Fernanda Magnotta

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Opinião

Trump 2.0 vai muito além de narrativas simplistas: o que devemos esperar

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais de 2024 marca não apenas um momento histórico - sendo apenas o segundo presidente norte-americano a conquistar um mandato não consecutivo em mais de 230 anos de história - mas também sinaliza uma profunda reconfiguração do sistema político do país. Essa eleição transcende narrativas simplistas de polarização, revelando dinâmicas mais complexas sobre a dinâmica social e o funcionamento das instituições democráticas dos Estados Unidos.

O triunfo de Trump nos sete estados-chave, conquistando tanto o colégio eleitoral quanto o voto popular, sugere uma expansão significativa de sua base eleitoral, conforme já tratamos aqui em coluna anterior. No entanto, a composição do novo Congresso - com os republicanos mantendo margens estreitas em ambas as casas, ao que tudo indica - pode estabelecer um cenário de governabilidade mais desafiador do que pode parecer à primeira vista. Com 53 cadeiras no Senado e uma maioria mínima na Câmara, o partido terá que navegar habilmente entre ambições transformadoras e limitações institucionais.

Relação internacionais e economia em xeque

A agenda proposta por Trump é ambiciosa. No campo migratório, promete deportações em massa e mudanças radicais na política fronteiriça. Na economia, projeta tarifas sem precedentes sobre produtos estrangeiros e cortes tributários extensivos. A reforma administrativa prevê uma reorganização profunda da máquina federal, incluindo demissões de grande porte e realocação de agências.

Entretanto, a matemática legislativa impõe obstáculos significativos. No Senado, mesmo com 53 cadeiras republicanas, a minoria democrata ainda pode usar o "filibuster" para obstruir legislações controversas. Para superar essa obstrução, são necessários 60 votos - um número que exigirá apoio bipartidário significativo. Algumas medidas poderão passar via "reconciliação orçamentária" com maioria simples, mas este mecanismo é limitado a questões específicas de orçamento.

E o que esperar da nova equipe de Trump?

Olhando para o staff da nova administração Trump, a composição da equipe deve refletir uma mistura calculada de lealdade e experiência. A nomeação de Susie Wiles como primeira mulher chefe de gabinete, Tom Homan como czar da fronteira e Elise Stefanik como embaixadora na ONU sinaliza continuidade com seu primeiro mandato, mas com adaptações estratégicas. A possível inclusão de figuras como Robert F. Kennedy Jr. e Elon Musk sugere uma abordagem não convencional para desafios específicos.

No campo econômico, embora a extensão dos cortes de impostos de Trump seja provável, sua amplitude será limitada pelo contexto fiscal. A independência do Federal Reserve deve ser preservada e, com Jerome Powell permanecendo no cargo até pelo menos maio de 2026, temos um elemento de estabilidade em meio a possíveis turbulências.

Os desafios da agenda trumpista

O sucesso desta segunda administração Trump dependerá crucialmente de sua capacidade de construir pontes com a oposição ou encontrar caminhos alternativos para implementar sua agenda. Enquanto algumas mudanças poderão ser realizadas via ordens executivas - como a reversão de políticas de Biden nas áreas de energia e imigração - transformações mais profundas exigirão negociação com o Congresso.

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O desafio fundamental será conciliar as expectativas de uma base política energizada com os limites impostos pelo sistema de checks and balances. Como a história repetidamente demonstra, a arte de presidir a maior potência do mundo não está apenas em vencer eleições, mas em governar efetivamente dentro dos parâmetros constitucionais estabelecidos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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