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Turnê mostra que em política externa Lula será moderado, mas não modesto
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A semana intensa no campo de política internacional não foi apenas uma coincidência de calendários, mas uma oportunidade para que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixasse claro o peso que deve dar a esse campo em seu próximo mandato.
A mensagem está cristalina: nessa seara, Lula será moderado, mas não modesto. Será moderado no sentido de que: 1) privilegiará uma visão universalista na composição de seu grupo de aliados e parceiros, diversificando o diálogo com o norte e o sul globais, e garantindo boa interlocução tanto com grandes potências quanto com players do mundo em desenvolvimento;
2) buscará amparo multilateral para promover os interesses brasileiros, valendo-se dos valores e princípios que já regem o sistema internacional e da legitimidade das instituições existentes;
3) estará disposto a ouvir atores domésticos com diferentes perfis e trajetórias no processo de formulação de política externa, o que deve contribuir para uma atuação cuidadosa e pragmática, que possivelmente o obrigará a desviar de engajamentos excessivamente controversos e acenos ideológicos polêmicos.
Apesar disso, Lula não será modesto. A prioridade será, como o presidente eleito tem enfatizado costumeiramente, retomar uma agenda ativa para o Brasil. Isso significa que:
1) estará comprometido com o fortalecimento de uma agenda na América do Sul, mas definitivamente não verá o Brasil como um ator regional e sim como um ator com pretensões e interesses globais;
2) deverá buscar protagonismo em múltiplas áreas temáticas, começando por campos de mais óbvio reconhecimento internacional, como meio ambiente, mas não restringindo-se a eles, com vistas também a questões de alta política, como segurança internacional e governança econômica;
3) estará disposto a colidir com as posições de grandes potências quando isso significar a defesa de interesses nacionais, a começar pela relação com os Estados Unidos no que tange à China e Rússia, e também com a União Europeia no que diz respeito ao protecionismo agrícola, por exemplo.
Uma das primeiras lições que aprendemos quando estudamos política internacional é que, no mundo, "não existe vácuo de poder", de tal modo que sempre haverá quem surja para ocupar os espaços deixados disponíveis. A ausência do Brasil dos debates internacionais parece estar chegando ao fim.
Jair Bolsonaro (PL), o presidente em exercício, foi simplesmente esquecido pelos interlocutores internacionais e várias de suas pautas, que representavam posições minoritárias, inclusive, rapidamente serão superadas nas rodas da diplomacia. Lula, mesmo sem ter tomado posse ainda, já está consolidado como um popstar das relações internacionais.
A pergunta que fica, agora, é: passada a lua de mel com o novo presidente, até que ponto o mundo, que agora celebra um líder vocal, estará disposto a acomodar as ambições brasileiras?
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