos feitos pelo pai desde 1997.
Os responsáveis pelo esquema, segundo Rosângela, eram Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, melhor amigo do prefeito petista; Ronan Maria Pinto, sócio de Sombra em três empresas; e Klinger Luiz de Oliveira Sousa, então membro do PT e secretário de Serviços Municipais.
A denúncia foi desqualificada por petistas com a mesma acusação de manobra eleitoreira que repetiriam anos depois nos casos do mensalão e do petrolão, sobretudo após a primeira condenação de Lula em julho de 2017 e sua prisão em abril de 2018. Em outubro de 2002, vale lembrar, Lula disputaria, e venceria pela primeira vez, a eleição para presidente.
Klinger pressionava a empresa dos Gabrilli criando exigências em contratos e até colocando linhas concorrentes no sistema operado pela Expresso Guarará. "Isso aconteceu quando deixamos de fazer o pagamento por dois meses", disse Rosângela à Folha em junho daquele ano. "Se eu deixasse de pagar a quantia estipulada na reunião [de 1997] que comentei, aí sim represálias aconteciam", confirmou seu pai ao jornal no mês seguinte.
"Um dia, fomos convidados pelo sr. Klinger para um encontro em Santos, em uma conferência de transporte. Quando eu e minha filha Rosângela chegamos, esse senhor nos tratou aos berros na frente de pessoas que nem ao menos conhecíamos. Ele dizia em alto e bom tom que não devíamos brincar com ele, que ele não era moleque, e exigiu nossa presença em seu gabinete no dia seguinte."
Mara Gabrilli já afirmou que Klinger "chegava armado" para extorquir sua família.
O ex-secretário chegou a ser preso em 25 de novembro de 2018, um ano após ter sido condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por participação no esquema de corrupção e cobrança de propina de empresas de transporte público, contratadas em Santo André durante a gestão de Celso Daniel, de 1997 a 2002. "E não adianta dizer que o Celso não sabia, porque ele sabia", disse Mara, em 11 de outubro de 2018, em entrevista à rádio onde eu, Felipe, trabalhava na época.
"A minha família avisava e ele acreditava que os fins justificavam os meios. Que, como era dinheiro para a campanha do Lula, não tinha problema nenhum extorquir empresário com arma na cabeça. E, se a gente tivesse dado mais atenção ao assassinato do Celso na época, talvez a gente não tivesse chegado a essa corrupção endêmica e sistêmica. Porque aquilo foi o laboratório e desembarcou no mensalão e no petrolão... Tudo isso, além de ter devastado a minha família, de ter tirado a saúde e a vida do meu pai, devastou a cidade de Santo André e maculou o Brasil."
O prefeito era conivente com o esquema local até o momento em que os envolvidos passaram a enriquecer às custas das propinas extorquidas, e não só a abastecer os caixas do PT, segundo o promotor Francisco Cembranelli, que atuou no caso. "Para aqueles que almejavam o enriquecimento ilícito, Celso Daniel passou a ser um estorvo", disse ele em 2010, na mesma linha das declarações de Bruno Daniel Filho, irmão de Celso, ao programa Roda Viva, em 2012.
Na Lava Jato, ainda veio à tona a alegada compra de silêncio de Ronan Maria Pinto, que, segundo Marcos Valério, operador do mensalão e então réu no âmbito da força-tarefa, chantageava o PT ameaçando contar o que sabia sobre o suposto envolvimento de Lula e dos ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho na teia criminosa ligada à gestão de Celso Daniel.
Valério alegou que desistiu de operar o repasse pedido pelo PT a Ronan, mas o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, confessou que contraiu, em 2004, um empréstimo irregular de R$ 12 milhões do Banco Schahin.
Segundo a Lava Jato, metade desse valor, R$ 6 milhões, foi repassada ao empresário, enquanto a outra metade teria ficado com os responsáveis por campanhas de interesse do partido. Como contrapartida, o Banco Schahin ganhou um contrato superfaturado de R$ 1,6 bilhão para fornecimento de navios-sonda para a Petrobras.
Na CPI da Petrobras, após confrontar um executivo do grupo Schahin e ser interrompida por outro parlamentar, Mara explicou da seguinte maneira, irônica, essa ligação entre o petrolão e o caso Celso Daniel (vídeo aqui):
"Tendo informações sobre quem mandou matar o prefeito, [Ronan] começou a chantagear o ex-presidente Lula, o Gilberto Carvalho e o José Dirceu. Aí, sabe que incomodou o ex-presidente Lula? Porque ele foi lá na Schahin, através do amigo dele Bumlai, e pediu um emprestimozinho para calar a boca do Ronan. Com esse empréstimo, o primeiro de 6 milhões, ele [Ronan] comprou o Diário do Grande ABC, que é um jornal lá de Santo André... O senhor não consegue enxergar a ligação? O senhor gostaria de um powerpoint para enxergar melhor? A contrapartida desse empréstimo irregular resultou em dois contratos bilionários para a Schahin. Esse foi o custo que o contribuinte pagou para calar a boca do chantagista Ronan Maria Pinto... Se ele [Lula] não tivesse envolvimento nenhum [no caso Celso Daniel], ele jamais teria pedido essa ajuda a Schahin."
O futuro mostraria que nem com powerpoint os petistas e suas linhas auxiliares admitem a sujeira do partido.
Na Live UOL, falamos também sobre a declaração de Bolsonaro de que prefere morrer a ser preso; sobre a irritação dele com quem assinou a carta em defesa da democracia; e sobre a União Brasil, que confirmou a candidatura de Sergio Moro ao Senado, pelo Paraná.
Com Madeleine Lacsko, debato os principais assuntos do país diariamente, das 17h às 18h, com transmissão ao vivo nos perfis do UOL no YouTube, no Facebook e no Twitter.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.