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Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Nesse 22 de abril, os brasileiros não têm muito o que celebrar

Colunista do UOL

22/04/2022 10h31

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Efemérides costumam servir para que as pessoas reflitam sobre certos assuntos. Elas suscitam retrospectivas, balanços e análises prospectivas. Com o Brasil, nesse 22 de abril, não é diferente. Na data, que usualmente é utilizada como marco para o controverso "descobrimento do país" pelos portugueses, as notícias não são das mais auspiciosas.

Estamos diante de um momento particularmente sombrio de nossa história, com problemas que envolvem aspectos de curto prazo, ligados à nossa conjuntura, mas também elementos estruturais que não podem ser ignorados e que seguem alimentando o modus operandi de um país profundamente violento e desigual.

No contexto do desenvolvimento tecnológico, da hipercompetitividade e da busca por maior eficiência e produtividade, a combinação de características do Brasil de 2022 é uma receita para o fracasso.

Somos o país que, progressivamente, a longo dos últimos anos, negligenciou todos os pilares que poderiam alavancar nossa própria condição internacional: 1) investimento em educação, ciência e tecnologia; 2) melhoria do ambiente de negócios; 3) gestão macroeconômica; 4) governança e fortalecimento das instituições; e 5) segurança jurídica.

O Brasil de 2022 é o país anda para trás. Os orçamentos para investir em educação e ciência voltaram a níveis dos anos 2000, segundo dados do Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB). É um apagão deliberado da nossa inteligência.

O desenvolvimento econômico e sustentável resvala também na falta de investimento em infraestrutura econômica, em um sistema tributário confuso e ineficiente e na dificuldade em formar e reter mão de obra qualificada e especializada. Dados do IBGE registraram, em 2021, uma debandada record de jovens para o exterior, só para citar um único exemplo.

O Brasil de 2022 é o país das manobras para driblar o equilíbrio fiscal em busca do favorecimento político e eleitoral. Da inflação, do desemprego, do câmbio galopante e da dívida pública mais alta da história. O país do aumento da pobreza e do retorno ao mapa da fome.

A crise de confiança e a falta de transparência são patentes. No atual governo, foram quase 30 trocas de ministros em um único mandato, além de dezenas de denúncias de corrupção e favorecimento, e diversos pedidos de imposição de sigilo sobre casos que sugerem um vasto telhado de vidro para seus líderes.

O Brasil de 2022 é o país da polarização, dos arroubos autoritários, da ameaça às instituições, do negacionismo, do isolamento internacional e da desinformação como política de Estado. É o país em que a falta de previsibilidade e coerência tornam a vida mais instável e a esperança de um futuro bom muito mais difícil.